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Lei do gás traz investimentos de pelo menos US$ 10 bilhões

A nova lei do gás deve destravar ao menos US$ 10 bilhões em investimentos no setor químico e atrair para o país projetos que têm sido direcionados para outros mercados, onde os preços do gás natural, usado como energia e matéria-prima pela indústria, é mais competitivo. Responsável por 25% da demanda industrial de gás natural no mercado brasileiro, o setor químico poderá triplicar o consumo até 2030 na esteira do novo marco.

“É preciso repensar o tecido industrial brasileiro. A indústria química é a base dele e o gás é a agenda positiva do setor”, diz a diretora de Economia e Estatística da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Fátima Giovanna Coviello Ferreira.

A expectativa do setor é a de que a regulamentação seja aprovada pelo Congresso e sancionada ainda em 2020, colocando fim ao monopólio da Petrobras e possibilitando o compartilhamento de infraestrutura (gasodutos e unidades de regaseificação), num momento em que o gás liquefeito (GNL) está barato no mercado internacional e há oferta abundante.

Hoje importador de metanol, o Brasil já foi autossuficiente no insumo, que entre outras aplicações é usado na produção de biodiesel. “O país importa o equivalente a uma fábrica de metanol, que tem 70% de seu custo de produção no gás”, afirma Fátima. Do lado dos fertilizantes, pela lógica dos volumes importados, haveria espaço para ao menos duas ou três fábricas no país, além das fábricas de fertilizantes nitrogenados (Fafens) da Petrobras.

Dona da Rhodia, a belga Solvay tem “algumas dezenas de milhões de euros” em projetos que sairão do papel a partir do livre mercado de gás no país, de acordo com a presidente do grupo na América Latina, Daniela Manique. “O projeto de lei não traz respostas para tudo, mas inicia a regulamentação e traz avanços importantes”, diz a executiva.

Desde o ano passado, a Rhodia está preparada para se tornar a primeira consumidora industrial do mercado livre de gás no Estado de São Paulo. A empresa já tem acertado o fornecimento do insumo com outros fornecedores, mas a assinatura dos contratos depende da nova regulamentação.

Na Unipar, segundo o presidente Mauricio Russomano, projetos que foram considerados inviáveis economicamente poderão ser reavaliados a partir das mudanças no mercado de gás, combinadas às taxas de juros mais baixas. Maior produtora de cloro-soda cáustica da América Latina, a companhia tem cerca de 50% de seu custo de produção relacionado à eletricidade – a expectativa é a que os custos da energia também caiam, uma vez que o gás mais barato favorece a geração termelétrica. “Não será imediato, mas provavelmente reavaliaremos alguns projetos que antes não eram viáveis”, conta. Como presidente do conselho diretor da Abiclor, entidade que representa esse segmento da indústria química, Russomano diz que essa atividade, como um todo, será beneficiada direta ou indiretamente pela nova regulamentação.

A Unigel, que arrendou duas fábricas de fertilizantes da Petrobras no Nordeste por R$ 177 milhões, diz que a aprovação do novo marco será relevante para a rentabilidade da operação. Hoje, enquanto o preço do gás pago por Unigel e demais empresas químicas e petroquímicas do país é de US$ 14 o milhão de BTU, o custo está em US$ 7 e US$ 3 o milhão de BTU na Europa e nos Estados Unidos, respectivamente.

De acordo com a vice-presidente e analista sênior da Moody’s Cristiane Spercel, o novo marco legal moderniza a regulação do setor de gás e ajuda a destravar R$ 60 bilhões em investimentos, “dando continuidade às iniciativas de desverticalização de ativos de transporte e produção de gás de 2016”, com a venda de ativos da Petrobras. “Esperamos que a nova lei facilite o acesso à infraestrutura, a promoção da concorrência e do mercado livre. Ainda assim, será fundamental que haja harmonização do ambiente regulatório nas esferas estaduais”, pondera.

Fonte: Valor Econômico

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