Enquanto o governo não consegue avançar em um marco regulatório do setor de gás natural e, com isso, destravar este mercado, o volume de gás natural extraído na exploração de petróleo e devolvido aos poços cresceu mês a mês em 2018. Conforme dados divulgados pela ANP, o total de gás injetado saltou 40% entre dezembro de 2017 e igual mês de 2018, alcançando 37,4 milhões de metros cúbicos por dia no fim do ano passado.
Ainda conforme a ANP, a queima de gás em igual período saltou 20%, para 4,646 milhões de m³/dia. Enquanto isso, a produção em dezembro de 2018 na comparação anual avançou apenas 0,27%, para 113,684 milhões de m³/dia.
Os poços de petróleo, sobretudo os do pré-sal, têm uma quantidade grande de gás, mas, sem mercado, a Petrobras tem duas alternativas: queimar, o que é ecologicamente prejudicial, ou injetá-lo de volta – processo que também ajuda na produção de petróleo, ao elevar a pressão e facilitar a saída do óleo.
De acordo com o diretor da Abegás, Marcelo Mendonça, injetar o gás de volta nos poços mina o crescimento de um setor que tem potencial de criar entre 15 mil e 20 mil empregos, além de atrair investimentos da ordem de US$ 32 bilhões.
“A reinjeção de gás significa que você não tem infraestrutura suficiente para escoar esse gás. Isso para o mercado é um cenário muito ruim. O que acontece quando você reinjeta o gás? Fazendo uma comparação, é como se tivesse guardando dinheiro no colchão. Você não sabe se quando tirar ele vai estar mais ou menos valorizado”, explicou Mendonça.
Devolver o gás ao poço favorece a produção de petróleo e tem custos considerados menores. Mendonça destacou, entretanto, que ao adotarem tal prática, os produtores “infelizmente” continuam priorizando a produção do óleo em detrimento do gás. “Existem várias tecnologias para se recuperar petróleo. Você pode reinjetar água ou o próprio CO2”, defendeu.
A modernização do setor de gás é tema do Projeto de Lei 6470/2013, de autoria do deputado Antônio Carlos Mendes Thame (PV/SP). Conforme dados da plataforma online de acompanhamento das tramitações no Legislativo Inteligov, o interesse pela pauta é elevado. Em média, o PL levou 48 dias para realizar uma tramitação na Casa ante uma média de 175 dias para as demais.
O assunto tem ganhado a atenção do governo de Jair Bolsonaro (PSL). Em mensagem do presidente enviada, nesta segunda-feira, ao Congresso Nacional na nova legislatura, Bolsonaro disse que, no setor de gás natural, o objetivo de sua administração é priorizar “a diversificação da oferta, a garantia de transparência e o livre acesso ao segmento de transporte”. Ele apontou ainda que pretende “estabelecer um mercado livre” de gás – a exemplo do que já ocorre na energia elétrica.
O mercado livre e a diversificação da oferta defendidos por Bolsonaro seguem na direção do que pede a Abegás. Segundo Mendonça, o País precisa de mais acesso à infraestrutura, hoje dominada pela Petrobrás. “Por isso que a gente apoia a abertura do mercado através da diversificação do ofertante. É necessário que viabilize o acesso à infraestrutura. Hoje, 20% da produção é feita por outros agentes que não a Petrobras. Mas praticamente 100% da comercialização é feita pela estatal”, disse.
Fonte: IstoÉ Dinheiro / Estadão Conteúdo
Related Posts
Interesse no gás da Argentina faz pedidos na ANP dispararem; veja a lista
As autorizações para importação de gás natural da Argentina dispararam desde 2024. Foram 15 novas autorizações publicadas no período, de um total de 17 vigentes, segundo dados da ANP. Ao todo, 15 empresas...
Portobello migra para o mercado livre de gás natural
A Portobello, empresa de revestimentos cerâmicos de Santa Catarina, concluiu a migração para o mercado livre de gás natural após firmar contrato com a Petrobras. É a primeira empresa catarinense atendida...