Há coisas na vida que parecem seguir uma lógica cruel: quando finalmente começam a produzir o efeito desejado, o fim já se aproxima. É como uma metáfora de parque de diversões: quando a volta no brinquedo ganha velocidade e emoção, é justamente o momento em que se chega ao desfecho. Assim parece ser a história do gás natural em Mato Grosso do Sul.
A chegada do gás boliviano mudou profundamente a realidade do Estado. Não foi apenas a possibilidade de gerar energia, aquecer casas, mover veículos ou impulsionar a atividade industrial que transformou o cenário econômico. A importação trouxe uma receita importante: como todo o gás natural comprado da Bolívia entra no Brasil por Mato Grosso do Sul, é aqui que se concentra a tributação. Ou seja, o combustível ajudou a diversificar e fortalecer a arrecadação estadual, um ganho não desprezível para as contas públicas.
No entanto, essa trajetória de prosperidade tem prazo de validade. Conforme reportagem publicada nesta edição, as jazidas bolivianas podem se esgotar em 2030. Isso significa que o insumo que hoje garante energia, desenvolvimento e receita corre o risco de deixar de existir em poucos anos. O tempo, que parece longo quando se projeta para sete anos à frente, é, na verdade, curto demais para um desafio de tamanha complexidade.
É por isso que acreditamos ser fundamental que a classe política local se antecipe a esse cenário. Não é prudente esperar que Brasília ofereça as soluções. Mato Grosso do Sul precisa pensar localmente, criar alternativas, buscar novas fontes de energia e, até mesmo, de arrecadação que compensem a provável queda da importação do gás. Mais do que nunca, planejar é preciso.
Nesse contexto, surge uma pergunta inevitável: o que será da MSGÁS, estatal responsável pela gestão desse ativo no mercado regional? Sua sobrevivência depende essencialmente da existência da matéria-prima. Sem o gás boliviano, a empresa corre o risco de perder o próprio sentido de existir. É legítimo, portanto, questionar se o governo estadual já está debatendo alternativas para a continuidade da empresa, seja com outras fontes energéticas ou até com novos modelos de negócios.
Não se trata apenas de um debate técnico ou econômico, mas de uma questão estratégica. O fim do gás boliviano pode se transformar em um gargalo para a competitividade do Estado se não for enfrentado desde já com visão de longo prazo. Esperar a escassez para agir seria um erro que poderia custar caro.
O desafio é grande, mas também é uma oportunidade. Se souber planejar, Mato Grosso do Sul pode transformar a crise anunciada em um salto de modernização, diversificando sua matriz energética e reduzindo a dependência de uma única fonte. Mas, para isso, é preciso reconhecer a realidade: o fim da abundância do gás já está no horizonte, e o tempo de agir é agora.
Fonte: Correio do Estado (MS)
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