A pior crise hídrica do Brasil em quase um século tem impulsionado a demanda do país por gás natural liquefeito.
Com a menor geração de energia hidrelétrica, o país tem recorrido às usinas termelétricas, em parte dependentes do combustível importado. Os desembarques de GNL dos Estados Unidos bateram recorde neste ano, e a Petrobras está buscando mais quatro carregamentos da commodity no mercado à vista.
A baixa dos reservatórios acontece em meio ao declínio da produção de gás da Bolívia, o maior fornecedor do Brasil. A estiagem também afeta outros países da América do Sul. O Chile está no mercado em busca de GNL, e operadores especulam que a Argentina pode ser a próxima.
“A América do Sul está ficando sem energia hidrelétrica por causa do clima seco, e não ficaria surpreso se compradores de toda a região estiverem comprando mais GNL”, disse Henning Gloystein, diretor global de energia e recursos naturais da consultoria Eurasia Group. “Além do Sudeste Asiático e da Índia, a América do Sul é uma área em crescimento para a demanda por gás”.
As usinas hidrelétricas respondem por cerca de 70% da energia produzida no Brasil. Com a falta de chuvas, o país já importou 34 carregamentos de GNL dos EUA nos últimos seis meses, segundo dados compilados pela Bloomberg. Como comparação, 17 cargas foram enviadas para o Chile e apenas quatro para o México, durante muito tempo o principal cliente dos americanos no hemisfério ocidental. As importações brasileiras se aproximam dos níveis tipicamente vistos apenas por clientes da Ásia e da Europa.
Há mais por vir. A Petrobras busca dois carregamentos para julho e mais dois para agosto, de acordo com tradings a par da licitação. A GNL Chile também quer comprar uma carga para meados de julho, enquanto a Argentina, com a chegada do inverno, pode em breve lançar uma terceira licitação para comprar o combustível nesta temporada, disseram operadores.
Dependente do clima
Resta saber por quanto tempo o aumento da demanda vai durar. As chuvas podem retornar e reabastecer os reservatórios, disse Ross Wyeno, analista de GNL da S&P Global Platts.
Os reservatórios hidrelétricos do Brasil estavam cerca de 45% cheios em uma base média ponderada, em comparação com a média de cinco anos de cerca de 53%, segundo dados do ONS.
“Embora o Brasil tenha importado muito GNL dos EUA este ano, não é um comprador consistente, já que sua demanda é em grande parte impulsionada pela produção de energia hidrelétrica”, disse Wyeno.
O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, tem uma visão diferente. Segundo ele, o país continuará sendo um grande mercado para o GNL nos próximos anos, principalmente devido ao papel fundamental do combustível na transição energética.
A participação da energia hidrelétrica na matriz energética do Brasil deve cair para 49% até o fim da década em relação a 70% agora, segundo o Ministério de Energia. O gás natural pode aumentar sua fatia no mercado dos atuais 6% para 15%.
De olho no potencial do mercado brasileiro, a New Fortress Energy adquiriu no começo do ano uma série de ativos de gás no país que pertenciam a uma parceria entre a Golar LNG e a Stonepeak, em uma transação avaliada em US$ 3,1 bilhões.
“O gás terá uma expansão natural nos próximos 10 anos”, disse Albuquerque. “O mercado brasileiro é competitivo porque tem grande demanda. Há oportunidades para todos”.
Fonte: Valor Online / Bloomberg