O repasse da redução de preço dos combustíveis nas refinarias às bombas, que nunca é integral devido à estrutura de custos e impostos, deve ficar ainda mais fraco devido à queda da demanda, que leva os postos a recompor margens de lucro. A avaliação é de Flávio Serrano, economista-chefe do Haitong. “Os preços estavam praticamente alinhados com os internacionais e agora, com esse reajuste, o diferencial foi zerado”, observa Serrano.
Em seus cálculos, considerando dados da ANP, o preço da gasolina ao consumidor diminuiu 11% de dezembro para cá. Dentro do IPCA, considerando a previsão para abril, a redução é praticamente a mesma. Os preços de realização da Petrobras diminuíram 48% em igual comparação.
O álcool anidro, que representa 27,5% da composição da gasolina, também teve queda considerável no período, de 25% nas usinas, acrescenta Serrano. “Obviamente não esperaria uma queda de 48% nas bombas, porque tem toda a parte de impostos e custos com distribuição que mitigam parte desse efeito. Mas, vendo o que já caiu na Petrobras, esperaria uma queda teórica de 28% nas bombas”, disse.
Segundo o economista, a “regra de bolso” indica que cerca de 50% do movimento das refinarias chega aos postos. Outro fator que atenua as mudanças de preços no varejo é o fato de que os comerciantes não replicam os percentuais de reajuste, mas sim seu valor em centavos, acrescenta Serrano. “Quando o preço cai dez centavos na refinaria, é 10%, porque é em cima de um real (o litro). Já nas bombas, é dez centavos em cima de R$ 3,80”, explicou.
Há ainda, uma defasagem normal para que os novos preços nas refinarias sejam incorporados nos postos, de cerca de três a quatro semanas. Isso porque os postos ainda comercializam a gasolina que não foi vendida com o preço anterior antes de repassar as cotações novas às bombas, diz Serrano.
Como as medidas de isolamento social estão derrubando a demanda, a tendência é que essa defasagem aumente, e que a queda nas refinarias chegue ao consumidor com intensidade ainda mais fraca do que o padrão.
“A demanda implodiu. Os postos estão recebendo a gasolina nova e percebendo que o movimento caiu, então eles podem aumentar a margem para mitigar parte do efeito da queda nas refinarias.”
Mesmo assim, os combustíveis terão efeito deflacionário no IPCA, tanto no curto prazo quanto em 2020, pondera Serrano. Em suas estimativas, o indicador terá deflação de 0,10% a 0,15% em abril, e de 0,10% em maio.
Esta última estimativa tem viés de baixa. Na média do ano, o combustível, que representa 4,7% do índice oficial de inflação, deve diminuir entre 5% e 10%.
A intensidade da queda depende da trajetória dos preços do barril de petróleo, que, para o economista, devem ter recuperação parcial até o fim do ano. “Não dá para esperar que o barril volte para US$ 50, mas acima de US$ 40 é factível. Não teremos uma queda de preço permanente, as condições de oferta e demanda vão se ajustando”.
Fonte: Valor Online
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