Dentro do seu plano de diversificar o uso de matérias-primas e fornecedores, a Braskem já havia feito adaptações para trabalhar com gás etano, sem descartar o uso da nafta, no polo petroquímico baiano. Apesar de ser um processo mais complicado para implantar na unidade do Sul, que também é abastecida fundamentalmente por nafta, a empresa não descarta que uma medida semelhante seja adotada no complexo de Triunfo, e uma opção de fornecimento para a estrutura seria o gás argentino.
O presidente da Braskem, Fernando Musa, comenta que a dificuldade para diversificar o uso de insumos no polo gaúcho é logística. O dirigente recorda que o gás etano importado que está
abastecendo a Braskem na Bahia vem dos Estados Unidos, ou seja, muito mais próximo do
Nordeste do que do Rio Grande do Sul. “Tem um desafio aí, mas com o desenvolvimento de Vaca Muerta, na Argentina, pode ser que se crie uma alternativa”, argumenta o executivo. Com a descoberta da jazida chamada de Vaca Muerta, localizada nas províncias de Neuquén e
Mendoza, a nação vizinha passou a contar com abundância de gás de xisto.
A matéria-prima, acrescenta Musa, poderia vir por navios para o Estado a partir do terminal de
Bahía Blanca. Contudo, o dirigente ressalta que seria preciso aprimorar a infraestrutura para
realizar essa ação já que a Lagoa dos Patos apresenta algumas dificuldades de navegabilidade. O uso da monoboia em Tramandaí também implicaria complicações, pois o mar é bem agitado e as condições climáticas são instáveis nessa região, o que atrapalha, muitas vezes, as operações dos navios. Musa salienta ainda que estão sendo avaliadas outras potencialidades que podem ser aproveitadas na central de Triunfo. “A gente compra muito condensado, que é outra matéria-prima
que usamos bastante no Rio Grande do Sul, e estamos olhando outras maneiras para criar
flexibilidade entre nafta e condensado”, frisa.
Em meados de novembro, quando a Braskem apresentou seu balanço do terceiro trimestre do
ano, na Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec), em São Paulo, a companhia informou que 82% da sua matéria-prima era constituída de nafta. O restante vinha de etano/propano, HLR (um gás de refinaria), propeno e etanol. No caso da nafta, 43% do insumo vinha da Petrobras e 57% era importado de mais de 20 fornecedores.
Musa comenta que esses percentuais oscilam de acordo com as condições do mercado. O diretor da MaxiQuim Assessoria de Mercado João Luiz Zuñeda argumenta que faz sentido usar gás no polo petroquímico do Sul, por ser uma matéria-prima muito competitiva. No entanto, o consultor admite que é uma ação mais complexa e mais onerosa do que na Bahia. “Mas, não é nada que não possa ser feito”, atesta. O integrante da MaxiQuim enfatiza que, segundo dados da International Energy Agency (IEA), o gás natural passará o carvão como recurso energético em 10 ou 15 anos. Essa projeção demonstra o potencial do gás no planeta. Zuñeda acrescenta que Vaca Muerta mudou o perfil energético da Argentina.
O diretor da MaxiQuim ressalta que a atividade nessa área é inicial, entretanto já é uma realidade, com petroleiras atuando na região. “Lógico que vai produzir muito mais nos próximos anos”, adianta. Além da oportunidade vinda do país vizinho, o consultor acrescenta que o petróleo que sairá do pré-sal brasileiro será acompanhado por generosos volumes de gás natural, o que poderá ser aproveitado pela Braskem. Outra possibilidade futura é o uso do gás oriundo do carvão, com a carboquímica.
Fonte: Jornal do Comércio (RS)
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