Em meio à reorganização de petroleiras independentes no mercado brasileiro, a Origem Energia, controlada pela gestora Prisma Capital e principal fornecedora de gás de Alagoas, mira um novo negócio, o serviço de estocagem de gás natural em reservatórios que não produzem mais. Essas instalações pertenciam à Petrobras, foram adquiridas pela Origem e agora serão preenchidas novamente com gás em projeto em parceria com a Transportadora Associada de Gás (TAG). Pelo acordo, assinado em março e que resultou na criação de uma joint venture entre as duas empresas, a Origem entrará com a infraestrutura do polo de gás de Alagoas, avaliada em US$ 96,8 milhões, enquanto a TAG investiu US$ 200 milhões (R$ 1 bilhão) no empreendimento. A Origem informou que pretende alocar US$ 300 milhões para desenvolver o polo Alagoas entre 2022 e 2027, onde a companhia aloca 800 dos cerca de mil funcionários que tem no país.
O início da operação do serviço de estocagem de gás natural em reservatórios ainda depende, porém, de autorização da ANP. “A Origem não tem buscado parcerias financeiras, com exceção da TAG, mas procuramos sinergias. É importante haver essas associações para melhorar a captação de fornecedores”, afirma Luna Viana, sócia-fundadora da Origem. A empresa é um caso raro de companhia de petróleo brasileira fundada por uma mulher. Viana é engenheira de petróleo e fundou a Origem em 2016 aos 29 anos. Na compra do primeiro campo, Viana usou recursos da família para constituir capital. Na sequência, recebeu aportes dos investidores que entraram na sociedade. Além de Viana, a petroleira tem como sócios Luiz Felipe Coutinho, presidente da empresa, e o americano Nathan Biddle, diretor de tecnologia. Viana diz que, passada a fase em que as “junior oils” compraram os ativos da Petrobras, agora aparecem mais sinergias: “As vendas dos grandes polos estabilizaram e agora as empresas avaliam o que adquiriram e se os ativos ainda fazem sentido no portfólio. A partir de agora devemos ver movimentos de grandes fusões e de vendas de ativos que não fazem mais sentido”, disse a executiva.
Na sexta (17), Enauta e 3R Petroleum oficializaram acordo de fusão. Em abril, a Eneva e PetroReconcavo voltaram a conversar sobre uma eventual fusão das operações, após negociações frustradas com outras companhias do setor de óleo e gás. A Origem é a principal fornecedora de gás da Algás, distribuidora de Alagoas. Com foco em campos em terra, a empresa teve lucro líquido de R$ 326,3 milhões em 2023, alta de 42% ante 2022. O resultado se deu pela expansão no Polo de Alagoas e melhor resultado financeiro. Em 2024, a produção média da Origem é de 1,4 milhão de metros cúbicos de gás por dia, sendo 75% no Polo de Alagoas. Pelo acordo com a TAG, o gás produzido pela Origem ficará estocado em reservatórios esgotados do campo de Pilar, em Alagoas, e que não produzem mais. A partir dali, conforme demanda, o produto segue pela malha da TAG para o cliente, que pode ser uma distribuidora ou o consumidor final. A malha da TAG conecta o Nordeste ao Sudeste, o que permite a recepção do gás em qualquer ponto desse trajeto.
Thiago Vetter, consultor da StoneX, afirma que a estocagem de gás permite que o produto garanta a segurança energética e assegura que eventuais desbalanceamentos entre oferta e demanda sejam amenizados. Vetter explica que países da Europa e os Estados Unidos utilizam a estocagem quando se preparam para o inverno: “O processo permite disponibilidade de entrega de energia a curto prazo e contribui para o amadurecimento do mercado, no Brasil.” Segundo a Origem, neste primeiro momento a estocagem subterrânea será feita no campo de Pilar, mas poderá ser expandida a depender da demanda. A associação terá participações iguais, com Origem e TAG com 50% da nova empresa, que ainda não tem nome. De imediato, a TAG vai investir US$ 30 milhões que vão permitir alcançar capacidade de armazenagem de 106 milhões de metros cúbicos de gás por ano. A longo prazo, a capacidade pode chegar a 500 milhões de metros cúbicos por ano. A TAG foi vendida pela Petrobras em 2019 e hoje é controlada pela Engie e pelo grupo de investimentos CDPQ. A diretora de desenvolvimento de negócios da TAG, Luisa Franca, destaca a importância da parceria para o mercado de gás: “Estamos trabalhando com a Origem nos estudos para avançar nessa parceria inovadora.” Para ela, o projeto “traz mais tração à abertura do setor de gás natural no Brasil.” Viana, da Origem, diz que o contrato para formar uma joint venture com a TAG é pioneiro no Brasil e busca dar flexibilidade na oferta. A executiva afirma que a ANP não tem regulamentação para essa atividade por enquanto. A agência informou que irá analisar o pedido de autorização do projeto, “independente de não haver uma resolução específica sobre o tema”. Não há prazos definidos para resposta.
Fonte: Valor Econômico