A expansão da infraestrutura de transporte e distribuição de gás natural e a redução da reinjeção do insumo nos poços para aumento da produção de petróleo são dois dos principais desafios para a garantia de uma oferta sustentável no país para atendimento à demanda, num cenário de transição energética e custos elevados. A avaliação é da Abegás, que apresentou aos candidatos Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro um conjunto de 11 sugestões para a formação de uma agenda energética sustentável e para a remoção de barreiras regulatórias, tributárias e financeiras, entre outras.
Com potencial de investimentos de US$ 49,5 bilhões, o setor de gás natural aguarda a realização de novos projetos, desde a entrada em vigor do chamado Novo Mercado de Gás, marco regulatório que permite a liberalização do segmento, com incentivos à concorrência. No entanto, segundo o presidente da Abegás, Augusto Salomon, a dinâmica esperada com as novas regras ainda não se concretizou. Pelo contrário, salientou, o que se viu nos últimos meses de 2021 e ao longo de 2022 foram discussões sobre contratos de gás natural com a Petrobras, aumento na reinjeção e dificuldades para a formação de mercados competitivos.
Além disso, diante de uma situação conjuntural, a guerra na Ucrânia, o país viu os preços do gás natural liquefeito (GNL) dispararem, elevando custos internos. Salomon destacou que 47% da demanda nacional é atendida pela importação de gás da Bolívia mais GNL, ao mesmo tempo que o país reinjeta quase 70 milhões de metros cúbicos por dia (m3 /dia) do insumo para a produção de petróleo. Para o executivo, a alta taxa de reinjeção, que tem se situado próxima de 50% da produção nacional, se dá por falta de infraestrutura para escoar o gás do pré-sal.
O executivo estima que, do total reinjetado, se existisse capacidade de escoamento de pelo menos 40 milhões de m3 /dia, “isso ajudaria a reduzir a dependência do combustível importado”. Para ele, a reinjeção não se justifica, até por ser antieconômica. O preço do milhão de BTU, unidade de medida do gás, de US$ 60 equivale a cotação entre US$ 250 e US$ 300 pelo barril de petróleo.
“Acho que com a mudança de cenário, as empresas vão ver que não é vantajoso reinjetar.” Para isso, ele espera que projetos que escoem o gás do pré-sal para a costa brasileira, como o Rota 3, hoje sob atraso, e a construção de UPGNs saiam do papel, viabilizando a transição energética.
Parte da demanda adicional de gás natural será construída com a instalação de 8 GW de térmicas previstas na Lei da Eletrobras (e que ficaram conhecidas como térmicas “jabutis”, por não terem relação com o tema), com geração de energia de 70% do tempo, em média (a chamada inflexibilidade). A demanda termelétrica funcionaria como âncora para novos consumos, como ligações em residências e atendimento a indústrias e transportes, setores que hoje utilizam combustíveis mais poluidores e emissores de gases de efeito estufa, como o óleo diesel.
As distribuidoras vêm expandindo as respectivas malhas de dutos a uma taxa da ordem de 7% ao ano, somando cerca de 40 mil quilômetros. Para essa malha aumentar, uma das necessidades é a realização de novos investimentos em infraestrutura de transporte, com novos dutos de alta capacidade. Hoje, a extensão total de gasodutos de transporte é de 9,5 mil quilômetros, a mesma há dez anos.
Salomon afirmou que vem conversando com parlamentares e governadores eleitos sobre a necessidade de se retirar as barreiras regulatórias e tributárias para que os investimentos sejam realizados.
Fonte: Valor Econômico
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