Sempre fui criada para me tornar uma mulher independente. Acho que isso foi a maior riqueza que meus pais puderam me dar. Estudei até o ensino médio em Maceió, mas voltei para Recife, onde nasci, para fazer a faculdade. Foi um desafio sair de casa aos 16 anos para morar e estudar longe da família, mas a experiência em Recife me proporcionou um crescimento pessoal e profissional incomparável.
Eu me considero alagoana de coração. Ao saber da oportunidade que surgiu na Gás de Alagoas S/A (Algás), fiquei feliz com a possibilidade de trabalhar mais próximo da minha família e amigos. Comecei trabalhando na área de atendimento ao cliente, mas logo tive a oportunidade de trabalhar na Gerência de Operação e Manutenção, que é um trabalho mais próximo da minha formação e que me deixou muito feliz de poder desenvolver atividades que são mais compatíveis com o meu perfil. Aqui tenho a possibilidade de aprender bastante e evoluir na carreira.
Faço atividades como o planejamento e controle de manutenção, operação do sistema supervisório da Algás, elaboração de documentações técnicas para aquisição de materiais e equipamentos. Além disso, acompanho algumas manutenções na rede de distribuição e operação e atuo na calibração de cromatógrafos.
São oito anos que estou na empresa e evidentemente tive vários desafios que me fizeram crescer profissionalmente. É uma conquista. Sou a única funcionária mulher dentro da Gerência. Isso não foi um problema. Sou engenheira e sempre trabalhei em ambientes predominantemente masculinos. Meu relacionamento com os colegas é ótimo. Já passei por preconceito em outras experiências profissionais e fico feliz em estar em um lugar onde sou tratada com respeito e como uma igual.
Mas ainda temos que lidar com preconceito, mesmo quando este parece um elogio. Certa vez, um técnico terceirizado que estava prestando serviço para a Algás chegou a comentar que ficara impressionado com minha postura de trabalho, como se esperasse que eu agisse de maneira diferente por ser mulher. Só porque coloquei a “mão na massa”.
Em outra situação, numa entrevista de emprego, me questionaram se eu não iria me incomodar de quebrar a unha numa atividade de campo. São coisas que não se perguntam ou falam aos homens. Eu já me acostumei ao longo de 11 anos de carreira com esse comportamento e hoje lido melhor. Se percebo que o comportamento está me prejudicando, eu me imponho.
De um modo geral, no mercado de trabalho, ainda há muito preconceito na área de engenharia. Muita gente acha que a engenheira supostamente não teria o mesmo nível de conhecimento de um homem, por exemplo. É muito comum ter que provar que você é capaz. Ainda precisamos ser vistas como tão competentes quanto os homens.
As perspectivas da Algás são boas, com a interiorização da rede e o crescimento da indústria. Espero conhecer e trabalhar com novas tecnologias e métodos de melhoria da distribuição.
Minha mensagem a todas as mulheres é que não abaixem a cabeça e se imponham dentro do ambiente de trabalho. Demonstrem que vocês são tão competentes quanto seus colegas homens.
* Paula Teixeira, 33 anos, é graduada em Engenharia Mecatrônica pela Universidade de Pernambuco e tem Pós-Graduação em Automação Industrial pela Faculdade Pitágoras.