O mercado de gás entra em uma nova fase de desenvolvimento no Brasil, tentando equilibrar o aumento da oferta e a redução do preço em meio ao desafio de impulsionara demanda por parte da indústria. A expectativa é que a produção líquida de gás natural passe dos atuais 68 milhões de metros cúbicos por dia para 128 milhões de metros cúbicos diários em 2030, coma entrada em operação de novas redes de escoamento no Brasil, a exemplo da Rota 3 da Petrobras, que liga os campos do pré-sal ao antigo Comper; (hoje chamado de Complexo de Energias Boaventura), em Itaboraí (RJ). Em paralelo, Brasil e Argentina vêm conversando para trazer mais gás para o país por meio do do gasoduto Brasil-Bolívia. No último mês de agosto, o governo anunciou mudanças no mercado de gás com o objetivo de aumentar a competição e reduzir os preços.
Entre as iniciativas estão a possibilidade da estatal Pré-Sal Petróleo (PPSA) organizar leilões para vender o gás que pertence à União nos campos do pré-sal que operam sob o regime de partilha e aumentar o poder da ANP sobre o setor. Pelas novas regras, caberá à ANP regular tarifas de escoamento e processamento dos campos em alto-mar até a costa, já que hoje estes valores passam por uma negociação privada conduzida pela Petrobras. Além disso, a agência poderá determinar a redução da reinjeção de gás nos poços de petróleo. A injeção do gás novamente nos poços é usada, em geral, para melhorar a extração de petróleo. Mas o governo entende que isso resulta em desperdício de produção, colaborando para o alto preço do gás no país. “Quando olhamos para o futuro, há previsão de aumento na produção. Temos a Rota 3, que começa já em este mês. Temos ainda outros projetos, como as redes para escoa o gás do BMC-33 (um dos principais projetos em extração de gás natural no país, reunindo Equinor, Repsol e Petrobras, na Bacia de Campos) e o projeto na Bacia de Sergipe-Alagoas (da Petrobras). Apesar do aumento da oferta, acreditamos que, para estimular a demanda de consumo de gás, só com uma maior competição entre agentes será possível a redução de preço”, diz Tabita Loureiro, presidente interina da PPSA.
Por isso, a PPSA já se prepara para organizar o primeiro leilão de gás em 2025. Segundo Tabita, que participou do painel “Perspectivas de aumento da oferta doméstica de gás natural” no ROG. e, antigo Rio Oil & Gas, no Rio de Janeiro, está sendo estudado neste momento o melhor mecanismo para fazer a venda do gás ao mercado. Antes da mudança regulatória, a PPSA vendia o gás somente para a Petrobras, em al tomar. Agora, ela poderá vender quando o gás chegar à costa, após passar pela rede de escoamento, aumentando a possibilidade de concorrência. Quando chega em terra, o gás precisa passar por um tratamento em instalações chamadas de Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN). “Estamos nos debruçando sobre os contratos do sistema de escoamento e do sistema de processamento para ver o que é melhor para a União”. Pode ser que a venda seja feita já com o gás tratado na UPGN ou antes de chegar à UPGN. Será uma ou outra. Hoje, a União tem direito a uma produção de 175 mil metros cúbicos de gás por dia, proveniente dos campos sob o regime de partilha. Esse volume deverá aumentar para entre 200 mil e 300 mil metros cúbicos diários em 2025 e 2023. No ano seguinte, esse total subirá para 1,7 milhão de metros cúbicos ao dia, podendo alcançar entre 2 milhões e 3 milhões de metros cúbicos em 2028 e ultrapassar 3 milhões de metros cúbicos em 2029. – Vamos vender o gás para quem pagar pelo maior valor. É pelo menos um sinal a mais de preço. O custo logístico é muito alto no Brasil”, justifica a executiva.
Enquanto isso, a Petrobras pretende investir US$ 3 bilhões até 2028 para ampliar a capacidade de oferta de gás, com novas redes de projetos como Rota 3, Sergipe-Alagoas e BMC-33. A Equinor, que participa do consórcio na Bacia de Campos, também desenvolve outra frente com grande potencial em gás, o campo de Bacalhau, na Bacia de Santos. O BMC-33, sozinho, tem capacidade de atender a 15% da demanda total de gás no Brasil quando estiver em produção. Segundo Claudia Brun, vice-presidente de Marketing e Processamento da petroleira norueguesa no Brasil, o gás terá um papel importante na descarbonização da indústria. “Mas nem tudo são flores. As condições dos reservatórios variam. A primeira descoberta foi em 2012 (no BMC-33) e só no fim do ano passado comamos a decisão de realizar o investimento. Em Bacalhau, o projeto começou em 2019”, afirma Tabita ao destacar que os processos levam tempo entre a descoberta e a decisão de investimento.
Para Nathan Biddle, diretor da alagoana Origem Energia, O Brasil precisa de mais dinamismo e flexibilidade nessa área. A empresa, após comprar ativos da Petrobras, elevou sua produção de gás em terra de 400 mil metros cúbicos por dia para 1,5 milhão de metros cúbicos por dia nos últimos anos. Hoje, destina todo volume produzido para empresas de Alagoas e Bahia. “Temos que aumentar a diversidade de produtores. Estamos em um momento de aumento de consumo. A política de desinvestimento da Petrobras ajudou muito a aumentar a oferta de gás com novos projetos”, diz Biddle. Segundo ele, é preciso desenvolver novos formatos de contratos de longo prazo, além do que é usado hoje e no qual é preciso acertar a compra da molécula mesmo que não haja consumo – conhecido como take or pay. Por isso, ressalta a importância de projetos como os de estocagem de gás natural. Assim, continua o executivo, é possível atender de forma mais eficiente às empresas. “O mercado não cresce como poderia, pois, ninguém quer se comprometer com contratos de longo prazo. E temos várias bacias, como as de Alagoas e Tucano Sul (na Bahia), com gás não associado (ao petróleo), em que é mais fácil aumentar a produção. O mercado precisa de balanceamento, pois temos vários momentos de falta e de excesso de demanda. E, com estocagem, conseguimos atender com preços mais atrativos”.
Fonte: O Globo / Especial Petróleo e Gás
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