O avanço de fontes intermitentes na matriz elétrica, como usinas solares e eólicas, e a construção de hidrelétricas a fio d’água, criará a necessidade de uma fonte de energia de base para assegurar segurança no abastecimento. Construir térmicas a gás natural será uma das saídas, principalmente diante da constatação de que haverá produção crescente do insumo no país, com gás associado ao óleo extraído dos campos do pré-sal.
Quando estava à frente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Luiz Barroso brincava que no Natal seu pedido número um de presente era que a energia de base fosse obtida pela construção de hidrelétricas com reservatórios, mas ele já sabia que sua demanda era ilusória, já que, por questões econômicas e socioambientais, isso não seria possível na quantidade necessária.
“Então vamos para a geração térmica, onde o gás é a tecnologia natural. Aqui há uma pergunta sobre qual gás usar: do pré-sal ou de importação?”, questiona.
Se o gás do pré-sal for muito barato, para ele, não há dúvidas de que esta é a opção mais atraente. “Mas isso não é claro para todo mundo, pois existirão necessidades de reinjeção e isso pode tornar esse gás mais caro. Aí entra a competição com o gás regaseificado, que é importado e que está hoje bem barato. No longo prazo, a fonte nuclear mesmo pode ter um papel importante, dependendo da competitividade relativa de preços entre esta fonte e as térmicas a gás”, observa Barroso.
Ele considera que outra questão é qual será o modelo de negócios para introduzir uma tecnologia que precisa gerar na base. “Aqui eu acho importante que esta tecnologia de base seja ‘contestada’ por outras opções, pois pode haver fontes que entregam os mesmos serviços a preços menores”, destaca.
Nesse sentido, para ele, o governo federal já efetuou mudanças nos leilões em 2017, quando foram criadas condições para que térmicas de base competissem contra térmicas mais flexíveis (que possuem custo do gás mais caro).
O leilão A-6 (contratação de energia em seis anos) de 2017 contratou duas usinas térmicas (Vale Azul e Prumo) que adotaram estratégias comerciais para despachar “na base” e cujo suprimento de gás envolve de alguma forma o gás do pré-sal.
O projeto de Porto do Açu III, da Prumo Logística, terá capacidade instalada de 1.672,6 MW e demandará investimentos de R$ 3,432 bilhões. A térmica Vale Azul II, pertencente ao consórcio Marlim Azul, composto pela Vale Azul Energia e a
Mitsubishi Hitachi Power Systems, terá 466,3 MW de capacidade instalada. Ambas as usinas estão no Rio de Janeiro,próximas a centros produtores de petróleo.
Para Barroso, o maior obstáculo do avanço da energia térmica é a oferta de gás firme a preços competitivos. “Um entrave para o gás competitivo é aprimorar a coordenação da expansão da geração termelétrica, da expansão das novas rotas do pré-sal e mecanismos para direcionar parte desse gás para o mercado não termelétrico”, observa.
Ele ressalta que o modelo da usina termelétrica de Vale Azul, por exemplo, só se concretizou porque toda a infraestrutura de gasodutos já estava pronta e porque a Petrobras durante muito tempo comprou o gás natural da Shell e o vendeu para o segmento não termelétrico.
O governo também está de olho nesse ponto. “A disponibilidade do gás natural e do gasoduto de transporte é questão fundamental a ser equacionada, tanto para despachos na base como para prover flexibilidade ao Sistema Interligado Nacional. Pelas regras atuais de comercialização, o suprimento do combustível precisa estar garantido ainda que a usina fique sem gerar por longos períodos. Isso pode levar a custos fixos relativamente altos”, destaca a Empresa de Pesquisa Energética no Plano Decenal 2026.
Desde 2012, as térmicas têm ganhado espaço, com destaque ao gás natural. Em 2001, sua capacidade instalada (usinas movidas a óleo diesel, óleo combustível, gás natural e carvão mineral) era de 5.127 MW. Hoje, supera 25 mil MW.
Fonte: Valor Econômico
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