Caso o acordo firmado entre Brasil e Argentina para viabilizar a exportação de gás natural argentino ao Brasil vingue, o caminho mais adequado, segundo especialistas do setor, é que isto ocorra por meio do gasoduto Gasbol. Para isso, será necessário costurar um novo acordo com a Bolívia. O presidente da ATGás, Rogério Manso, não vê isso como um obstáculo. Para ele, o choque de oferta de gás no Brasil por diferentes caminhos pode trazer preços mais competitivos e aumentar a competitividade da indústria. Já existe a possibilidade de criar uma rota integrada para o transporte do insumo extraído de Vaca Muerta, na Argentina, para o Brasil, utilizando tanto o Gasoduto Norte (para levar o gás à Bolívia) quanto o Gasbol (para transportar o gás da Bolívia para o Brasil). Segundo Manso, aportes já estão sendo feitos para a inversão de fluxo. “Eles [os argentinos] estão investindo agora na inversão do gasoduto que vai para a Bolívia e estão instalando capacidade suficiente para atender o inverno argentino […]. A partir daí, existe uma perspectiva promissora de investimentos para tornar essa oferta não apenas sazonal, mas contínua”, afirma.
Outra opção mais complexa seria trazer o energético via gasoduto Néstor Kirchner, que liga a região de Vaca Muerta, a partir de Buenos Aires, até Uruguaiana (RS). No entanto, a infraestrutura ainda não está totalmente concluída. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu recentemente o crédito do BNDES para o projeto durante o governo do ex-presidente Alberto Fernández. Esse projeto ainda não garante a integração, sendo necessários mais investimentos em dutos de transporte no Brasil para levar o gás ao mercado consumidor. O acordo prevê a importação inicial de 2 milhões de metros cúbicos por dia (m³/dia) já a partir de 2025, podendo chegar a 30 milhões de m³/dia em 2030. Considerando o prazo curto, o diretor técnico-comercial da Abegás, Marcelo Mendonça, avalia que construir um gasoduto interligando Uruguaiana não seria viável a tempo, e que o transporte via Bolívia seria a alternativa mais prática para viabilizar o gás nesse período. Num primeiro momento, a expectativa do mercado é que esse fornecimento não seja contínuo, já que o consumo do país vizinho é sazonal e concentra-se no inverno. Entretanto, Mendonça afirma que, para viabilizar os investimentos de transporte e conexão com a Bolívia, será necessário garantir um volume contínuo. “Essa será mais uma fonte de suprimento, então é importante que tenhamos competição entre essas fontes, como GNL, produção de gás nacional e, agora, o gás de xisto da Argentina. Isso viabiliza o fornecimento de gás e traz um novo ‘price maker’ [fornecedor que tem capacidade de influenciar ou determinar os preços] para o mercado. Ou seja, teremos um novo ofertante, uma nova origem de gás que vai competir com o gás nacional e com o fornecimento de GNL, podendo trazer um gás mais competitivo e viabilizar outras aplicações”, diz.
Fonte: Valor Online
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