Apesar do potencial para produção de gás natural, o Brasil reinjeta mais combustível nos poços do que importa da Bolívia desde 2018. Sem limitação para a prática, um terço do combustível extraído é devolvido aos poços para ampliar a produção de óleo ou pela falta de infraestrutura para escoamento até a costa.
O cenário é incompatível com os planos do governo federal. O objetivo é fomentar a produção de gás natural, sobretudo, das reservas do Pré-sal. A equipe econômica defende que medidas para barateamento do combustível, previstas no programa Novo Mercado de Gás, vão reaquecer a produção da Indústria e, consequentemente, a economia brasileira.
Alinhada ao pensamento do ministro Paulo Guedes (Economia), a ANP estuda se limitará a devolução do combustível aos poços –hoje, não existe uma regra sobre a prática. O estudo em fase inicial, segundo a agência, busca indicar uma estimativa preliminar geral sobre o gás adicional que estaria sendo reinjetado e poderia ser aproveitado.
Na avaliação de Luiz Costamilan, secretário Executivo de Gás Natural no IBP, possíveis condições para limitar a devolução do combustível devem considerar aspectos técnicos e econômicos para cada campo.
“Duvido que a ANP vai limitar a quantidade. Vai avaliar a solução técnica proposta pelo operador, se considera adequada. Os operadores têm dados para justificar os volumes e discutir, tecnicamente”, avaliou.
Segundo Costamilan, a reijenção de gás é a 1ª opção das petroleiras no cenário atual. A prática, explica, impede a queda da pressão no reservatório, o que aumenta a recuperação de líquidos. “O grande objetivo é maximizar a recuperação de petróleo do reservatório, o que reflete no resultado financeiro”.
Segundo dados da agência reguladora, a produção de gás natural no Brasil dobrou. O volume que chega ao mercado, no entanto, não acompanha o ritmo. Segundo estimativa da Abegás, o equivalente a R$ 48,7 milhões são reinjetados diariamente nos poços. Se esse volume fosse disponibilizado no mercado, haveria 1 aumento de 64% na oferta de gás nacional.
Oferta no mercado
O escoamento do combustível até a costa, no entanto, esbarra na falta de infraestrutura. O Brasil tem apenas 9.400 km. de gasodutos. A Argentina, EUA e Europa têm, respectivamente, 16.000 km, 497 mil km e 200 mil km de dutos. Não há, no entanto, uma estratégia no curto e médio prazo para ampliar a malha.
A Abegás estima que para que o volume reinjetado chegue ao mercado é necessário investimento da ordem de US$ 19,5 bilhões. “Precisamos ter novas rotas de escoamentos, unidades de processamento para que esse gás chegue ao mercado”, avalia Marcelo Mendonça, diretor de Estratégia e Mercado da associação.
No Congresso, segue travada a proposta de criação de um fundo para financiar a construção de dutos, o Brasduto. O PL 3.975/2019, já aprovado na Câmara, precisa passar pelo plenário do Senado. O texto determina que parte dos recursos do Fundo Social, hoje destinados para saúde e educação, vá para ampliação da malha de dutos.
Mas, no que depender de Paulo Guedes e de sua equipe, o Brasduto está marcado para morrer. O ministro é contra criação do fundo. Se virar lei, Guedes recomendará o veto. O governo defende que as medidas propostas para abertura do setor, no programa Novo Mercado de Gás, vão estimular esses investimentos pela iniciativa privada.
Mendonça avalia que as ações, como quebra do monopólio da Petrobras, são bem-vindas, mas não acontecem na velocidade esperada. Diz ainda que é necessário pensar em um programa que integre a oferta do gás à demanda do mercado.
Fonte: Poder 360
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