Sou do interior gaúcho. Nasci em uma cidade bem pequena, chamada Tucunduva e cresci em Santo Ângelo. Estou em Porto Alegre desde a faculdade. Graças à priorização da educação na minha família, tive oportunidade de ingressar em boas escolas.
Na minha carreira, antes mesmo de chegar à Sulgás, percebi preconceito diversas vezes. Inclusive dita com todas as letras em pelo menos duas ocasiões, o que pode ser mais fácil de lidar até, pois abre espaço para a argumentação. Acredito que no momento que as pessoas percebem que a vítima de preconceito pode vir a ser uma filha, a esposa, a mãe, elas começam a refletir mais sobre seu comportamento.
Na Sulgás, os homens ainda são a maioria dos colaboradores, mas as mulheres já entraram em vários ambientes historicamente masculinos. Então, acho que eles já estão se acostumando com nossa presença. Os que não estiverem, certamente serão considerados “fora de moda”.
Não lembro de ter me sentido intimidada em alguma ocasião na Sulgás por ser mulher. As situações que surgiram foram resolvidas. Uma particularidade que ocorreu na minha infância é que tive que estudar por dois anos em classes apenas de meninos. Eu era a única menina.
Hoje, mesmo em situações mais difíceis, entendo que a parceria de vários colegas nos dá o apoio necessário para seguir e para encarar as dificuldades e preconceitos. Não me sinto sozinha nessa empreitada e isso é o mais importante.
A meu ver, é fundamental ter comprometimento, se importar com o trabalho e com a equipe, pensar na estruturação, nas interrelações e nas melhorias, mas também se posicionar e confiar em si.
Claro que a realidade ainda é de mulheres ocupando menos cargos de chefia, menos cargos eletivos, apesar de já termos grau de escolaridade maior em média. A meu ver, nós, mulheres, ainda precisamos nos posicionar mais e confiar mais no nosso potencial. Todos perdem com preconceitos, seja qual preconceito for. No Rio Grande do Sul, temos apenas 10 deputadas mulheres em uma bancada de 54. A maioria das posições de chefia ainda é de homens, apesar das mulheres possuírem preparo para tal.
Felizmente, a Sulgás, por ser uma empresa jovem, com pouco mais de 100 empregados e com boa saúde financeira, proporciona uma estrutura muito boa de trabalho, oportunidades de conhecer várias áreas, de desenvolver visão sistêmica, de implementar melhorias. Você conhece todo mundo e consegue conhecer o negócio da empresa e as atividades de forma mais abrangente.
Entrei na empresa há 11 anos. Ao ver o concurso, achei a área interessante, uma oportunidade diferenciada. Já estava habituada a áreas historicamente mais masculinas, como a de obras.
Fui aprovada e entrei em um momento ainda de estruturação da área técnica do mercado de varejo. Precisei aprender muito e ganhar experiência. Admito que muitas vezes foi um aprendizado doloroso, mas que trouxe amadurecimento. Fui coordenadora técnica daquele setor e, após um tempo, percebi que eu deveria buscar novas atividades, o que seria bom para mim, para renovar minhas energias e minha motivação, mas seria bom para o setor também: novas cabeças, novas ideias. Então, passei a fazer parte dosetor de Engenharia da Sulgás, posteriormente na coordenação de projetos e de planejamento. E é gratificante quando percebo que confiam no meu trabalho.
Entre os projetos que desenvolvi, um deles me deixa mais realizada. Desde que entrei na Sulgás, desejava automatizar os processos desde a contratação dos clientes até o início de consumo. São muitos clientes e muitas atividades para cada um – orçamentos, EVTEs, contratos, materiais, projetos, licenças, obras – demandando muitas áreas e maior controle. Isso foi possível a partir de ferramenta contratada pela TI alguns anos atrás. O pontapé inicial, naquele momento liderado por mim e pelo colega Marco Grabski com o apoio da TI, agora já é abraçado pela maioria e recebe melhorias e alterações por contribuição e iniciativa de muitos colegas. Digo que o meu filho voou, já é do mundo, e isso é muito bom.
Por fim, vejo que o mercado de gás está em crescimento, mas existem alguns pontos preocupantes para as distribuidoras e, por consequência, para os empregados, como a regulamentação do consumidor livre. Aliado a isso, observamos os processos de troca de acionistas e de privatização, que geram preocupação aos colaboradores. A nosso favor temos nossos bons resultados, atingimento de metas e equipe bem preparada tecnicamente.
* Sandra Paravisi, 40 anos, é formada em Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e tem mestrado em Engenharia Civil no NORIE/UFRGS.