Em entrevista ao portal BNamericas, o diretor de mercados da Abegás, Marcelo Mendonça, afirma que
O Brasil precisa de termelétricas menos flexíveis e investimentos pesados em infraestrutura para estimular a demanda por gás natural produzido internamente.
Atualmente, as unidades térmicas do país operam em sua maioria seguindo ordens de despacho do operador da rede nacional ONS, considerando o armazenamento de água hidrelétrica níveis e a disponibilidade de outras fontes de energia como eólica e solar.
Devido a essa incerteza, os operadores das usinas costumam firmar contratos de gás natural ou gás natural liquefeito (GNL) no mercado spot, onde o preço do combustível é mais caro. “É preciso mais racionalidade nos despachos termelétricos para permitir os investimentos necessários para ancorar a oferta adicional de gás”, disse Mendonça, referindo-se a térmicas inflexíveis, que operam continuamente.
Aliada à falta de gasodutos para o transporte do gás produzido no litoral, esta situação inibe as operadoras de petróleo e gás de investir na tomada do combustível para a costa, muitas vezes optando por reinjetar o gás associado ao petróleo de volta aos campos.
Segundo dados da ANP, 65,9m3/d de gás natural foram reinjetados em todo o país em fevereiro, aproximadamente 50% da produção total do Brasil de 133Mm3/d no período. “É um volume absurdo, gás que poderia ser vendido”, destaca Mendonça.
A norueguesa Equinor, por exemplo, planeja reinjetar todo o gás produzido nos primeiros quatro anos de vida do campo Bacalhau.
A empresa governamental de pesquisa em energia EPE estima que R$ 74,2 bilhões poderiam ser investidos em infraestrutura de gás natural até 2030 por meio de 40 projetos.
Entre os novos potenciais projetos de dutos identificados pela EPE estão os dutos Rota 4a e 4b, projetados para trazer gás do bloco BM-S-8, onde está o campo de Bacalhau. Uma nova rota de escoamento de gás offshore, o gasoduto Rota 3 da Petrobras, está projetada para começar a operar este ano.
Combinado com as linhas Rota 1 e 2, serão 44Mm3/d de gás disponível. “Mas mesmo com a Rota 3, a infraestrutura de escoamento já estará saturada, dados os volumes totais que reinjetamos”, afirma Mendonça.
Embora algumas distribuidoras de gás canalizado tenham conseguido ampliar o número de fornecedores de gás recentemente, a Petrobras ainda responde por 95% das vendas de gás no país, segundo Mendonça, que afirma que a estatal indexou os contratos de gás firmados com distribuidoras ao mercado spot, apesar da redução do despacho de termelétricas à medida que os reservatórios de água do Brasil se recuperam.
“Então, embora a Petrobras não esteja mais exposta ao GNL, as distribuidoras ainda estão pagando 50% a mais pelo gás”, disse Mendonça.
O executivo da Abegás destaca que o gás não disponibilizado no Brasil atualmente totaliza cerca de 7Mm3/d, dos quais 5Mm3/d já foram contratados por distribuidoras de gás canalizado. “Portanto, resta muito pouco gás para a abertura do mercado. Precisamos sair desse ciclo vicioso [altamente dependente da Petrobras] para um ciclo virtuoso”, completa.
Fonte: BNamericas – Marcelo Mendonça
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