A participação do gás natural na transição energética brasileira, e o nível de protagonismo que as termelétricas poderão vir a ter na oferta de eletricidade do país é ainda fonte de muitas incertezas que precisam ser resolvidas. Preços elevados, logo pouco competitivos ante as demais alternativas de geração; falta de definição em relação a modelo regulatório sobre custos e de infraestrutura de distribuição de gás; e ausência de condições para que os detentores de reserva possam competir no mercado, gerenciando seus riscos foram alguns dos fatores, citados por especialistas, que dificultaram a consolidação do gás no Brasil como fonte relevante de energia elétrica.
Seu papel secundário na matriz nacional não combina com seu potencial e com suas reservas no país. O debate ocorreu nesta sexta-feira (15), no último dia do Enase 2021 (15/10) em painel que reuniu Rivaldo Moreira Neto, presidente da Gas Energy; Marcos Ganut, sócio da Alvarez & Marçal; Walfrido Ávila, presidente da Tradener, Alessandro Gardemann, presidente da Abiogas; Bernardo Sicsú, diretor de Eletricidade e Gás da Abraceel.
Uma das constatações, trazida por Rivaldo, foi a de que a crise hídrica e de preços, e sua correlata necessidade de gerenciamento de custos, deverá levar à diversificação. “Terei que contratar capacidades diferentes para garantir que a transição aconteça e que os custos não saiam do controle. O caminho é permitir que as várias fontes consigam apresentar suas melhores de preços e contratos”, disse. No momento, entretanto, a transição forçada só trouxe maiores custos para os consumidores, o que está longe do cenário ideal, que é o de assegurar ao gás maior competitividade, na avaliação do executivo.
“O planejamento deveria por começar a escolher caminhos para não sermos pegos a reboque por mais uma crise. Talvez tenhamos que assumir mais riscos em termos de planejamento para ter matriz mais diversa, que entregue um custo que a sociedade consiga pagar”, resumiu.
Diferentemente do que ocorreu com outras fontes, o país não desenvolveu seu mercado de gás natural, segundo Rivaldo, já que as reservas já descobertas não foram, em grande parte, monetizadas. Logo, acrescenta, será preciso equacionar a falta de capacidade de gerar contratos, indo ao encontro do que o investidor busca.
Walfrido, da Tradener, enfatizou que o modelo hidrotérmico brasileiro deveria ser utilizado em toda sua dimensão. “Se temos base térmica, é para ser usada. Os reservatórios são uma grande bateria. Temos que saber usar”, disse. Bernardo Sicsú observou que o modelo atual está distorcido e com muitas ineficiências e, portanto, precisa ser reformulado; as termelétricas devem vir a mercado com maior competitividade, dado seu potencial.
A questão foi consensual. Marcos Ganut concordou que o nível da oferta de gás natural, incluindo as termelétricas, está muito aquém do que deveria ser, uma vez que o volume reinjetado nos poços de petróleo equivale a três vezes a demanda atual do país. Logo, considerou, esperava-se ver iniciativa de trazer o gás para o continente, utilizando-o em diversas formas e as térmicas seriam o caminho natural.
“Nos mercados mais evoluídos temos os fundos de private equitiy investindo em dutos e malhas de transportes e viabilizando que o desenvolvimento aconteça. No Brasil, não conseguimos enxergar esse mercado”, disse Ganut. Para isso, é preciso ter segurança e garantias em relação a questões regulatórias, tributárias e de demanda.
A urgência por descarbonização trouxe para o debate a produção de biogás e do hidrogênio verde. “Se o gás é energia da transição, o biogás é o destino”, disse Alessandro Gardemann, enfatizando que se trata de combustível competitivo. Isso, completou, não apenas em função de seus atributos associados ao gás, mas também por atender a demanda global pela redução de emissões de gases de efeito estufa, por ser combustível carbono neutro.
Fonte: EnergiaHoje
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