O gás natural das reservas de Vaca Muerta, na Bacia de Neuquén, na Patagônia argentina, é visto como uma das opções para aumentar a oferta do insumo e reduzir preços no Brasil, na visão de especialistas ouvidos pelo Valor. O mercado brasileiro também é tido pelos argentinos como uma das alternativas para monetizar as megarreservas. A principal questão a ser resolvida é a logística, uma vez que não existe uma ligação física para trazer o gás diretamente da Argentina para o Brasil. Uma saída, dizem os especialistas, seria fazer a importação via Gasoduto BolíviaBrasil (Gasbol), cuja infraestrutura existe desde os anos 2000. A Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia Brasil (TBG), dona do Gasbol, diz estar pronta para escoar o gás argentino. A TBG tem como acionistas Petrobras (51%), BBPP Holding (29%), YPFB (19,88%) e Corumbá Holding (0,12%). O trecho brasileiro do Gasbol tem 2.593 quilômetros de extensão, entre os municípios de Corumbá (MS) e Canoas (RS). O duto tem capacidade de transportar 30 milhões de m3 /dia, mas hoje o gasoduto tem transportado entre 18 milhões m3 /dia e 20 milhões m3 /dia. Já existe um duto ligando a Bolívia à Argentina. Nos últimos anos, houve uma redução no fluxo do gás boliviano exportado para o mercado argentino como resultado da falta de investimentos em novas reservas pela Bolívia. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento de Vaca Muerta aumentou a oferta e permitiu que a Argentina venha a se tornar exportadora.
Em novembro, o MME firmou memorando de entendimentos com a Argentina para estudar maneiras de viabilizar a exportação do gás pelo país vizinho para o Brasil. A curto prazo, segundo o MME, estima-se uma exportação viável de 2 milhões de m3 /dia de gás natural argentino para o Brasil, chegando a 30 milhões de m3 /dia em 2030. O presidente da TBG, Jorge Hijjar, afirmou que o Gasbol não vai precisar de investimentos adicionais para escoar o gás de Vaca Muerta. Já o lado argentino do gasoduto exigiria aportes para reforçar a operação para um envio constante de gás, diz Hijjar. “Essa rota interessa muito para a TBG, nenhum investimento é necessário pela empresa. Estamos prontos para Vaca Muerta”, disse Hijjar. O executivo disse que a TBG escoou gás de Vaca Muerta em testes este ano. Mas a TBG não é a única opção de gasoduto para exportar o gás de Vaca Muerta.
Há alternativas em estudo, mas todas exigem altos investimentos. Um dos projetos, que nunca saiu do papel, faria a ligação entre Uruguaiana e Triunfo, no Rio. Grande do Sul. Esse é um projeto que interessa à Transportadora Sulbrasileira de Gás (TSB). Rivaldo Moreira Neto, sócio da Alvarez & Marsal, explicou que o aumento da produção de Vaca Muerta leva à busca de soluções para escoar o gás. Para os argentinos, um caminho mais rápido seria exportar via terminais de gás natural liquefeito (GNL), que precisariam ser construídos naquele país. “É tudo uma questão de tempos e movimentos”, disse Moreira. Em evento realizado pela S&P no Rio, em agosto, o vice-ministro de Minas e Energia argentino, Daniel González, afirmou que atualmente a Argentina vende o gás de Vaca Muerta em torno de US$ 3,50 por milhão de BTUs e que esse preço pode cair mais. Considerando custos de transporte, o gás pode chegar na fronteira brasileira a um preço entre US$ 4 e US$ 5 por milhão de BTUs, tornando-se uma alternativa à indústria. Enquanto aguarda o gás de Vaca Muerta, a TBG espera a aprovação pela ANP de investimentos para expansão da capacidade de transporte do Gasbol. O plano envolve aporte de US$ 1 bilhão para aumentar o escoamento em um trecho em até 4 milhões de m3 /dia. O aumento se justifica pela expectativa de aumento da demanda no Sul do país. “Os investimentos vão depender da demanda e, obviamente, da tarifa que os consumidores vão ter que pagar”, disse Hijjar. A primeira etapa desse projeto é a construção de uma estação de compressão de gás em Santa Catarina, que pode aumentar a capacidade de transporte até o Rio Grande do Sul em 400 mil m3 /dia.
Fonte: Valor Econômico
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