Um dia após o contrato futuro de petróleo West Texas Intermediate (WTI) com vencimento em maio — a referência americana para os preços da commodity — ter colapsado e encerrado o dia no negativo pela primeira vez na história, a queda se estendeu nesta terça-feira (21) para os contratos com entrega em junho, que são os mais negociados.
Os contratos mais ativos do WTI terminaram o dia em queda de 43,36%, negociados a US$ 11,74 o barril, nas mínimas desde 1999. Já os contratos para maio, que na segunda (20) fecharam o dia cotados a US$ -37,63 o barril, se recuperaram e fecharam o dia no positivo, a US$ 10,01. Os contratos para junho da referência global da commodity, o Brent, terminaram o dia negociados a US$ 19,33 o barril, em queda de 24,40%, na ICE, em Londres. Foi a primeira vez que o Brent encerrou uma sessão abaixo dos US$ 20 desde 2002.
O colapso nos preços no mercado de petróleo reflete, por um lado, a escassez de demanda provocada pela paralisação global da economia, produto da tentativa de conter a propagação da pandemia do novo coronavírus. Por outro, o excesso de oferta tem provocado um esgotamento rápido na capacidade de armazenagem de barris de petróleo nos Estados Unidos.
“Quando o petróleo se transforma em um ativo de rendimento negativo, é um sinal de que o desequilíbrio entre oferta e demanda atingiu um pico tão grande que os produtores estão pagando para tirar o petróleo de seus livros”, disse Marios Hadjikyriacos, analista de investimentos da XM, em uma nota de pesquisa diária.
A volatilidade elevada no mercado deve continuar até que a atividade global e o consumo de petróleo tenham uma recuperação parcial, segundo analistas. Preços negativos para os contratos mais próximos, de acordo com eles, podem voltar a ocorrer.
“Há uma chance muito boa de que isso aconteça novamente com o contrato de junho”, diz Bob Yawger, diretor da divisão de futuros da Mizuho. “O problema é choque duplo, sem demanda e muita oferta. Nunca na história vimos os dois lados do mercado tão alinhados até agora em favor da queda nos preços do petróleo”, afirmou à Dow Jones Newswires.
O declínio épico nos preços ocorre mesmo depois que um grupo de grandes produtores, que inclui a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e seus aliados, capitaneados pela Rússia (grupo conhecido pela sigla Opep+) terem acertado um acordo histórico para reduzir a produção diária em cerca de 10 milhões de barris em maio e junho na semana passada.
O pacto pretendia acabar com uma guerra de preços entre a Arábia Saudita, líder de fato do cartel internacional e da Rússia, que ganhou força no momento de colapso da demanda devido à pandemia do novo coronavírus.
“A mistura de dois cisnes negros, ou seja, a trágica disseminação do coronavírus e a falta de acordo entre a Opep +, foi o gatilho desse dramático colapso”, escreveu Carlo Alberto De Casa, analista-chefe da ActivTrades em um relatório de pesquisa desta terça-feira.
Analistas estimam que o acordo da Opep+, que também incluía acertos para reduzir a produção diária de não-membros, como a Noruega e os EUA, não era suficiente para absorver o excesso de petróleo e compensar o choque à demanda exercida pelo vírus.
“O acordo simplesmente não foi suficiente, com analistas estimando uma queda no lado da demanda de cerca de 30 milhões de barris por dia – três vezes o corte acertado pela Opep+”, escreveu De Casa.
O estágio de desequilíbrio do mercado de energia incentivou os produtores a armazenar petróleo na esperança de que os preços venham a se recuperar, mas o excesso de estoques tem agravado a desvalorização.
Em uma nota divulgada na terça-feira, Jim Burkhard, vice-presidente e diretor de mercados de petróleo da IHS Markit, disse que “a situação de emergência – especialmente a falta de locais para armazenar petróleo – permanecerá até as ordens de ficar em casa [para conter a disseminação da covid-19] sejam flexibilizadas e que cortes e produção diminuam o severo excedente de suprimento de petróleo”.
“Cortes na produção e desligamentos podem remover até 17 milhões de barris por dia de suprimento do mercado nesta primavera [no Hemisfério Norte]”, disse ele.
Ontem, falando durante um briefing diário sobre a resposta dos EUA à pandemia, o presidente Donald Trump disse que os EUA estão “procurando” comprar até 75 milhões de barris de petróleo para a Reserva Estratégica de Petróleo.
Fonte: Valor Online
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