O consumo nacional de gás natural atingiu, em abril, o fundo do poço e deu sinais de uma leve melhora em maio, em meio à pandemia da covid-19, segundo a Abegás. A recuperação, contudo, promete ser lenta.
De acordo com levantamento da entidade, as vendas de gás no mercado não térmico tombaram 31,5% em abril, na comparação com igual período do ano passado, e 22,1% em relação a março.
A queda em abril foi puxada principalmente pelo segmento industrial, que consumiu 31,7% menos na comparação anual, uma redução de volume de quase 9 milhões de metros cúbicos por dia (m3/dia). Segundo a Abegás, o movimento de queda da demanda industrial já existia no início do ano, mas ficou bastante acentuado com os efeitos severos da pandemia.
Além da indústria, outro segmento gravemente afetado é o comércio. Embora hospitais, supermercados e padarias sigam com seu consumo em patamares históricos, milhares de negócios tiveram suas atividades interrompidas ou tiveram sua demanda significativamente reduzida. O consumo de GNV, nos postos, também caiu com a adoção do home office e o menor uso de táxis e veículos ligados a aplicativos.
De outro lado, o segmento residencial vem registrando altas de consumo. A tendência é que esse quadro se mantenha, em parte porque as pessoas ficarão mais temerosas de sair por algum tempo, em parte por uma mudança de cultura.
Apesar de mais de 3,5 milhões de pontos conectados à rede de gás, contudo, o crescimento do setor residencial não é suficiente para atenuar o consumo geral.
Os dados de maio ainda não foram consolidados, mas a Abegás estima que a tendência é de leve recuperação do mercado não térmico em relação a abril. Na comparação com maio de 2019, no entanto, a expectativa é que o consumo permaneça em queda.
“Embora diversos estados ensaiem movimentos de flexibilização de medidas de isolamento social, acreditamos que, nesse ‘novo normal’, as restrições dispostas nos protocolos seguirão impactando drasticamente vários modelos de negócios comerciais que usam gás natural, o que nos leva a supor que o segmento seguirá sentindo os efeitos da pandemia por um tempo mais longo”, comenta o diretor de estratégia e mercado da Abegás, Marcelo Mendonça.
O cenário, segundo ele, preocupa, devido ao aumento de inadimplência.
O diretor conta que, por isso, a Abegás tem conversado com o MME e outros agentes para que se crie um fundo setorial que ajude a indústria de gás natural a atravessar a crise. “Assim como ocorreu no setor elétrico, é preciso agir para evitar uma indesejável desestruturação do setor”, disse.
Fonte: Valor Online