O gás associado ao pré-sal —anunciado como uma grande aposta para baratear a energia elétrica— terá dois grandes desafios para atingir a esperada competitividade: o elevado custo para transportá-lo até a terra e a alta presença de gás carbônico.
Embora a expectativa seja grande, ainda não se sabe ao certo qual é, afinal, o volume de gás do pré-sal barato —que, por sua vez, daria origem a usinas térmicas de baixo custo.
Hoje, já se sabe que metade dos campos de exploração do pré-sal estão em áreas consideradas comercialmente inviáveis para esse tipo de atividade, segundo a EPE, órgão responsável pelos estudos que embasam o planejamento energético do país.
Isso ocorre porque nessas áreas, o gás tem um teor de gás carbônico superior a 20%. Isso exigiria uma “limpeza” que, hoje, é cara demais e tornaria o uso desse gás em usinas térmicas pouco competitivo.
Pode haver surpresas, por exemplo, uma área com gás sem gás carbônico dentro de uma zona em que se esperava alta concentração — ou o oposto. Essa análise mais detalhada ainda está em curso, afirma o consultor técnico Gabriel de Figueiredo da Costa, da superintendência de gás natural da EPE.
“Há muito potencial do gás do pré-sal, mas não muita certeza quanto a uma redução do preço, que seria motivada por uma grande oferta, porque essa nova oferta que vai entrar é de um gás mais caro do que é produzido hoje”, diz ele.
No ano passado, o então ministro de Minas e Energia Moreira Franco (MDBRJ) foi um defensor da realização de leilões para construir mais usinas térmicas a gás. Uma das justificativas era estimular projetos na região do pré-sal.
“Nós vamos ter uma abundância de gás no pré-sal, e obrigatoriamente vai ser barato”, declarou o emedebista no fim do ano passado.
Procurado para comentar o assunto, o Ministério de Minas e Energia, hoje sob uma nova gestão, não se manifestou até a publicação.
Além do teor de gás carbônico, outro grande desafio para o gás do pré-sal é seu transporte até a costa, já que uma grande parte das áreas de exploração ficam distantes, e o custo de construir gasodutos é elevado.
Até agora, apenas uma térmica com gás do pré-sal venceu um leilão de geração e já tem contrato para vender energia aos consumidores brasileiros: a usina Vale Azul, de um consórcio formado por Shell, Pátria e Mitsubishi Hitachi Power.
O preço da energia, considerado extremamente barato, animou o mercado — embora, no caso desse projeto, já houvesse um gasoduto construído, o que garantiu sua competitividade, segundo um analista do setor.
Para ele, um problema para viabilizar projetos novos é o planejamento: para participar dos leilões e conseguir firmar um contrato de fornecimento de energia térmica, é preciso comprovar a oferta do gás. Mas, para garantir essa oferta, é preciso ter previsibilidade e certeza de que o investimento no gasoduto não será em vão.
A expectativa, diz ele, é que até o fim deste ano a questão esteja solucionada, e que mais projetos de usinas térmicas com gás do pré-sal poderão sair do papel a preços competitivos. Hoje, a expectativa em torno dessa oferta é elevada. “O potencial de abastecimento do gás do pré-sal é gigantesco. Há espaço para muitos avanços e para soluções competitivas [aos desafios]”, afirma Claudio Salles, presidente do Instituto Acende Brasil.
Fonte: Folha de S.Paulo