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Telma Costa Thomé: Gerente de Qualidade e Planejamento da Gasmar e integrante do Conselho Fiscal da Abegás

Meu ambiente de trabalho é eminentemente masculino. Mas isso nunca constituiu nenhum impedimento na minha carreira profissional, embora tenha consciência que essa não seja a realidade de muitas mulheres.

Em minha carreira, só tive um episódio em que me senti vista de modo inferior por ser mulher. Não o considerei relevante, nem guardei nenhum tipo de ressentimento. Continuei agindo normalmente, reafirmando minha certeza de que o que importa são as pessoas. Essa confiança é um legado familiar. Fui fortemente influenciada pela capacidade de liderança do meu pai. Ele era generoso, humano e inclusivo. Seu exemplo orientou minha trajetória.

Sempre valorizei o trabalho em equipe, a visão sistêmica e a disposição para aprender. Comecei minha vida profissional na então Companhia Energia do Maranhão (Cemar), na área de Planejamento de Mercado de Energia, onde permaneci por muitos anos, sempre na área de mercado, onde fui gerente e liderei, por ocasião da reestruturação do setor elétrico, a gestão do risco regulatório e o relacionamento institucional da empresa. Foram anos de muito aprendizado e de construção de muitos relacionamentos, que considero um valioso patrimônio construído e cuidado com muito respeito e responsabilidade.

Depois de longos anos na Cemar, iniciei um trabalho na iniciativa privada, prestando consultoria, com outros colegas, nas áreas de energia e meio ambiente. Nessa condição participamos e vencemos uma licitação pública para fazer, no Maranhão, a gestão e a fiscalização do Programa Luz para Todos, trabalho que liderei com muito prazer e que foi tratado como uma política pública de grande prioridade para a construção e desenvolvimento da infraestrutura de um estado, que, pela extensa área territorial, apresenta regiões de baixa densidade demográfica, o que, por muitos anos, não viabilizaria a construção de redes de distribuição de energia para atender essas regiões.

Nesse período, recebi o convite do então governador do estado, José Reinaldo Tavares, para assumir a presidência da Companhia Maranhense de Gás (Gasmar), missão que aceitei com muita honra e permaneci até o final de seu mandato. Na sequência, o governador eleito, Jackson Lago, me convidou para permanecer no cargo, o que mais uma vez, duplamente honrada, aceitei. Permaneci na presidência da empresa, ocasião em que construímos o caminho para assinar nosso primeiro contrato, com investidores que adquiriram, junto à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), os chamados poços marginais de gás natural, localizados na área de amortecimento do Parque dos Lençóis Maranhenses.

Após essa gestão, nos quatro anos seguintes, me dediquei à academia, pois também sou professora universitária, e a consultorias nas áreas planejamento estratégico e de infraestrutura básica.

Em 2015, o governador Flávio Dino assumiu seu primeiro mandato e me honrou com o convite para assumir a presidência da Gasmar, agora pela terceira vez, cargo que permaneci até outubro de 2017, quando fui então contratada como gerente de Planejamento, posto que ocupo hoje e que me deu oportunidade de trabalhar diretamente com o desenvolvimento de equipe e construção de cenários de mercado de gás. Essa atribuição me permite aproveitar a grande experiência que adquiri ao longo desses anos no mercado de energia. E ainda tenho muito a aprender!

A Gasmar hoje é uma empresa que faz operação e manutenção de gasodutos na nossa base, em Santo Antônio dos Lopes, município-base da produção de gás e geração de energia térmica, na bacia de Parnaíba, pela Eneva.

Estamos trabalhando com a possibilidade de atender cliente industriais e o segmento veicular a partir de Gás Natural Liquefeito (GNL) e esse projeto tem o apoio de todos os stakeholders envolvidos no negócio. Tudo isso é um trabalho de uma equipe altamente qualificada e motivada. De modo que considero que o sucesso é de todos que possibilitaram chegar ao ponto em que estamos.

Sonhamos juntos com um futuro em que seremos uma grande empresa de gás no Nordeste, possibilitando os pilares da industrialização do estado, gerando cadeias de trabalho e renda, desenvolvendo conhecimentos e tecnologias e nos comprometendo com a sociedade em que operamos, nos mais altos padrões de ética e moral, valorizando pessoas, culturas e diferenças.

Felizmente, as pessoas são muito generosas comigo e com o reconhecimento do meu trabalho. Sou muito grata e posso assegurar que nada teria realizado na vida se não contasse com disposição de nunca desistir dos meus sonhos e com as pessoas e equipes que tive o privilégio de conviver e trabalhar. Elas são a melhor parte de tudo. Sou uma pessoa de fácil relacionamento e credito isso ao meu bom humor, do qual muito me orgulho. Não tenho episódios de dificuldade de relacionamento que possam ser registrados como representativos.

Gostaria de registrar que, ao conviver com meus alunos na faculdade e sempre que trabalho com pessoas bem mais jovens que eu, a minha percepção é de que essas questões de gênero perdem a relevância quanto maior é o nível de conhecimento da equipe e quanto mais ela for integrada, inclusiva e multigeracional. Isso me deixa muito confiante quanto a um futuro multicultural, inclusivo e tolerante.

Entretanto, creio que as sociedades em geral chegaram a um estágio de desequilíbrio de acessos, especialmente dos direitos fundamentais, educação, saúde, segurança, que é preciso repensar o modo como o público e o privado podem unir foças em busca de uma espécie de homeostase para entropia social. Permanecendo assim, não vejo com otimismo o reconhecimento e o acesso irrestrito, em condições de equidade, para a mulher no mercado de trabalho, do mesmo modo que considero preocupante, a ampliação do fosso que abriga cada vez mais pessoas em linha de extrema pobreza. Acredito que algo precisa ser revisto com urgência quanto a isso.

Minha mensagem é que precisamos nos amar mais, acreditar mais, confiar mais, em nós mesmas, lutar e não desistir dos nossos sonhos, nunca perder a disposição e capacidade para aprender, inclusive com os próprios erros, e confiar na educação como única fonte de verdadeira liberdade.

Com isso, é seguir vivendo com tolerância em relação as diferenças e aproveitado cada dia para fazer alguma diferença em relação às pessoas que a vida coloca em nosso caminho. E não hesitem em decidir quando há demanda isso, e são muitas.

Se não decidirmos, a vida decidirá, aleatoriamente, por nós, e o resultado quase sempre é indesejável.

* Telma Costa Thomé é formada em Administração na Universidade Estadual do Maranhão (Uema) e possui MBA em Gestão Empresarial-Foco Negócios pela FGV/Isan.

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