Criada em 2019, de olho nas oportunidades geradas pela abertura da indústria de gás natural, a Gas Bridge vive a expectativa de estrear como comercializadora, no mercado livre, no primeiro semestre. Em paralelo a negociações com clientes e produtores de gás, a empresa controlada pela Lorinvest, gestora de investimentos do grupo Lorentzen, prepara o terreno para atuar em outros nichos dentro do setor e promete investir US$ 300 milhões no campo de Manati (BA), para transformá-lo num ativo de estocagem de gás.
O plano é começar a prestar o serviço a partir do fim de 2022. A Gas Bridge corre para se consolidar como o primeiro provedor de estocagem do Brasil. Investimentos em infraestrutura (como unidades de processamento e de liquefação) e distribuição de gás natural liquefeito (GNL) para mercados desconectados da malha de gasodutos também estão no radar. O presidente da empresa, Marco Tavares, conta que o plano da companhia é atuar na ponte entre os produtores e consumidores, fora do ambiente regulado (como transporte e distribuição).
A Gas Bridge conta com o capital da Lorinvest, mas pretende, para cada projeto, nas diferentes áreas de negócios da companhia, atrair parceiros. “A ideia é trazer fundos de grande porte para investir em infraestrutura”, afirma Tavares ao Valor.
No futuro, abrir o capital da empresa na bolsa também é uma possibilidade. “Vamos olhar todas as alternativas possíveis de estruturação financeira da empresa para atrair capitais. Pode ser um IPO [abertura de capital], uma parceria com fundos”, comenta. “Mas primeiro temos que consolidar os nossos projetos”, ressalva.
Fundador da consultoria Gas Energy, Tavares é também um dos cofundadores da Gas Bridge, ao lado de João Carlos de Luca, ex-diretor da Petrobras e ex-presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP). Ambos participaram, como consultores, da gestação do Novo Mercado de Gás, programa do governo que visa a reduzir o domínio da Petrobras no segmento. Esteban Papanicolau (ex-Gas Porto), Ronaldo Borgerth e Peter Boot (oriundos do Lorinvest) também são co-fundadores da empresa.
Dentre as diferentes áreas de negócios, a Gas Bridge espera começar a operar, primeiro, como comercializadora. A companhia tem uma carteira de potenciais clientes industriais interessados em migrar para o mercado livre. A expectativa é avançar nos próximos meses nas negociações para aquisição do gás junto aos supridores. A ideia da empresa é montar um mix entre gás importado da Bolívia e gás nacional.
A Gas Bridge chegou a negociar um acordo com a estatal boliviana YPFB, em 2019, mas o negócio não avançou na ocasião, em meio às incertezas políticas no país vizinho. Tavares está confiante, agora, em fechar um contrato para importação da Bolívia no primeiro semestre. A empresa também prevê fechar acordos com produtores no Brasil, no segundo semestre. Uma vez equacionado o suprimento, a ideia é recorrer aos contratos de curto prazo com a Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG), para acesso ao gasoduto Gasbol, que se estende, no Brasil, de Mato Grosso do Sul à região Sul.
A meta da Gas Bridge é fechar uma carteira de clientes de 5 milhões de metros cúbicos diários (m3 /dia), o equivalente a 14% do consumo das indústrias no Brasil. Segundo Tavares, o setor industrial “está pronto” para a migração. “Toda essa vivência que a indústria passou [com a abertura] no setor elétrico a preparou para esse momento da abertura do gás”, disse.
No negócio de estocagem, por sua vez, a Gas Bridge tem contratos assinados com a Enauta, PetroRio e Geopark, no valor total de R$ 848,8 milhões, para compra de 65% do campo de gás de Manati (BA). A empresa também participa do processo de venda dos 35% da Petrobras na concessão. Tavares explica que o ativo, que está em fase de declínio da produção, possui vocação geológica para estocar gás. O plano da companhia é investir na conversão do campo para estocagem, num projeto de US$ 300 milhões – incluindo a aquisição e conversão do ativo.
A estocagem garante liquidez ao mercado. Dentre os potenciais interessados, estão produtores que buscam garantir a segurança no fornecimento aos seus clientes. Com ela, fornecedores podem recorrer ao estoque e garanti a entrega prevista em contratos com indústrias, por exemplo, em momentos de oscilação na produção.
“Até hoje quem tem feito esse trabalho de supridor e comprador de ultima instância do mercado é a Petrobras… Mas [com a abertura] começa a haver necessidade de alguém que possa prover esse serviço”, afirma o membro do conselho consultivo da Gas Bridge, Marcelo Menicucci.
A empresa mira a aquisição de outros ativos com vocação para estocagem, mas aguarda, antes, a aprovação da Nova Lei do Gás.
A Gas Bridge está estruturada em quatro áreas de negócios: comercialização; estocagem; novas tecnologias (como produção de diesel a partir do gás); e infraestrutura de midstream (elo que conecta a produção ao mercado).
Na área de infraestrutura, Menicucci diz que a companhia estuda unidades de processamento; otimização de rotas de escoamento; liquefação; e logística para escoar líquidos do gás natural – frações do gás que contêm propano e butano, que formam o gás liquefeito de petróleo. A Gas Bridge vê uma falta de infraestrutura para transportar esse LGN para mercados fora do Sudeste e cogita atuar na infraestrutura, nesse nicho.
Fonte: Valor Econômico
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