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Daniela Infante Borges: Presidente do Conselho Fiscal da Abegás e Controller da Gasmig

Ser eleita presidente do Conselho Fiscal de uma associação como a Abegás tem um grande significado pessoal e, acredito, também para as mulheres que atuam no setor de gás natural.

Com essa nomeação, a Abegás demonstra que está alinhada com os princípios do desenvolvimento sustentável propostos pela ONU quando permite a igualdade dos gêneros em um conselho e quando dá espaço para que mais profissionais venham para o debate de estratégias e fiscalização de atividades realizadas, em sua maioria, por homens. E, não menos importante, na busca pela transparência, pelo equilíbrio e pela excelência de suas atividades.

Além da responsabilidade inerente ao cargo, assumir essa posição demonstra que nós, mulheres, somos capazes de administrar vários papéis na sociedade, não só os tradicionais, de mãe e mulher trabalhadora, mas de profissionais reconhecidas e respeitadas, nacionalmente, que podem contribuir e liderar debates importantes, independente do mercado no qual estamos inseridas.

A presidência, por fim, é mais um reconhecimento a uma trajetória que começou com a minha aprovação no primeiro concurso público da Gasmig, em 2005, quando fiquei em primeiro lugar entre os trainees de ciências contábeis, o que me permitiu escolher a vaga na Gerência de Controladoria. Lembro que minha efetivação no cargo de analista era condicionada à aprovação de um projeto. Escolhi o tema Controle Patrimonial, vislumbrando a importância da gestão de ativos para uma empresa distribuidora de gás, mesmo sem conhecer a regulação ou os impactos que, hoje, enfrentamos. O curso técnico em Edificações no Cefet-MG, me dava uma certa vantagem, pois a comunicação com as áreas técnicas, engenheiros, em sua maioria, era mais fácil para mim. O projeto durou um ano, foi um sucesso, e fui efetivada.

Na Gasmig, ao longo de 15 anos, enfrentei muitos desafios e tive a sorte de contar com bons professores, pessoas que, aos poucos, foram reconhecendo a minha competência e dedicação. Fui conquistando o meu espaço e a confiança das equipes.

Como a Gasmig era composta por profissionais de carreira do acionista controlador, com os quais também aprendi muito, o tempo foi um fator importante para que eu ocupasse mais espaço nos debates. Eu me especializei em negócios, em gerenciamento de projetos, em normas internacionais de contabilidade, com foco em distribuição de gás, em tecnologia, em riscos, enfim, busquei o conhecimento como forma de validar o que percebia na prática.

As minhas colegas de Gasmig que trilharam caminhos parecidos, e hoje são gerentes reconhecidas e fonte de inspiração para outras colegas. Tenho muito orgulho de fazer parte de uma geração que percebeu a mudança e soube aproveitar a oportunidade para ocupar esse espaço, sem deixar de lado a luta pela igualdade e pela diversidade.

É claro que ainda há desafios para que as mulheres tenham mais oportunidades. São desafios que permeiam a nossa sociedade, como a visão de que as mulheres supostamente precisem se dedicar mais à família do que os homens ou de que tenham menos estabilidade emocional ou, ainda, de que uma mulher em idade fértil supostamente coloque em risco a produtividade da empresa, como se a dedicação à saúde e à família fossem diferentes para cada gênero. Essa visão, que deveria ser ultrapassada ainda é uma realidade no Brasil.

Algumas empresas, especialmente as relacionadas à construção civil e à energia, ainda permitem práticas de interrupção da fala de mulheres, permitem a apropriação de ideias de mulheres por homens que se posicionam de maneira autoritária, práticas de ironizar um comentário feminino, como se não tivesse valor técnico.

O mercado de capitais já sinaliza uma mudança importante ao restringir acesso ao crédito para empresas que não cumpram requisitos mínimos de sustentabilidade, de igualdade de gênero em posições de liderança, de transparência de processos e de gestão.

Mas certamente temos um caminho longo até o futuro, onde questões de preconceito de gênero, raça, religião, entre outros, sejam superados e retirados da nossa sociedade, não apenas por motivações financeiras ou institucionais, que aparecem em relatórios anuais, mas pela essência de uma evolução da humanidade.

Entendo que a pluralidade, por si só, já represente um benefício para qualquer ambiente. Os pensamentos são complementares. Precisamos de pessoas que tenham visões diferentes do mundo para que o produto final seja completo e, não apenas, facetas de uma realidade enviesada.

As mulheres, em geral, são mais cuidadosas aos detalhes e pensam nas consequências no longo prazo. Há vários estudos que apontam resultados melhores em empresas lideradas por mulheres. Eu percebo que isso é verdade e atribuo ao senso de pertencimento, ao senso de complementariedade, de participação que é gerado por essas mulheres, que buscam espaço por meio da agregação e não da separação.

Elas também buscam formar equipes que se apoiam, sustentadas em princípios como confiança e parceria, respeitando a individualidade, alinhando valores pessoais aos valores corporativos. Os resultados são consequência de ações coordenadas, consistentes, respeitosas e engajadas. Se não houver paixão, se não houver motivação e envolvimento real de todos, com uma boa liderança, os resultados não se materializam.

Posso dizer, com segurança, que houve uma evolução no relacionamento profissional e na maneira que o trabalho das mulheres é visto, um reflexo do que é percebido no Brasil e no mundo.

Temos que cuidar da bagagem que carregamos na vida e o conhecimento é uma das mais importantes, porque o conhecimento não pesa, na verdade, ele alivia a jornada. Homens ou mulheres, com discursos bem fundamentados e com respeito aos demais, sempre vão se destacar.

*Daniela Infante Borges é formada em Ciências Contábeis pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). É especialista em Gestão com Ênfase em Negócios pela Fundação Dom Cabral e tem MBA em Gerenciamento de Projetos pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Na Gasmig, é responsável pelas equipes de contabilidade, tributário, orçamento, gestão de ativos (controle patrimonial) e informações financeiras para RI. É coordenadora do Comitê de Investimentos e membro do Comitê de Ética. Coordena o projeto de Convergência das Demonstrações Financeiras da Gasmig ao padrão internacional, IFRS; e coordenadora do Comitê de Práticas Contábeis da Abegás. É, ainda, membro do GT de Concessões de Conselho Federal de Contabilidade.

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