Assistindo a um aumento expressivo das importações de produtos que têm fabricação nacional, como resinas termoplásticas, a indústria química instalada no país recebeu com expectativa positiva o lançamento da Política Nacional de Transição Energética (PNTE) e a assinatura, na segunda (26), do decreto que deve reduzir o preço do gás natural no país e ampliar sua oferta.
Usado como energético e matéria-prima no setor, o gás natural tem sido o calcanhar de Aquiles na competição com produtos químicos e petroquímicos com origem na China, nos Estados Unidos e no Oriente Médio, onde os custos do insumo podem ser até sete vezes menores do que os praticados no mercado brasileiro. Além disso, nessas regiões, houve forte investimento em novas capacidades no pós-pandemia, o que levou à sobreoferta de químicos e petroquímicos no mercado global. Hoje, o gás consumido pela indústria química brasileira pode chegar a U$ 16 o milhão de BTU, incluindo custo de transporte e distribuição. O setor defende que um gasto de US$ 6 a US$ 7 o milhão de BTU já traria melhores condições de competição, mesmo que ainda esteja acima do custo do insumo no mercado americano.
Para a Abiquim, “as resoluções transformam em realidade as ambições do projeto Gás para Empregar, que é a oportunidade que o país possui para produzir mais gás natural”. A expectativa é que, com as novas regras, haja maior aproveitamento do gás natural na cadeia produtiva, ao invés de ser reinjetado para elevar a produção de petróleo, além de possibilitar o aproveitamento das diferentes frações do insumo, mediante o tratamento adequado. A indústria química é a principal consumidora de gás natural como matéria-prima e energia, com cerca de 25% a 30% do total. “Com essas medidas, temos a expectativa de começar a ter gás natural em oferta suficiente e preços que ajudem a melhorar a competitividade para a produção nacional de insumos químicos”, disse em nota o presidente-executivo da Abiquim, André Passos Cordeiro. O desafio, agora, é implementar as determinações previstas na resolução, ponderou o executivo.
A concorrência crescente dos importados, que hoje representam quase metade do consumo doméstico de produtos químicos, já levou ao fechamento de unidades produtivas no país e à antecipação de paradas programadas para manutenção, além de redução de carga de operação. Lutando contra uma grave crise financeira, a Unigel hibernou duas fábricas de fertilizantes arrendadas da porque a queda dos preços da ureia no mercado internacional, sem contrapartida do gás natural, tornou a operação economicamente inviável.
Segundo os dados mais recentes da Abiquim, a produção brasileira de químicos de uso industrial caiu 1,14% no primeiro semestre, enquanto o volume de exportações recuou 27,5%, confirmando a dificuldade de competição do produto de origem brasileira no mercado internacional. Por outro lado, as vendas internas subiram 4,39% na primeira metade do ano e o consumo aparente (CAN) cresceu 0,4%, impulsionado pela alta de 4,5% das importações — o produto importado respondeu por 45% da demanda brasileira no intervalo. Nesse ambiente, o nível médio de utilização da capacidade instalada da indústria química brasileira ficou em apenas 63% no primeiro semestre, três pontos percentuais abaixo do registrado um ano antes. Em fertilizantes, a queda foi de nove pontos percentuais, para 58%, com a hibernação das unidades da Unigel.
Fonte: Valor Online