As hidrelétricas localizadas no rio São Francisco, que durante muito tempo supriram integralmente a região Nordeste, podem vir a ter um papel de coadjuvante a partir de 2023. No lugar, a solução que caminha para viabilidade seria colocar as termelétricas a gás natural para fazer o suprimento de base da região, colocando as hidrelétricas na função de modular o suprimento vindo do segmento eólico.
A proposta ganha força dentro de determinadas alas do governo ao observar as restrições hídricas do São Francisco e as perspectivas com grandes volume de gás provenientes do pré-sal. Por enquanto, o governo segue aprofundando os estudos para viabilizar o leilão de potência para contratação de térmicas a gás no Nordeste.
As restrições hídricas do São Francisco há muito tornaram a capacidade instalada das hidrelétricas da região uma figura do passado, tanto que as usinas Paulo Afonso 1, 2 e 3 e a usina Apolônio Sales (Moxotó) estão virtualmente paradas há mais de quatro anos. Para o diretor-geral do ONS, Luiz Eduardo Barata, a tendência é que essas hidrelétricas passem, no futuro, a servir de suporte para quando as eólicas não estiverem gerando.
Dados do informativo preliminar diário da operação do ONS, relativo ao último domingo (28/4), mostram que, da carga elétrica de 9.947 MW do Nordeste, o segmento eólico atendeu 37,86%, com 3.766 MW. As hidrelétricas, cuja potência instalada somente no rio São Francisco soma 9.971,11 MW, contribuíram com 2.187 MW (21,98%), enquanto as termelétricas responderam com 1.726 MW (17,35%). O restante foi importação da região Norte e 323 MW de energia solar (3,25% do total).
Um ponto que conta a favor das térmicas a gás, na avaliação de Barata, é o fato de que o gás do pré-sal por ser associado precisará ser utilizado cada vez mais à medida em que a produção de petróleo no país cresça. Esse quadro, portanto, obrigaria praticamente que a energia de base para o Nordeste seja de termelétricas a gás.
Entretanto, para viabilizar esse suprimento, reconhece ele, serão necessários investimentos em gasodutos ou em estações para conversão de GNL, na medida em que os estudos concluam o que é econômica e operacionalmente mais vantajoso para atendimento à região.
O superintendente de Planejamento da Geração da EPE, Jorge Trinkenreich, concorda que o futuro do Nordeste é ter usinas flexíveis a gás na base, mas ainda não está convicto quanto à forma de fornecimento do combustível, se via dutos ou por estações de GNL. No caso da opção por dutos, explica, pode ser mais viável fazer as usinas próximas aos campos de produção do Sudeste, onde está a maior concentração do pré-sal, e construir linhas de transmissão para levar essa energia para o Nordeste.
“O custo ambiental das linhas de transmissão é menor do que o de construir novos gasodutos”, pondera. A alternativa para se fazer usinas diretamente no Nordeste seria a confirmação do potencial do pré-sal de Sergipe.
Após ser praticamente uma decisão tomada no começo do segundo semestre de 2018, quando chegou a estar previsto para dezembro do mesmo ano, o leilão de térmicas a gás no Nordeste gerou muita polêmica e oposição em vários segmentos do setor, incluindo divergências entre integrantes do governo. Na época, o debate e a proximidade da troca de governo acabaram por obrigar a realização de novos estudos, até porque, caso a proposta venha a se confirmar, será preciso mudar a Lei nº 10.848, que rege os leilões de energia elétrica.
Fonte: Brasil Energia