Como um grande produtor de etanol, o agronegócio brasileiro se destaca quando o assunto é energia renovável. O setor sucroenergético, por exemplo, tem papel importante na produção de biomassa, uma das matérias-primas do hidrogênio verde, além de poder gerar energia elétrica a partir do bagaço da cana-de-açúcar e a água da vinhaça. A expressão “pré-sal caipira” é utilizada por especialistas para qualificar o potencial de aproveitamento de resíduos da agropecuária para produção do biogás ou sua versão mais pura, o biometano, uma das fontes do hidrogênio verde, explica Marcos Fava Neves, professor titular das faculdades de administração da USP em Ribeirão Preto e da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV.
Se utilizado para produção de eletricidade, o biogás pode suprir até 22% da demanda mundial por energia elétrica; e destinado à produção de biometano, que se destaca como fonte sustentável para o setor de transportes, mais de 37% do consumo global de gás natural pode ser substituído, segundo a World Biogas Association (WBA). O Brasil tem potencial para produção de 20 mil toneladas de hidrogênio por dia a partir de biometano, ou 7 milhões de toneladas por ano, segundo estudo da Abiogás.
“Por meio de dejetos de animais e de culturas energéticas como milho e cana e outros substratos advindos dos processos produtivos, o setor é uma das maiores fontes de substratos para produção de energéticos”, diz Neves.
Os dejetos animais têm maior potencial energético, com 44%, seguidos dos substratos advindos do milho, com 17%. Já no setor sucroenergético, o de maior potencial é a palha de cana-de-açúcar, com 42,7%, seguida do bagaço, com 40,7. “A elevação do preço dos combustíveis fósseis é outro incentivo para a produção do hidrogênio verde”, diz Neves.
Um dos obstáculos que precisam ser contornados pela indústria é o ganho de escala. “Hoje o custo de produção do fertilizante com insumos do hidrogênio verde é cerca de dez vezes maior do que a geração a partir de combustíveis fósseis”, aponta Clorialdo Roberto Levrero, presidente executivo da Abisolo.
Iniciativas de produção de amônia com a nova matéria-prima já começaram como a da Unigel, localizada no polo petroquímico de Camaçari, na Bahia, em um projeto estimado em R$ 120 milhões. A Prefeitura de Uberaba (MG) está diversificando a planta de amônia para produção de nitratos e hidrogênio verde a partir da energia hidrelétrica e fotovoltaica. Outro projeto é liderado pela Base Energia Sustentável, em parceria com Furnas, também em Minas Gerais, que vai produzir hidrogênio verde com um eletrolisador e placas de energia solar instaladas sobre o reservatório de água. “Com o aumento da geração de energia fotovoltaica e eólica, seja onshore ou offshore, o Brasil diversifica a matriz energética favorecendo a produção de hidrogênio e amônia verde para a indústria de fertilizantes”, diz Levrero.
A Raízen, que conta com parques de bioenergia para produção de biocombustíveis, bioeletricidade, energias renováveis e bioprodutos, aposta na cana para a construção de plantas de produção de hidrogênio renovável a partir do etanol com a Shell, Hytron, Universidade de São Paulo (USP) e o Senai Cetiqt. “A parceria busca validar a tecnologia por meio da construção de duas plantas dimensionadas para produzir 5 kg/h de hidrogênio no curto prazo e futuramente a implementação de uma planta dez vezes maior, de 44,5 kg/h”, diz Samuel Pereira, gerente de transição energética da Raízen.
Fonte: Valor Econômico / Suplemento – Hidrogênio verde
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