Em pleno auge do período seco, quando as usinas térmicas deveriam estar funcionando a todo vapor para evitar uma queda ainda mais acentuada no volume de água dos reservatórios, a Petrobras está cortando o fornecimento de gás natural que abastecem essas unidades geradoras nas regiões Sudeste e Nordeste.
O desfalque no fornecimento do insumo é provocado pela manutenção programada de uma plataforma em Mexilhão, um dos principais campos do pré-sal na Bacia de Santos, que começou na segunda-feira e vai durar até o dia 8 de setembro.
Sem combustível para rodar suas turbinas, sete termelétricas também vão parar temporariamente, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Todas vão aproveitar a falta de abastecimento para trabalhos de manutenção. Elas deixarão de gerar até 2.100 megawatts (MW) em um momento crítico para a operação do sistema interligado.
As usinas com parada prevista nas próximas semanas são: Norte Fluminense (830 MW), Linhares (100 MW), Luis Carlos Prestes (90 MW), Governador Leonel Brizola (200 MW), Euzébio Rocha (160 MW), Termopernambuco (530 MW) e Aureliano Chaves (200 MW).
Diante do problema, as autoridades do setor elétrico acenderam o sinal de alerta. Em ofício encaminhado ao ONS na segunda-feira, ao qual o Valor teve acesso, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) observa que “a referida manutenção foi programada para o período seco, época em que se espera que as centrais termelétricas a gás natural operem por ordem de mérito para atendimento da carga”, ou seja, são opções economicamente melhores do que outras alternativas.
“Essa condição sugere que, sob a ótica do setor elétrico, o momento escolhido para a parada não tenha sido o mais adequado, visto que o sistema demanda a geração térmica para preservar água nos reservatórios até a chegada do próximo período úmido”, diz o ofício, assinado pelo superintendente de regulação dos serviços de geração da Aneel, Christiano Vieira da Silva.
A agência cobra esclarecimentos sobre os motivos da manutenção nas datas escolhidas e medidas a serem tomadas para garantir o abastecimento de energia, principalmente no Nordeste, bem como um detalhamento sobre os impactos disso para o nível dos reservatórios e para os custos totais de operação do sistema.
Nos bastidores, as autoridades do setor demonstram preocupação com os riscos de blecautes. Mais de 50% da demanda no Nordeste tem sido atendida, nos meses de estiagem, pela geração de energia eólica. Mas os ventos são muito mais imprevisíveis e, em dias com menor geração das eólicas, há necessidade de aumentar a transferência de energia de uma região para o outro. Quando isso acontece, o sistema fica mais vulnerável a sobrecargas e qualquer perda súbita em uma usina pode levar à ocorrência de apagões.
“Solicitamos desse Operador avaliação quanto à possibilidade de se reprogramar ou reescalonar no decorrer do próximo período úmido, integral ou parcialmente, as atividades de manutenção que impactam a disponibilidade da oferta de gás natural para geração termelétrica”, conclui a agência na carta enviada ao diretor-geral do ONS, Luiz Eduardo Barata.
Fonte: Valor Online
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