A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e representantes das indústrias do setor de Gás Natural Veicular (GNV) são contrários à proposta do Inmetro de mudar a medição do combustível de metros cúbicos para quilograma.
De acordo com estudos realizados pela Firjan em conjunto com o Sindirepa — sindicato que reúne as indústrias de reparação automotiva em veículos — a mudança, além de não reduzir os riscos de fraudes, alegados pelo Inmetro, vai dar a percepção errada para o consumidor de que o GNV ficou mais caro, o que poderá provocar uma forte redução na conversão dos veículos para o uso do combustível.
Thiago Valejo Rodrigues, coordenador de Conteúdo Estratégico de Óleo e Gás da Firjan,explicou que ao ser vendido por quilo, o GNV vai parecer ao consumidor que está custando mais caro por conta da densidade. Por ser muito leve, quando o gás é transformado para quilos, é preciso mais gás para ocupar o peso. Cada 1,3 metro cúbico corresponde a um quilo.
Segundo o executivo, não faz sentido que em toda a cadeia de produção o GNV seja medido em metros cúbicos e, na ponta da venda, passe a ser medido em quilogramas. Em sua proposta, já encaminhada ao Inmetro, a Firjan sugere que, se uma mudança for necessária, que seja feita então para litros, como já acontece nos Estados Unidos.
Pelos argumentos apresentados pela Firjan, existe o receio de que com a mudança para quilo na medição do GNV, o consumidor, ao ter a percepção de que o produto está custando mais caro, acabe não fazendo a conversão.
“A mudança aparente nos preços vai afastar o consumidor do GNV, causando um prejuízo para as indústrias”, explicou Rodrigues.
Presidente do Sindirepa, Carlos Mattos acrescentou:” O consumidor final não tem essa informação da eficiência energética do gás na bomba”.
O diretor de metrologia legal do Inmetro, Marcos Trevisan, explicou que, de fato, como cada quilo de GNV tem 30% mais gás que um metro cúbico, o valor cobrado nos postos aumentará proporcionalmente.
Por exemplo, se o valor do metro cúbico é de R$ 3,199, o preço cobrado pelo quilo do GNV será de R$ 4,159. Mas para encher um cilindro de 15 metros cúbicos o motorista precisará de apenas 11,5 quilos de gás. Dessa forma, o preço continuará o mesmo, de R$ 47,98, para ambos os casos.
Por isso, Trevisan reconheceu que serão necessárias campanhas educativas para que, ao ver o preço do gás mais caro na entrada dos postos de gasolina, o consumidor não ache que está, efetivamente, pagando mais.
“Estamos fazendo uma campanha para esclarecer as vantagens dessa mudança e mostrar que embora aparentemente o preço fique mais alto, isso não representa um aumento no valor pago no abastecimento”.
A mudança da medição do GNV de metro cúbico para quilograma está em consulta pública até meados do próximo mês. A Firjan além de ter entregue seus estudos ao Inmetro, vai apresentar suas sugestões na consulta pública também.
Intenção é evitar fraudes
A proposta de mudança tem como principal objetivo regulamentar esse setor. Hoje, as bombas de GNV dos postos não possuem certificado do Inmetro. O gás vendido para uso automotivo é comercializado em pressões elevadas, e armazenados em bombas que possuem medidor em massa, ou seja, quilos.
Para que seja calculado o valor por metro cúbico, esses medidores precisam ser ajustados. Como quem faz esse ajuste são as próprias distribuidoras, o Inmetro alega que a comercialização fica mais suscetível a fraudes.
“Se eu tiver um dispenser (bomba) que mede em massa, não preciso mais fazer ajustes, e isso reduz a possibilidade de fraudes”, aponta Trevisan.
Porém, Thiago Rodrigues, da Firjan, afirma que as fraudes continuarão acontecendo. Ele citou como exemplo algumas distribuidoras que acrescentam óleo no gás para ocupar mais espaço. Caso a medição fosse feita em peso, ou seja, quilos, esse tipo de fraude seria ainda pior para o consumidor.
“O que tem que fazer é aprimorar o método da fiscalização”, ressaltou Celso Mattos.
Para o diretor do Inmetro, porém, esse é um problema que diz respeito à ANP.
“Esse tipo de fraude extrapola a competência do Inmetro. A mistura de óleo no gás é indevida, e o problema seria na fiscalização por parte da ANP”, afirma Trevisan.
Fonte: Extra