Uma das pioneiras do mercado livre de gás natural do Brasil, a Unigel entra em 2023 em seu terceiro ano de experiência como consumidora livre. A previsão da companhia é voltar ao mercado em busca de novos volumes e, depois de um 2022 de preços estressados, espera conseguir melhores condições de negociação este ano. A gas week conversou com o diretor de supply chain da Unigel, Luiz Nitschke, sobre a experiência da empresa nesses dois primeiros anos no mercado livre e sobre quais as lições aprendidas e perspectivas daqui para frente. Afinal, valeu a pena desbravar o nascente ambiente livre? A resposta, segundo o executivo, é sim. Mas nem tudo são flores Nitschke ainda vê barreiras para a plena abertura do mercado e espera que o novo governo olhe com mais carinho para pautas como o aumento da oferta nacional e o fortalecimento da indústria de fertilizantes.
A Unigel se lançou no mercado livre em 2021, logo após assumir a operação das fábricas de fertilizantes de Camaçari (BA) e Laranjeiras (SE) — arrendadas da Petrobras. As duas fafens consomem, juntas, 2,8 milhões de m3/dia de gás como matéria-prima. Desde então, fechou contratos com cinco fornecedores diferentes: Petrobras, Shell, Galp, PetroReconcavo no ambiente livre e, mais recentemente, com a Bahiagás, no cativo. O novo contrato com a Bahiagás simboliza as dificuldades que o mercado livre enfrentou em 2022. Segundo Nitschke, a empresa recorreu no 2º semestre à distribuidora, sobretudo, pela atratividade econômica das tarifas. O choque dos preços internacionais contaminou as negociações no mercado livre em 2022. E o resultado foram contratos menos vantajosos que os acordos fechados em 2020-2021. “Como consumidores, fomos jogados aos leões num momento em que os leões estavam numa posição favorável”, disse.
Pesa a favor a perspectiva de menor despacho termelétrico. A Unigel espera aumentar o fator de utilização das fafens e busca mais gás no ambiente livre. São volumes marginais. A empresa já está com sua demanda contratada para 2024 e 2025, mas mira contratos de curto prazo para fechar balanço de 2023. Foi uma opção manter uma parte do consumo em aberto, para explorar as arbitragens. “Expectativa nessa arbitragem é que poderemos ter boas oportunidades. O mercado internacional também tende a estar mais equilibrado e os preços arrefecerem”. Por ora, a Unigel prefere não assumir contratos de longo prazo.
Na avaliação de Nitschke, existe, contudo, um fator que limita melhores preços no mercado: a dependência do GNL importado. A necessidade de aumento da infraestrutura, para aproveitamento do gás nacional, é a principal lição dos primeiros anos de abertura. “[O fornecedor] sabe que minha alternativa é o gás importado e precifica, então, com base no gás importado. Infelizmente, a abertura de mercado foi feita sem a infraestrutura que o país precisa para ser autossuficiente”, comenta Nitschke. É mais um agente a manifestar apoio ao pleito por políticas de estímulo à expansão da infraestrutura — a exemplo do que já fizeram representantes de distribuidoras, transportadoras e consumidores. Nitschke, aliás, defende um combate mais efetivo à reinjeção, por meio de multas às produtoras que extrapolarem limites pré-estabelecidos. “Na base da boa vontade nada vai acontecer”, afirma. Outra lição trazida pelo mercado global em 2022 foi a importância da criação dos serviços de estocagem no Brasil. “Foi o que salvou a Europa… Para nós, como competitividade, é importante. Se temos uma falha operacional na planta e ficamos alguns dias fora de operação, tenho a cláusula de take-or-pay no gás que nos obriga a pagar o gás [mesmo sem usar]. Aí é preferível pagar para armazenar”, comenta. Nitschke também reclama das tarifas de transporte e defende a criação de uma tarifa de curta distância (short haul) — pleito também do governo de Sergipe.
Nitschke acredita que a abertura do mercado de gás é um processo irreversível — em que pese o gabinete de transição tenha feito críticas ao Novo Mercado de Gás e entenda que é preciso voltar a fortalecer a participação da Petrobras no setor. Pelo contrário, Nitschke diz que as perspectivas são positivas quanto ao fortalecimento da indústria local de fertilizantes. Assunto, aliás, presente no discurso de posse de Lula.
Fonte: Epbr
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