O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou na segunda (08) que há espaço para que a indústria brasileira importe diretamente da Bolívia cerca de 4 milhões de m3/dia a partir de outubro. Além disso, outros 2 milhões de m3/dia podem ser trazidos de Vaca Muerta, na Argentina, no curto prazo, pela infraestrutura de gás boliviana atualmente ociosa. As declarações foram dadas a jornalistas, em Santa Cruz de La Sierra, após encontro de Silveira com o ministro de Hidrocarbonetos da Bolívia, Franklin Molina, na comitiva de autoridades do governo e agentes privados que acompanham a visita oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao país vizinho.
Silveira destacou que o encontro marca a aproximação entre empresários de indústrias gás-intensivas com a YPFB, a estatal boliviana, sem a intermediação da Petrobras — que historicamente é a principal importadora de gás do país vizinho. “Efetivamente, trouxemos temas objetivos hoje para os ministros [bolivianos]: na questão do gás, eliminar qualquer tipo de intermediação entre os grandes intensivistas do gás no Brasil, que é a indústria química, a indústria da cerâmica, a indústria de vidro, para que eles possam ter um canal direto. Eles tentavam isso já há mais de uma década e não conseguiam”, disse. Integram a comitiva brasileira à Bolívia representantes da Fiesp (indústrias de SP); Abrace (grandes consumidores industriais); Abiquim (indústria química); Abividro (indústrias de vidro); e Abceram (cerâmica). A expectativa é que, a partir de outubro, com a conclusão das obras de reversão do Gasoducto Norte, a Argentina se torne autossuficiente do gás boliviano – o que abre espaço para que os volumes exportados pelos bolivianos ao país vizinho sejam redirecionados para o mercado livre no Brasil.
Silveira afirmou também que a agenda com os bolivianos também passa pela discussão sobre a necessidade de reformas no marco legal do país vizinho, para viabilizar investimentos brasileiros na recuperação das reservas de gás bolivianas, hoje em declínio. “O importante é que a gente racionalize ou equalize a questão da segurança para o investimento. Os investidores querem essa segurança, a Bolívia está disposta a discutir caminhos para poder fortalecer essa parceria”. Esse investimento, segundo ele, não se restringe mais à Petrobras. “Sempre houve a ótica de que a Petrobras é a única possibilidade de investimento no gás boliviano… Mas não é só a Petrobras”. “Por isso, implementamos hoje o início de uma nova visão entre os investimentos privados no Brasil e o povo boliviano, trazendo indústrias que têm interesse em adquirir o gás diretamente da empresa petroleira e produtora de gás da Bolívia, a fim de que a gente possa, inclusive, otimizar os custos do gás no Brasil, que é o grande propósito nosso”, completou. Entre empresas que miram a Bolívia está o grupo J&F, dos irmãos Batista, que, por meio da Fluxus, comprou a Pluspetrol Bolívia – e, com isso, entrou em três campos na bacia Tarija-Chaco que hoje produzem 100 mil m3/dia, mas têm potencial para mais de 1 milhão de m³/dia de gás natural.
A comitiva à Bolívia também inclui executivos envolvidos na tentativa de importar pelo Gasbol o gás natural de Vaca Muerta, na Argentina. Silveira destacou que será possível trazer 2 milhões de m3/dia da Argentina, pela Bolívia, sem aumentar os investimentos em infraestrutura. Se os investimentos no Gasoduto Néstor Kirchner II, na Argentina, avançarem, a perspectiva de importação de gás de Vaca Muerta sobe para mais 15 milhões de m3/dia, disse o ministro brasileiro.
Fonte: Epbr