Um novo mercado de certificados de energia renovável acaba de nascer. Trata-se da primeira comercialização de gás natural renovável do Brasil, os chamados GAS-REC, feita pela Adecoagro, empresa de alimentos e energia renovável, para a Metso Outotec.
Em dezembro de 2021, a Adecoagro recebeu a autorização do Instituto Totum para a venda dos certificados, mas faltava ainda encontrar um comprador. É aqui que a Metso entra. Com metas globais de descarbonização de suas operações, a companhia fez a aquisição de 25 mil certificados de GAS-REC para as operações do Brasil.
A lógica é parecida à dos I-RECs, que asseguram que cada megawatt-hora gerado é proveniente de uma fonte de energia renovável. No caso do GAS-REC, a fonte é o biogás produzido a partir da vinhaça concentrada, um subproduto do etanol. O certificado garante o rastreamento do energético gerado e distribuído em usinas pelo país, chegando até o ponto de consumo.
A unidade de biogás da Adecoagro, instalada na usina Ivinhema no Mato Grosso do Sul em parceria com a Methanum, é a única do Brasil a ser certificada pelo Instituto Totum no Programa de Certificação de Gás Natural Renovável.
Em entrevista ao Valor, os executivos da Adecoagro, da Metso e do Instituto Totum acreditam que esta primeira negociação abre caminho para um novo mercado nacional, tanto para empresas que querem vender os certificados quanto para aquelas que querem reduzir suas pegadas de carbono e avançar nas metas de sustentabilidade.
“Tivemos a oportunidade de vender o GAS-REC da produção de biogás desta primeira fase do projeto e, conforme o projeto de biogás e biometano for crescendo, o potencial de venda vai aumentar”, disse o vice-presidente de Açúcar, Etanol e Energia da Adecoagro no Brasil, Renato Junqueira Santos Pereira.
A produção de biogás da companhia é feita com 5% da vinhaça e segue em linha com as medidas do governo para incentivo à produção de biometano (combustível renovável obtido pela purificação do biogás e que pode substituir o gás natural e o diesel) e com os compromissos firmados na COP26 para redução de metano.
A empresa fez a substituição do diesel de 13 veículos da frota para utilizarem biometano a partir de meados de 2022. Apesar de a escala ainda ser pequena, se o negócio vingar, a empresa tem condições de aumentar a produção.
“Este é um negócio que acreditamos que vai crescer 20 ou 30 vezes. Vamos substituir o consumo de 1,5 milhão de litros de diesel por ano, mas quando o projeto estiver na plenitude vamos substituir cerca de 50 milhões de diesel por ano”, prevê Pereira.
O custo de cada certificado foi de R$ 1,80. Segundo a empresa, existem outros interessados para negociar os certificados que serão gerados durante esta safra. Por enquanto a Metso é o primeiro cliente e com intenções de ampliar as compras. O diretor de Meio Ambiente da Metso Outotec Finland, Felipe Maldonado Antunes, diz que as emissões residuais de CO2 da companhia são provenientes do gás natural e GLP, visto que, em eletricidade, a empresa já utiliza I-REC.
“Temos a intenção de atingir o ‘Net zero’ até 2030 e para isso precisávamos buscar novas soluções no mercado para que isso se torne possível. Para as plantas de Sorocaba (SP), na unidade de fundição, vamos conseguir reduzir em torno de 10% das nossas emissões residuais de CO2, e na planta da fábrica de borracha o impacto é em torno de 60% de redução”, calcula Antunes.
As operações do Brasil serão as primeiras da multinacional, que estuda a possibilidade de ampliar a aquisição de GAS-REC para as demais unidades para outras plantas da Europa. Para empresas consumidoras de gás, com a Metso, a busca de certificados de origem que atestem sua contribuição para a produção de biocombustíveis deve crescer.
O diretor do Instituto Totum, Fernando Lopes, conta que o mercado de gás natural renovável já existe nos EUA e Europa, mas no Brasil dá seus primeiros passos. Segundo ele, o programa realiza o sistema de rastreamento por meio de entradas e saídas, e assegura que não existe dupla-contagem (nem duplo beneficiário) do atributo ambiental do biogás ou biometano.
“Como órgão emissor local, nossa atribuição é constatar que a planta de biogás existe e que o gás de fato foi gerado e destinado de maneira adequada dentro das regras do programa, além de não existir dupla contagem do atributo ambiental”, afirma.
Fonte: Valor Econômico
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