As eleições presidenciais na Bolívia abrem uma nova janela de oportunidade para rediscussão da integração do mercado de gás natural no Cone Sul – e para uma revisão das tarifas atualmente cobradas pelo trânsito internacional do gás argentino ao Brasil, pela infraestrutura boliviana de gasodutos ociosos. A expectativa no mercado é que, a partir de outubro deste ano, até abril de 2026, a janela de exportação de gás argentino ao Brasil volte a se abrir, depois que os primeiros testes confirmaram a viabilidade da rota, no primeiro semestre. Esse foi um dos assuntos debatidos no quinto episódio do videocast gas week, com Pablo Campana, gerente da unidade Brasil da Pluspetrol, e Gabriela Aguilar, vice-presidente da Excelerate Energy para a América do Sul.
O primeiro turno das eleições bolivianas confirmou o senador centrista Rodrigo Paz Pereira (Partido Democrata Cristão) e o ex-presidente Jorge “Tuto” Quiroga (Aliança Livre), mais à direita no espectro político, no segundo turno em 19 de outubro. O resultado das urnas marcou o fim de um ciclo de duas décadas da esquerda no poder. Ambos acenam com reformas para atrair investimentos para recuperar as reservas de gás natural — um dos pilares da balança comercial do país. A “mudança de cor política” na Bolívia, segundo Gabriela Aguilar, “dá a base para iniciar um diálogo novo” entre os países da região. “Eu também penso que há uma nova oportunidade, pelo menos de sentar-se, de dialogar, de ver quais são as possibilidades”, disse a executiva. “Eu acho que vai ser um momento propício para dialogar, não somente com Argentina, com Brasil e também com Chile, porque de alguma maneira temos que pensar em uma região mais integrada”, complementou.
Nos primeiros testes de importação de gás argentino pelas comercializadoras brasileiras, a estatal boliviana YPFB cobrou uma tarifa de trânsito internacional de US$ 1,4 o milhão de BTU. Na visão de Pablo Campana, da Pluspetrol, para que o gás argentino ganhe competitividade no mercado brasileiro, a revisão desses valores será “uma conversa necessária”, independente do governo que esteja à frente da Bolívia. “Quanto mais competitiva for, teremos mais possibilidades de que esse projeto [de integração] seja uma realidade”, disse. Ele acredita que as eleições na Bolívia são um marco importante, porque a chegada de um novo governo traz legitimidade. “Um governo com mais ar, que tem um prazo mais longo, independentemente da cor política”. O executivo ressalva, contudo, que a discussão sobre a tarifa de trânsito internacional da Bolívia não é o único ponto da agenda de competitividade da integração regional.
Ele cita que a redução do preço mínimo de exportação pelo governo argentino, na Bacia de Neuquén, dará mais competitividade ao gás não-convencional de Vaca Muerta a partir de janeiro de 2026, mas que é preciso mais. “Todo mundo se beneficia se somos mais competitivos e baixamos os custos. É uma conversa que tem a ver com o transporte… É também uma questão de algumas coisas como direitos de exportação”, afirmou. A redução do preço mínimo, segundo ele, contribuirá para reduzir o preço do gás argentino em “pouco menos de US$ 1 por milhão de BTU”. A flexibilização os valores é algo que melhora a competitividade do gás argentino no Brasil, mas ele lembra que os preços mínimos estão previstos nos contratos assinados no Plano Argentino de Fomento à Produção de Gás Natural (Plan Gas.Ar) e deixarão de existir no país somente em 2028. “Então, bom, isso [redução do preço mínimo] favorece o dinamismo do mercado, a arbitragem de preços que há entre um mercado e outro, mas ainda temos um preço mínimo”. Campana vê na exigência dos preços mínimos uma barreira ao sinal de preços, em especial no mercado spot entre os países. “É uma condição que temos conjuntural, mas a longo prazo não vai existir”, resumiu.
Fonte: Eixos
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