Apesar de obstáculos regulatórios para a completa abertura do mercado de gás natural, alguns agentes já começam a dar os primeiros passos rumo à desverticalização da indústria, seguindo o plano de desinvestimento da Petrobras, principal agente do setor, responsável pela produção, comercialização, transporte e distribuição de grande parte do insumo.
O movimento mais visível está na malha de gasodutos. A estatal vendeu por US$ 5,2 bilhões sua malha de gasodutos do Sudeste para um consórcio liderado pelo fundo canadense Brookfield. A malha Nordeste e Norte, com pouco mais de quatro mil quilômetros de rede, está à venda.
Com receita anual de US$ 4,7 bilhões, a rede estaria sendo negociada com exclusividade para a francesa Engie, que busca ampliar sua presença na área de gás no Brasil. A empresa, maior geradora de energia elétrica privada do país, busca diversificar sua atuação. A aquisição poderia ser feita com parceiros. A comercializadora Ecom Energia obteve autorização da Agência Nacional do Petróleo (ANP) para vender gás. A empresa já tentou, sem sucesso, comprar pequeno volume da Bolívia.
Diante das incógnitas, engavetou a ideia e partiu para outro projeto: um terminal de regaseificação de dois milhões de m3 /dia de gás natural a ser construído em Santa Catarina, que poderia ser ampliado em mais de um milhão de m3/dia. A empresa está negociando com fornecedores de gás de Trinidad e Tobago, da África e de gás de xisto, dos EUA, e fabricantes
de máquinas e equipamentos na Ásia e Europa. A assessoria financeira do projeto é da Rio Bravo.
A ideia é ter participação minoritária de 10% a 15% no projeto, cujo foco é atender à demanda de distribuidora da região Sul, onde existiria um déficit de pouco mais de dez milhões de m3 /dia. A intenção é concluir o projeto em 2019, informa o sócio diretor da Ecom Energia, Paulo Toledo.
Outros negócios com regaseificação poderão sair do papel. O Porto de Pecém (CE) tem um terminal de regaseificação de gás natural liquefeito, com capacidade para processamento de sete milhões de m3 /dia. Poderão ser construídos novos projetos de uso desse gás, como térmicas, o que pode elevar a importância de Pecém como centro energético do Nordeste, onde o potencial hidrelétrico está esgotado. Uma nova usina termoelétrica com cerca de mil megawatts de potência também poderá ser erguida nos próximos anos no terminal portuário cearense. O terminal também estaria à venda pela Petrobras.
A construção de hidrelétricas sem grandes reservatórios e o avanço de fontes intermitentes como usinas eólicas e solares exigirão o uso de energia de base na matriz elétrica nos próximos anos, o que reforçará a presença do gás.
Nos últimos 15 anos, o insumo ganhou peso na geração de energia e tornou-se a principal fonte de base do sistema. Com uma participação inferior a 5% no início dos anos 2000, o combustível tem respondido por quase um terço da energia elétrica consumida no país nos últimos três anos, um volume recorde. Com o desenvolvimento do pré-sal e a nova regulação do setor, as térmicas deverão reforçar sua presença nos próximos anos, o que pode propiciar novos negócios.
A francesa Total assinou acordo com a Petrobras, que prevê compartilhamento do uso do terminal de regaseificação de GNL da Bahia. A compra pela Total de 50% de participação em duas térmicas localizadas na Bahia, assim como o uso da capacidade de transporte dos gasodutos, permitirão à empresa fornecer gás às duas plantas de cogeração, o que a bem posiciona no mercado térmico brasileiro.
Mas o acordo é contestado na Justiça. Em agosto, um juiz de vara federal em Sergipe suspendeu a negociação, mas em setembro decisão do TRF da 5ª Região suspendeu a liminar concedida que paralisava a aquisição.
Em Sergipe, em 2017, foi concedida a licença ambiental prévia para termelétrica em Barra dos Coqueiros, com 1,5 mil MW de capacidade e R$ 5 bilhões de investimentos, feitos pela Eletricidade do Brasil e a Golar Power.
Fonte: Valor Econômico
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