As distribuidoras de gás natural do país preveem forte impacto da crise causada pela pandemia de covid-19 no setor durante o segundo trimestre. Dados preliminares indicam queda de 35% a 40% no gás consumido pela indústria e de 60% pelo comércio nos meses de abril e maio, em relação a igual período de 2019.
O mercado de GNV também está experimentando um recuo da ordem de 40%, na mesma comparação, em linha com a redução das vendas dos combustíveis líquidos.
“Com as medidas de isolamento se intensificando, já vemos isso em alguns Estados, a tendência é que esses volumes caiam ainda mais”, disse o diretor de Estratégia e Mercado da Abegás, Marcelo Mendonça. “Abril, maio e junho serão impactados pelo efeito coronavírus”.
Os dados oficiais relativos ao primeiro trimestre, informados com exclusividade ao Valor, ainda não demonstram o efeito completo da crise. O consumo de gás natural no período foi de 62,9 milhões de metros cúbicos diários, com crescimento de 2,82% em relação aos primeiros três meses de 2019.
Parte do crescimento, porém, deve-se a uma base de comparação mais fraca com relação ao setor termelétrico no primeiro trimestre de 2019, o que motivou um aumento de 23,62%, na mesma comparação, apenas nessa categoria.
No entanto, se observados separadamente, os dados de março já indicam a dimensão do problema. O consumo de gás natural foi de 49,5 milhões de metros cúbicos diários, com queda de 14,28% ante igual mês de 2019 e de 20,7% na comparação com fevereiro deste ano.
As empresas já observam queda da receita e aumento da inadimplência de clientes. A Abegás, porém, ainda não tem números consolidados sobre esses dois fatores. “O primeiro impacto foi a redução do volume [consumido]. Estamos receosos de aumentar a inadimplência no setor”, disse Mendonça.
Ele destaca que o mercado de distribuição de gás natural tem perfil semelhante ao das distribuidoras de energia elétrica, por ser considerado o arrecadador de recursos para a cadeia.
Segundo o executivo, de todo o montante arrecadado pelas distribuidoras, apenas 17% ficam com elas, para remunerar sua atividade. O restante é repassado para a cadeia e para o pagamento de impostos.
Por esse motivo, o aumento da inadimplência é considerado preocupante pelo executivo, que entende ser necessário haver uma solução para o mercado de gás semelhante ao que está sendo viabilizado para o setor elétrico.
Nessa linha, a Abegás já teve conversas com representantes do governo federal e do BNDES. Até o momento, porém, não há sinal de alguma medida de apoio ao setor.
O único benefício concedido às distribuidoras até o momento foi a decisão da Petrobras de suspender penalidades nos contratos com as empresas. As companhias já acionaram o dispositivo contratual de caso fortuito e de força maior nos contratos com a petroleira.
A maior preocupação do setor, explicou Mendonça, é um agravamento ainda maior da crise, que impeça as distribuidoras de cumprir seus compromissos e desmontar a cadeia. Ele, no entanto, afirmou que ainda não é possível identificar desequilíbrio econômico-financeiro das concessionárias.
Questionado sobre a perspectiva para o mercado de geração termelétrica nos próximos meses, quando geralmente há um maior consumo de gás para o acionamento das usinas, devido ao período de escassez de chuvas, Mendonça respondeu que ainda não é possível prever esse movimento.
“O despacho [das térmicas] vai depender muito de como vai ser a recuperação da economia e da demanda”, afirmou.
Fonte: Valor Econômico
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