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Biogás tem crescimento em ritmo acelerado no Brasil

O setor de biogás está se expandindo em ritmo acelerado no Brasil. A ABiogás estima investimentos de R$ 60 bilhões em novas usinas até 2030, elevando a produção brasileira dos atuais cerca de 4 milhões de metros cúbicos diários – dos quais 10% são do derivado biometano – para 30 milhões de metros cúbicos por dia. “Existem projetos em curso para implantação de novas usinas e expansão de unidades existentes, tanto para geração de energia elétrica quanto para a produção de biometano”, diz a gerente-executiva da entidade, Tamar Roitman. No caso deste último, a entidade mapeou a entrada de 25 novas usinas até 2027. Elas produzirão 2,3 milhões de metros cúbicos diários e somam mais de R$ 7 bilhões em investimentos.

Geo Biogás & Tech, Raízen, grupo Urca, MDC e Orizon são exemplos de quem aposta firme em negócios no setor. A Geo Biogás & Tech, por exemplo, já tem três projetos em parceria operando e vai chegar a 2024 com pelo menos oito grandes operações de biogás e/ou biometano. As cinco novas somam R$ 1 bilhão em investimentos. As joint ventures da GEO são com empresas do setor sucroalcooleiro – Coopcana, Raízen e grupo Cocal, cuja usina produz energia e terá biometano distribuído pela Gas Brasiliano, no próximo semestre. No começo de 2022, mais um negócio foi fechado, desta vez com o grupo Uisa. Será no Mato Grosso, mesmo local da produção de açúcar e álcool. Deve iniciar operações em 2023. “O projeto funcionará como hub de produção e distribuição do biometano para atender diversos segmentos industriais, além do abastecimento de caminhões”, diz o CEO da Geo Biogás & Tech, Alessandro Gardemann. Para ele, o potencial do biogás no Brasil é enorme, da ordem de 120 milhões de metros cúbicos por dia. Segundo o executivo, se todo este potencial fosse utilizado, seria possível suprir 70% do consumo de óleo diesel no país ou atender a 34,5% da demanda elétrica. “O avanço do biogás e do biometano tem se dado de maneira exponencial, com crescimento de 30% ao ano em volume de produção e deve avançar mais com o estímulo dado pelo anúncio do Programa Metano Zero”.

O Programa Metano Zero foi lançado pelo governo federal no fim de março e inclui linhas de crédito e desoneração tributária para projetos do setor. A iniciativa, que ajudará a reduzir as emissões de carbono, foca no aproveitamento dos resíduos urbanos (aterros sanitários) e orgânicos (oriundos da criação de animais e da produção de cana-de-açúcar). A Raízen, parceira da Geo na JV Raízen GEO, tem por enquanto apenas um usina produtora de biogás, destinada à geração elétrica, no interior de São Paulo. Possui 21 MW de capacidade instalada, mas a ambição é grande: quer ter 39 unidades nos próximos dez anos. A empresa não informou se haverá parceiros neste programa de expansão. “O biogás produzido nestas plantas poderá ser destinado à geração de energia elétrica ou de biometano”, diz a diretora de biogás da empresa e CEO da Raízen Geo Biogás, Raphaella Gomes. Ela destaca que o biometano é competitivo quando comparado às alternativas fósseis, porque tem produção local e próxima aos centros de consumo e ainda serve de matéria-prima para a fabricação de outros produtos renováveis, como hidrogênio e amônia verdes. A Raízen fechou no ano passado o fornecimento do insumo para a Yara Fertilizantes produzir amônia verde. Isso permitirá, de acordo com Deise Dallanora, diretora de food solution innovation da Yara Brasil, o desenvolvimento de soluções sustentáveis em nitratos para aplicação industrial ou em fertilizantes nitrogenados. “A previsão é que, em 2023, o primeiro lote de biometano seja entregue em nossa planta em Cubatão, que está pronta para trabalhar com o produto”.

Além das diversas parcerias, o setor de biogás também se movimenta em outras direções, como fusões e aquisições. O grupo Urca Energia, que participa do mercado de biogás com a Eva Energia, adquiriu no começo do ano a Gás Verde, produtora de biometano, da J.Malucelli. O Urca está investindo R$ 1,2 bilhão em projetos de expansão que elevarão a produção dos atuais 120 mil metros cúbicos diários para 400 mil metros cúbicos diários de biometano até 2023. Um dos projetos é o aumento de capacidade da usina da Gás Verde em Seropédica (RJ). Outro é a transformação de duas térmicas a biogás, em São Gonçalo e Nova Iguaçu (RJ), em plantas de biometano. Além desses empreendimentos, a Urca Energia está construindo a primeira usina de gás carbônico verde produzido pelo aproveitamento do biometano gerado em aterro sanitário. “A expectativa é de que a usina comece a operar em 18 meses, em Seropédica (RJ). A planta vai gerar em torno de 100 toneladas de gás carbônico verde por dia, o que representa cerca de 10% do consumo diário do Brasil, que é de 1,1 mil toneladas”, diz Marcel Jorand, diretor-executivo do grupo Urca Energia. Ele conta que novos investimentos em biogás estão no radar do grupo. “Há um potencial enorme para apoiar a transição energética do país e contribuir com o compromisso firmado na COP26 de redução de 30% das emissões de metano até 2030”, afirma Jorand. O grupo Urca tem sete usinas, seis geram energia a partir de biogás e somam 20 MW em capacidade instalada e uma a partir de biometano. Elas utilizam resíduos de aterros sanitários e da suinocultura.

A Orizon Valorização de Resíduos, que conta com usinas geradoras de biogás nos seus cinco ecoparques, terá essas mesmas estruturas nas aquisições em andamento – os sete ativos da Estre e o Ecoparque Pantanal. Com isso, a capacidade atual de cerca de 1 milhão de metros cúbicos por dia de biogás saltará para 2,5 milhões, o que pode acontecer até o fim deste ano. A Orizon utiliza resíduos sólidos urbanos (RSU) em sua produção. O diretor de engenharia e implantação da Orizon, Jorge Rogério Elias, diz que o crescimento do setor seguirá forte, porque o produto pode ser direcionado para geração de energia elétrica, gás natural ou biometano. “O biogás tem uma participação ainda pequena na matriz energética do país, embora o seu potencial de exploração seja elevado, sobretudo por meio dos ecoparques em áreas urbanas”, ressalta. Na mesma trilha de aumento da produção, a MDC anunciou em 2021 uma terceira unidade, localizada em São Paulo. Conectada ao aterro sanitário de Caieiras, deve iniciar operações no segundo semestre do ano que vem. Atualmente, a MDC tem capacidade para gerar 120 mil metros cúbicos diários de biometano em duas usinas, uma no Rio de Janeiro e outra no Ceará. “Nossa expectativa é de anunciar três novos projetos de produção de biometano no curto prazo, chegando a mais de 300 mil metros cúbicos por dia”, diz Luciano Vilas Boas, diretor de novos negócios. “Além dos projetos de aterros sanitários, estamos desenvolvendo soluções para a produção de biometano em usina sucroalcooleira e dejetos animais.” Para Vilas Boas, há “certos desafios de logística e infraestrutura no setor, já que boa parte da biomassa disponível é descentralizada”.

Hoje, o principal cliente da MDC é a Cegás, distribuidora de gás natural do Ceará, que atende com o produto renovável indústrias, comércio e residências. De acordo com Vilas Boas, o produto da MDC produzido no Estado “pode ser mais barato do que o gás natural fornecido pela Petrobras e ainda conta com previsibilidade de preços e o benefício de ser um insumo renovável”. No Rio de Janeiro, a empresa atende principalmente o segmento de gás natural veicular (GNV). “Além de gerar energia 100% renovável, uma usina de biogás ‘bruto’ tem eficiência de aproximadamente 40% de geração elétrica e operação equivalente a uma termelétrica a gás natural. Assim como o gás natural, o biogás é despachável, tem geração firme e pode ser armazenável, além de ser descentralizado”, avalia Tamar Roitman, da ABiogás.

Segundo o diretor de estratégia e mercado da Abegás, Marcelo Mendonça, o volume de biogás distribuído hoje é representado apenas pela Cegás, que tem uma oferta firme de biometano e, a partir do segundo semestre deste ano, haverá também a GasBrasiliano. “Em São Paulo, a GasBrasiliano será a primeira concessionária do país a distribuir 100% de biometano em uma rede dedicada que está construindo no oeste paulista”, lembra Mendonça. Ele conta que há diversos contratos sendo firmados ou renovados por distribuidoras para obter biometano em diversos Estados, como Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo. “De um modo geral, o potencial da biomassa em Estados do Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, onde há rede de distribuição nas proximidades, é imenso”, ressalta. Por isso, Mendonça diz que o Plano Decenal de Energia (PDE2031) é tímido em reconhecer a importância dessa fonte, “que é despachável e poderia equilibrar o crescimento da oferta intermitente”. O PDE2031 considera que, para o biogás oriundo do setor sucroenergético, o potencial para 2031 é uma produção de 7,1 bilhões de metros cúbicos oriundos da vinhaça e da torta de filtro e de 5,7 bilhões de metros cúbicos das palhas e pontas da cana-de-açúcar.

 

Fonte: Valor Online

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