A Fluxys, grupo belga de infraestrutura de gás natural, fechou um acordo com a americana EIG Global Energy Partners para compra de uma fatia de 27,5% na Transportadora Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG), responsável pela operação do lado brasileiro do gasoduto binacional. O negócio, cujo valor não foi divulgado, marca a estreia da empresa europeia no mercado de gás do Brasil, num momento estratégico em que a Petrobras prepara a privatização da TBG. Já a EIG, até então a maior acionista privada da transportadora, sai da companhia de olho em novas oportunidades no setor de gás.
O presidente global da EIG, Blair Thomas, disse ao Valor que a empresa quer se posicionar como um agente relevante no desenvolvimento da infraestrutura de gás no país, de olho na abertura do setor. A americana controla a Prumo Logística – dona do Porto do Açu, idealizado por Eike Batista em São João da Barra (RJ) – e tem hoje em carteira projetos de US$ 300 milhões a US$ 400 milhões para construção de dois gasodutos e um oleoduto que irão conectar o complexo portuário à malha nacional.
Além dos gasodutos, a Gás Natural Açu (GNA), joint venture entre a Prumo, BP e Siemens, passará a operar este ano no Açu um terminal de gás natural liquefeito (GNL) e estuda projetos de unidades de processamento e de um gasoduto marítimo para trazer o gás do pré-sal para a costa. “O Brasil tem gás e demanda e olhamos para conectar os dois”, disse Thomas.
A saída da EIG da TBG se dá oito anos após a entrada da americana no capital da transportadora, em 2012. “Foi um investimento de sucesso para nós”, disse o executivo. Ele explica que o fundo de investimento estruturado, na ocasião da aquisição do ativo, foi concebido para ter uma vida de dez anos. “O fundo estava chegando ao fim de sua vida e precisávamos avançar com a monetização desse investimento. Mas temos outros grandes investimentos em gasodutos que esperamos fazer no Brasil. Isso [a venda da TBG] nos libera a fazer mais. Não é uma saída do mercado brasileiro de gás”, comentou.
A expectativa é que o negócio seja concluído em dois meses. Pelo acordo entre as partes, a EIG e a Fluxys também irão atuar em cooperação estratégica no mercado de infraestrutura de gás do Brasil. Thomas destaca que a entrada da empresa belga no capital da TBG é mais um “voto de confiança” de investidores internacionais na abertura do mercado brasileiro de gás natural. O executivo cita a aposta feita, nos últimos anos, por empresas como a Engie e o fundo canadense CDPQ – que compraram a Transportadora Associada de Gás (TAG) – e a Brookfield, que adquiriu a Nova Transportadora do Sudeste (NTS).
A Fluxys é uma empresa que atua na infraestrutura de gás na Europa, com foco no transporte, armazenamento de gás e em terminais de GNL. Controlada pela belga Publigas, a companhia opera cerca de 8 mil quilômetros de gasodutos e, em 2019, registrou receitas de 1,1 bilhão de euros.
Ela entra no capital da TBG com a compra dos 27,5% que a EIG possui, direta e indiretamente, no ativo. A americana detém 8% da TBG por meio da GTB-TBG Holdings (100% EIG) e uma fatia indireta de 19,5% por meio da BBPP Holdings e YPFB Transporte do Brasil Holding. A transportadora é controlada pela Petrobras (51%) e tem ainda como sócios a francesa Total (9,6%) e a boliviana YPFB (11,9%). Em dezembro, a estatal brasileira abriu oficialmente o processo de venda de sua participação na TBG, empresa com receitas de R$ 1,7 bilhão/ano.
Em nota, a Fluxys destacou que a entrada no capital da TBG faz parte da estratégia de internacionalização da empresa, para fora da Europa, rumo a “mercados estáveis com oportunidades de crescimento”. “O Brasil, nesse sentido, tem grandes perspectivas de crescimento da demanda de energia e o gás natural permite atender a essa necessidade em conjunto com fontes renováveis.” A empresa informou que abrirá uma filial no Brasil em breve, de olho no desenvolvimento de negócios no país e na região da América Latina.
O acordo entre a EIG e a Fluxys se dá um mês após a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) aprovar a valoração da base regulatória de ativos do gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol), um dos critérios utilizados para calcular a tarifa máxima que a TBG pode cobrar e que impacta diretamente na fixação do preço do ativo.
Novos negócios
Sobre os novos negócios na área de gás, Thomas afirma que a expectativa é tomar neste ano uma decisão final sobre o investimento nos projetos de novos gasodutos que visam a ligar o Açu à malha nacional. A GNA tem hoje em carteira uma rota que vai até Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense (o projeto Gasog) e uma outra que vai até Macaé (Gasinf).
A empresa busca potenciais parceiros e a ideia é construir os dois empreendimentos. Além dos gasodutos, a Prumo, por meio da Açu Petróleo (parceria com a Oiltanking, para transbordo de óleo), tem em carteira um projeto de um oleoduto que se conectará à infraestrutura existente na região Sudeste.
O executivo destacou também a intenção da EIG de investir em gasodutos marítimos e disse que, além do projeto próprio da Prumo, para trazer o gás do pré-sal até a Açu, a empresa monitora os desdobramentos dos desinvestimentos que a Petrobras pretende fazer no setor. A ideia da estatal brasileira, a princípio, é reunir todas as suas rotas de escoamento numa só companhia e abrir o capital neste ano da nova empresa, mas ainda não há uma decisão fechada com os sócios sobre o assunto. “São ativos estratégicos que achamos interessantes”.
Thomas disse que, além do mercado de gás, a EIG olha com atenção para oportunidades de investimentos no setor de energia como um todo, no Brasil. Ele destaca que a empresa monitora o programa de venda de campos da Petrobras, especialmente na Bacia de Campos, e que também tem planos de investir em energias renováveis e em projetos de baixo carbono no Açu. “Investimos globalmente e vamos alocar capital nos lugares onde acreditamos que estejam as melhores oportunidades. O Brasil é um mercado atrativo”, disse.
Ele cita que a empresa americana tem mantido negociações com potenciais parceiros internacionais interessados em desenvolver projetos na área de renováveis. “O primeiro passo é conseguir um parceiro e acho que acontecerá neste ano.”
Fonte: Valor Online
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