A oferta nacional de gás natural representa hoje cerca 70% da oferta total do energético disponível no país. Mas em termos de competição essa relação muda de sentido, uma vez que o gás nacional é 40% mais caro do que o produto importado da Bolívia pelo Gasbol. Os dados constam do estudo “Perspectivas do Gás Natural no Rio de Janeiro 2019-2020”, que será divulgado hoje pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).
E esse preço mais competitivo não é exclusividade do gás boliviano. O gás natural liquefeito (GNL) importado no Brasil é ainda mais competitivo. A Firjan mostra que, segundo dados de julho, a molécula de gás de contratos de GNL no mercado à vista estava 75% mais em conta que a produção brasileira. Nesse caso, a queda do GNL está intimamente ligada ao desenvolvimento do “shale gas” e à entrada dos Estados Unidos no mercado de exportação de GNL.
Karine Fragoso, gerente de Petróleo, Gás e Naval da Firjan, afirma que a solução para estimular a queda de preço do insumo produzido no Brasil é o desenvolvimento do mercado nacional. “O preço vai ser resultado da maior oferta de gás. Mas essa maior oferta de gás tem que ser uma oferta para construção de riqueza. Não se pode aumentar a produção para enterrar, queimar ou reinjetar riqueza. Esse gás tem que disponibilizar a riqueza para toda a sociedade” afirma.
A produção bruta de gás no Brasil em setembro foi de 118,13 milhões de metros cúbicos por dia, dos quais 40,49 milhões de metros cúbicos/dia foram reinjetados e 4,63 milhões de metros cúbicos/dia foram queimados. Houve ainda 13,9 milhões de metros cúbicos diários consumidos nas plataformas produtoras e 4,08 milhões de metros cúbicos/dia absorvidos em unidades de processamento de gás, as UPGNs. Ao fim, apenas 55,03 milhões de metros cúbicos diários foram efetivamente comercializados.
O estudo da Firjan mostra que só o Estado do Rio de Janeiro, maior produtor nacional de gás, reinjetou em agosto cerca de 35 milhões de metros cúbicos/dia, 12 milhões de metros cúbicos/dia a mais que a média de importação do país neste ano pelo Gasbol.
Karine elogia as recentes medidas tomadas pelo governo para a flexibilização do mercado, como a privatização de parte da rede de gasodutos da Petrobras – venda da NTS para a Brookfield e da TAG para a Engie e para a Caisse de Dépot et Placement du Québec (CDPQ) -, mas alerta que tais iniciativas foram apenas um primeiro passo. “Saímos da inércia”, ressalta.
Fernando Montera, especialista de Petróleo, Gás e Naval da Firjan, acrescenta que essa abertura de mercado é um “processo gradativo” que teve início com algumas ações infralegais via Agência Nacional do Petróleo (ANP), como a transparência de preços e “alguns passos dados numa agenda regulatória”. “São várias ações que estão sendo tomadas em paralelo para construir o mercado de gás, mas não é da noite para o dia”, diz.
Para Montera, o desenvolvimento da demanda é um ponto chave. Tem a âncora da energia elétrica, mas tem que trabalhar para cultivar a diversidade do segmento de consumo. Além da multiplicidade de fornecedores, temos que ter a multiplicidade de consumo para garantir a sustentabilidade do mercado como um todo”.
Fonte: Valor Econômico
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