O Brasil reinjetou 13,3 bilhões de m³ (metros cúbicos) de gás natural até agosto deste ano. O volume corresponde a 42,6% do gás produzido no país. O percentual é o maior na comparação com os anos anteriores desde 2020.
Em volume, a parte reinjetada só não supera o total do ano passado, quando 15,8 bilhões de m³ tiveram esse destino. Os dados são da ANP e foram atualizados até 4 de setembro.
Considerando o acumulado até agosto, houve ainda as seguintes destinações: 11,6% foi para consumo próprio durante a produção, 2,8% foi queimado ou para perdas. Os 43% restantes são enviados às UPGNs (Unidades de Processamento de Gás Natural) onde o gás é processado. Lá, são separadas as frações líquidas do gás natural, e especificado o gás natural que é vendido para as distribuidoras.
Por que se reinjeta
De acordo com diretor de estratégia e mercado da Abegás, Marcelo Mendonça, a reinjeção é uma decisão técnico-comercial. “Sempre tem uma parcela que é técnica, se você precisa reinjetar o gás para aumentar a pressão do reservatório para elevar o petróleo”, explica.
Para ele, porém, a escolha tem sido “muito mais comercial do que técnica”. “Você acaba tomando essa decisão porque não existe um sinal econômico para que haja um investimento para fazer a estrutura de escoamento para trazer o gás até a costa”, afirma.
O envio do gás é, normalmente, feito por gasodutos das unidades produtoras até as UPGNs e, daí para o mercado. O Brasil tem hoje 9.400 km de gasodutos. A Argentina, EUA e Europa têm, respectivamente, 16.000 km, 497 mil km e 200 mil km de dutos.
Este fator, unido aos baixos preços do insumo no mercado internacional, faz com que país venha optando por importar o GNL (gás natural liquefeito) ainda que tenha grandes reservas.
Já o professor de economia da UFRJ, Edmar Almeida, lembra que a decisão pela reinjeção faz parte do plano de desenvolvimento do campo a ser explorado, que passa pela aprovação da ANP. “Quem reinjetou o gás, não reinjetou para jogar fora. Está ganhando mais óleo para isso. A ANP fiscaliza e tem que garantir que isso está acontecendo“, diz.
Para ele, a possibilidade de que empresas atuem especificamente no transporte, tirando esse risco do produtor –como é hoje no Brasil– poderia impulsionar a ampliação da rede no país. Cita como exemplos o Reino Unido, que adota este modelo, e a Noruega, onde a empresa que atua nesta etapa é estatal.
“O produtor não pode fazer toda a estratégia de desenvolvimento do óleo pensando no gás”, diz. Ele pondera que em grandes campos de pré-sal, como o Tupi –antigo Lula– há 80% de petróleo e 20% de gás, fazendo com que o 1º seja privilegiado.
Aposta na Lei do Gás
Para incentivar o mercado nacional e baratear o gás, o governo Bolsonaro aposta no projeto de lei 4.476 de 2020, que muda as regras para o mercado de gás natural no país.
A proposta facilita a participação da iniciativa privada neste mercado por meio de mudanças na forma de contratação, obrigando o compartilhamento de estruturas existentes com terceiros mediante pagamento, autorizando grandes consumidores a construírem seus próprios dutos e dificultando a atuação dos mesmos agentes em diferentes etapas do processo de produção. Leia mais sobre o projeto aqui.
Parte do setor, porém, afirma que, sem incentivo por meio da demanda, os altos preços para implantação dos gasodutos e o mercado internacional impedirão que o efeito esperado pelo governo (R$ 630 bilhões em investimentos, geração de 4,3 milhões de empregos e barateamento do gás) sejam efetivados por meio desta legislação.
O texto foi aprovado em 1º de setembro na Câmara e aguarda a análise dos senadores. O senador Eduardo Braga (MDB-AM) é cotado para a relatoria na Casa e afirmou ao Poder360 que estuda-se fazer mudanças via decreto para não mexer no texto avalizado pelos deputados. Isso porque, se o Senado mudar o texto, este precisará ser votado novamente pelos deputados.
Outra ideia discutida no Congresso Nacional foi a criação do Brasduto (Fundo de Expansão dos Gasodutos de Transporte e de Escoamento da Produção). A iniciativa buscava destinar 20% da renda do pré-sal para o fundo de construção dos gasodutos e havia sido incluída no projeto de lei 209 de 2015, que trata do risco hidrológico na produção de energia. O presidente Jair Bolsonaro, no entanto, vetou o trecho.
Fonte: Poder 360
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