Pioneira no desenvolvimento da rota alcoolquímica no Brasil, a Rhodia trabalha para se tornar a primeira consumidora industrial livre de gás natural do Estado de São Paulo. O plano da empresa, que faz parte do grupo belga Solvay, deve ser entregue nos próximos dias ao governo federal e poderá ser implementado já no primeiro semestre de 2020, com redução esperada de 40% no custo do gás, consumido como matéria-prima e como energia.
“Queremos antecipar as medidas que permitirão a queda do preço do gás [no país]”, conta a presidente do grupo Solvay na América Latina, Daniela Manique. O Valor apurou que a proposta da empresa, que ainda depende da adesão do governo e da Petrobras, é “muito bem vista” pelos grandes consumidores de energia no país, uma vez que acelera o programa federal “Novo Mercado de Gás”, lançado em julho.
Sem entrar em detalhes sobre os potenciais fornecedores do insumo, a executiva afirmou que a Rhodia já recebeu propostas para suprimento a preços competitivos, mas o acesso ainda depende de infraestrutura, hoje concentrada nas mãos da Petrobras. E, embora a estatal tenha firmado um Termo de Compromisso de Cessação (TCC) com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) que, na prática, possibilita a abertura do mercado de gás no país, o prazo acertado, dezembro de 2021, ainda está distante.
O plano que está sendo costurado pela Rhodia equacionaria essa questão, uma vez que daria à empresa acesso à capacidade ociosa na malha de transporte de gás e nas unidades de liquefação e regaseificação. Hoje, o gás natural liquefeito (GNL) é negociado a preços competitivos no mercado internacional e a ociosidade nos terminais de regaseificação da Petrobras chega a 40%. “Num primeiro momento, não há necessidade de investimento. É acesso à infraestrutura da Petrobras que está ociosa”, diz a presidente regional da Solvay.
Segundo Daniela, que participou do encontro de representantes da indústria química com o ministro da Economia, Paulo Guedes, na semana passada, há conversas “embrionárias” com a Petrobras sobre o plano. Os debates também já envolveram a Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paul (Arsesp) e a Comgás, distribuidora de gás natural que atende a empresa.
Atualmente, a maior parte do gás consumido pela Rhodia em Paulínia (SP), o maior complexo industrial da Solvay na América do Sul, vem da Bolívia por meio do Gasbol. Uma das maiores consumidoras de gás do país, a Rhodia conta com produção eficiente e seria capaz de competir em condições de igualdade com seus pares internacionais, ou superá-los, se o custo do gás no mercado brasileiro fosse equacionado, conta a executiva. “O grande gap em relação aos competidores mundiais está aí [no preço do gás]”, afirma.
Maior consumidor de gás entre os segmentos industriais no Brasil e o único que o utiliza como matéria-prima, o setor químico acredita que o programa Novo Mercado de Gás é peça fundamental para atrair novos investimentos e manutenção das operações locais caso a proposta de abertura comercial avance.
Uma das principais fornecedoras de especialidades químicas do mundo, a Solvay prevê encerrar 2019 com receita de € 1,1 bilhão na América do Sul, equivalente a crescimento de 3%. Para 2020 a expectativa é de expansão de 4% das receitas, ajudada pelo início de operação da nova linha de produção do solvente Augeo, obtido a partir da glicerina residual do processo de produção de bioediesel. O grupo concentrou no Brasil a produção dos solventes renováveis.
A Rhodia, que completa 100 anos de história no Brasil em 19 de dezembro, está investindo R$ 20 milhões para se tornar empresa carbono zero em 2025 – o índice de neutralização das emissões de carbono em Paulínia já chegou a 96%, sobretudo por causa da unidade de queima de gás carbônico que elimina anualmente a mesma quantidade de gás emitido por uma frota de 1,2 milhão de veículos (5 milhões de toneladas).
Fonte: Valor Econômico
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