A nova presidente da Petrobras, Magda Chambriard, reforçou nesta quarta (19) o interesse da companhia de retornar ao setor de fertilizantes e petroquímica, como uma estratégia de monetização do gás natural comercializado pela empresa. “É importante dizer que nossa retomada do setor de fertilizantes tem uma razão cristalina: os fertilizantes são uma boa oportunidade para ampliar significativamente o nosso mercado de gás. O gás natural é nosso produto. É o insumo com maior impacto no preço dos fertilizantes”, disse Magda, em seu discurso de posse. Ela destacou ainda que o gás é um “combustível de transição por excelência” e que a Petrobras investirá na ampliação da infraestrutura. Citou, nesse sentido, a conclusão do gasoduto de escoamento Rota 3 e das unidades de processamento do Polo Gaslub – ambos previstos para o segundo semestre. “Nossa intenção é ampliar a disponibilidade de gás para o mercado e assim endereçar a nossa produção também para usos de maior valor agregado, como a petroquímica e fertilizantes”, discursou.
Em suas primeiras declarações como presidente da Petrobras, há três semanas, Magda Chambriard já havia sinalizado que queria “ajudar a desenvolver o mercado”, diante da perspectiva de aumento da oferta de gás nacional; e que a retomada dos investimentos em fafens está inserida num contexto de ampliação do consumo do gás na matriz energética brasileira – mas não a qualquer custo: “Não vou fazer isso a qualquer preço. Vou fazer desde que dê lucro. Mas se eu precisar eventualmente abaixar um pouquinho o preço do gás para conquistar o mercado e garantir que possa expandir a produção, está valendo”. “Desde que dê lucro, desde que a empresa e seus técnicos entendam que isso é negocialmente vantajoso para a empresa”, afirmou em sua primeira entrevista coletiva no comando da petroleira, no fim de maio.
Magda Chambriard assume a presidência da petroleira com o desafio de administrar pressões políticas por um protagonismo maior da Petrobras na busca por soluções para aumentar a oferta de gás a preços competitivos para a indústria – incluindo os fertilizantes – e a própria retomada dos investimentos nas fafens. Destravar as unidades de fertilizantes é uma encomenda do governo Lula 3. Na cerimônia de posse da nova CEO da estatal, o presidente da República disse que interromper investimentos no setor foi um dos grandes retrocessos dos governos mais recentes. Lula citou o senso de urgência da retomada dos fertilizantes, por uma questão de segurança alimentar – para garantir a segurança do agronegócio brasileiro. “Quando o petróleo não for mais o motivo da existência da Petrobras, ela vai ser uma empresa de energia, vai refinar o biodiesel, pode produzir hidrogênio verde e, agora, pode ajudar o país a enfrentar a guerra entre Rússia e Ucrânia e a recuperar a fábrica de fertilizantes que a gente tanto precisa para recuperar esse país”, discursou. Lula fez menção, ainda, ao interesse na integração do mercado de gás na América do Sul e às críticas aos elevados índices de reinjeção da molécula nos campos offshore. “Não sei qual é essa ojeriza, de não gostar de gás que tanto pode ajudar a indústria brasileira”.
Historicamente, a presença da Petrobras nos fertilizantes é um desafio do ponto de vista econômico, no Brasil, por exigir preços bastante competitivos para o gás natural. Pouco antes de ser demitido, Jean Paul Prates (PT) havia estimado ser possível estabelecer uma holding para a companhia atuar no setor de fertilizantes somente em 2025. Acelerar os investimentos no setor é uma missão desafiadora: o projeto de Três Lagoas (MS) é uma obra abandonada; e falta chegar a uma solução para retomada das operações das unidades de Sergipe e Bahia, arrendadas à Unigel. Num dos primeiros atos da gestão Magda Chambriard, a diretoria executiva da Petrobras aprovou no dia 6 de junho o retorno das operações da fábrica de fertilizantes Araucária Nitrogenados S/A (Ansa), no Paraná, que está parada desde 2020. A estatal estima que a fafen – que não usa gás como matéria-prima – volte a operar no segundo semestre de 2025. A companhia anunciou que irá publicar em breve os editais para contratação de serviços de manutenção e de materiais críticos. Sob a gestão de Prates, a Petrobras avançou ainda num acordo temporário de tolling com a Unigel, para retomar as operações das fafens de Sergipe e Bahia, mas esbarrou em questionamentos do TCU. Magda terá de desatar esse nó. Em maio, Magda Chambriard afirmou que caberá à Petrobras mostrar que fertilizantes são um bom negócio. “Ninguém aqui vai rasgar dinheiro”, afirmou. “E se o TCU tem dúvida, nós vamos responder às dúvidas do TCU”, completou.
Fonte: Epbr