Pipocam pelo interior do Brasil projetos de investimento em biogás para aproveitar resíduos de aterros sanitários e do agronegócio para gerar energia renovável, e a EVA Energia, do grupo Urca Energia, resolveu entrar na onda. Com três unidades de geração de energia a biogás no país, a empresa tem mais aportes em andamento que já lhe permitirão mais do que dobrar sua capacidade geradora, além de uma expectativa de crescer rapidamente em importantes polos agropecuários.
Até janeiro próximo, a companhia deve concluir um ciclo de investimentos de cerca de R$ 115 milhões que vão agregar 17 MW em potência instalada em unidades que usarão biogás como matéria-prima. A potência atual da companhia é de 13 MW, que estão distribuídas em duas plantas em aterros sanitários e uma terceira em uma fazenda de suínos.
O mercado almejado é o de contratação bilateral, privilegiando clientes corporativos que valorizam a energia de origem renovável em projetos “ESG”. Em sua unidade no aterro de Mauá (SP), por exemplo, a energia já atende a rede de supermercados Dia, lavanderias da Unilever que usam o sabão Omo, e a rede de academias Bluefit. “O tipo de cliente que procuramos é aquele que busca uma estratégia de ESG para mostrar à sociedade, mercado e acionistas”, afirma Eduardo Lima, CEO da EVA Energia.
A EVA tem dois projetos em negociação com fazendas de suínos em Mato Grosso. O valor dos aportes previsto para cada uma é módico ante os números que costumam circular no setor de energia ou no agronegócio: para uma fazenda com plantel de 20 mil suínos, o investimento para erguer uma unidade geradora de 1 MW deve ser de R$ 3 milhões, e na segunda, com 30 mil animais, deverão ser aportados R$ 5 milhões para uma usina de 2 MW.
Nestes dois casos, o capital é baixo porque as fazendas já possuem biodigestores que trabalham hoje para tratar o esterco dos animais antes de seu descarte. Com as unidades geradoras, porém, as fazendas ganharão uma nova fonte de energia para usar em suas instalações, e ainda vão reduzir suas emissões de metano. Nas unidades geradoras a biogás, o metano é decomposto, e a emissão final na atmosfera após a geração de energia é de monóxido de carbono, um gás com menor efeito estufa que o oriundo dos dejetos animais.
O modelo para as duas fazendas será inspirado no que a EVA Energia já tem em parceria com a fazenda Mano Julio, que se estende por terras nos municípios de Lucas do Rio Verde, Ipiranga do Norte e Sorriso. Mas, diferentemente das duas fazendas em negociação, a parceria com a Mano Julio, já com quase três anos, envolveu investimentos na construção dos biodigestores, que ainda não existiam, o que demandou um aporte mais elevado. Com R$ 26 milhões, foram construídos 48 biodigestores para receber os dejetos dos 550 mil suínos que são entregues anualmente para a BRF, além da usina de 3 MW de potência.
Da energia gerada na Mano Julio, 1 MW abastece as próprias instalações da granja de suínos, e os demais 2 MW são injetados na rede da Energisa e atendem clientes de geração distribuída. Além disso, os biodigestores permitem um tratamento da matéria orgânica, que hoje volta para as lavouras de grãos da fazenda na forma de fertilizante biológico. Com isso, a Mano Julio já reduziu seu consumo de adubos químicos em 15%. Além disso, com o consumo do biogás, a unidade deixou de emitir na atmosfera 25 mil a 30 mil toneladas de metano todo ano.
A maior parte dos aportes previsto neste ciclo de investimento deve ser destinada para projetos de aproveitamento de dejetos em aterros urbanos. A EVA já está com um projeto em andamento para o aterro de São Gonçalo (RJ), por R$ 32 milhões, e fechando negociação com mais quatro aterros por R$ 77 milhões.
Mas o agronegócio continua sendo um filão interessante, segundo Lima. Um dos potenciais que a companhia aposta é na indústria de etanol de milho do Centro-Oeste. “É uma indústria que precisa de muito vapor, e precisa comprar biomassa para ter esse vapor e a geração de energia”, lembra o CEO.
A solução proposta pela EVA é utilizar o farelo de milho úmido (WGS, na sigla em inglês) produzido a partir do processamento do cereal para realizar sua decomposição em biogás. O executivo calcula que, se for utilizado 20% a 30% do WDG produzido em uma usina típica, é possível gerar até 25 MW de energia. Hoje, o farelo de milho é vendido no mercado como ração.
A produção pecuária também segue no foco da companhia, que vem conversando com clientes potenciais na região Sul e no interior de São Paulo.
Fonte: Valor Econômico
Related Posts
Aprovação da reforma tributária é vitória para biogás e biometano, afirma ABiogás
A aprovação da reforma tributária representa um marco e uma vitória para o biogás, o biometano e os biocombustíveis no Brasil, declarou a presidente-executiva da Associação Brasileira do Biogás (ABiogás),...
Orizon fecha acordo para produzir biogás no aterro da Estre em Piratininga (SP)
A Orizon anunciou um acordo para exploração do biogás do aterro sanitário que a Estre Ambiental opera na cidade de Piratininga (SP). A parceria segue os mesmos parâmetros de acordos anteriores entre as duas...