As obras de infraestrutura física que permitirão à Argentina exportar gás das reservas de Vaca Muerta para o Brasil deverão estar prontas em março do ano que vem. A primeira fase dos trabalhos que vão alterar o fluxo do gasoduto deverá terminar em 7 de outubro, enquanto a segunda fase estará pronta em março de 2025, segundo o secretário de Energia da Argentina, Eduardo Javier Rodríguez Chirillo. Desenhado para que a Argentina recebesse o gás produzido na Bolívia, o gasoduto opera no sentido norte-sul e as obras são necessárias para que o fluxo passe a ser sul-norte, permitindo que o insumo seja exportado para o Brasil por meio da Bolívia. A reversão do gasoduto envolve instalação e adaptação de equipamentos para permitir inverter o sentido do gás natural para o norte argentino, com possibilidade de exportação para a Bolívia. Lá, o gás poderia chegar ao Brasil por meio do Gasoduto Bolivia-Brasil (Gasbol), que pertence à TBG. A expectativa é que toda a reversão seja concluída no ano que vem, antes do inverno, quando a demanda por gás natural aumenta na Argentina.
Chirillo destacou que o país passa por um processo de transição regulatória que ainda impede determinar com clareza qual seria a oferta potencial de gás para o Brasil. Um número que tem sido considerado factível por parte do mercado é algo em torno de 4 milhões de metros cúbicos por dia (m3 dia). A reestruturação do marco legal do setor energético da Argentina passa por temas como redução de subsídios e incentivo de novos investimentos para a inciativa privada. O secretário explicou que, por causa da transição, o governo argentino ainda precisa olhar para aspectos como preços e demanda interna, antes de definir quanto o gás será enviado para o Brasil. Chirillo adiantou, porém, que as projeções de demanda que forem apresentadas pela iniciativa privada vão balizar os volumes a serem enviados. “A oferta tem a ver com a transição e tudo depende da iniciativa privada”, disse. Segundo ele, a expectativa é que um memorando de entendimentos (MoU, na sigla em inglês) com o governo brasileiro seja assinado nas próximas semanas. O memorando vai estabelecer a criação de um grupo de trabalho que vai tratar do desenvolvimento de infraestrutura e das condições comerciais para a exportação de gás da Argentina para o Brasil. Entre os temas, está a possível fixação de regras para um intercâmbio “regular e sustentável” de gás natural.
Em paralelo, explicou Chirillo, a Argentina ainda tem que buscar soluções para aspectos como o preço de exportação do gás, uma vez que o envio para o Brasil depende de questões como a tarifa de transporte que será estabelecida pelo lado boliviano. “O MoU é muito significativo porque somos facilitadores para que as empresas façam as coisas [que são necessárias para viabilizar a exportação]. Não é que o Brasil vai assumir compromisso com a Argentina de colocar dinheiro ou vice-versa”, disse Chirillo. As discussões entre Brasil e Argentina sobre a exportação de gás natural ocorrem quando a relação entre os dois países é de distanciamento, desde a vitória de Javier Milei nas eleições presidenciais. O mandatário argentino participou de evento conservador em Santa Catarina em julho e já chamou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de “corrupto e comunista”. Ao mesmo tempo, o Brasil assumiu a custódia da embaixada argentina na Venezuela desde que o governo de Nicolás Maduro cercou o local, que abrigava opositores do presidente.
Fonte: Valor Econômico