Cheia de gás. A expressão é bem literal no caso da Eneva, produtora de gás natural e geração de energia concentrada no Norte e Nordeste do País. Segundo o CEO Lino Lopes Cançado, a certificação de novos 12 bilhões de metros cúbicos de gás embaixo da terra, na semana passada, vai permitir à empresa renovar a contratação de usinas termelétricas no Maranhão, assim como novas propostas nos próximos leilões de reserva de capacidade para o mercado regulado.
Ao mesmo tempo, a Eneva quer dobrar a aposta em soluções customizadas de gás natural liquefeito (GNL) para aplicação industrial. Significa replicar o modelo de fornecimento que constrói para atender de forma personalizada unidades da mineradora Vale e da fabricante de celulose Suzano, previsto para 2024 sob um investimento de R$ 1 bilhão.
A venda de GNL transportado em pequena escala por modal rodoviário é uma frente de negócio que a Eneva amadureceu nos últimos dois anos e, agora, se diz pronta para escalar. Os principais alvos são grandes clientes, que usam energia hoje gerada a partir da queima de óleo combustível ou diesel, mais poluentes e menos competitivos que o gás.
“Vemos uma chance clara de crescer nas duas frentes. A ampliação das reservas aumenta a nossa capacidade de fazer negócios. E já temos projetos prontos, com licença ambiental, para disputar novos leilões no Amazonas, Parnaíba e no Hub Sergipe”, diz Cançado, listando o terceiro ponto de produção de energia da Eneva, no Nordeste, onde a empresa comprou duas termelétricas no ano passado, a Celse (SE) e a Termofortaleza (CE).
A Eneva comunicou ao mercado que ampliou suas reservas provadas e prováveis em pouco mais de 12 bilhões de metros cúbicos de gás natural, elevando-as a 47,5 bilhões de m³. O resultado foi auditado pela consultoria independente Gaffney, Cline & Associates Inc. (GCA). O maior incremento, 7,5 bilhões de m³, aconteceu na Bacia do Amazonas, que soma agora um total de 14,4 bilhões de m³. Os novos volumes vão viabilizar o projeto Azulão 950, que inclui térmicas contratadas em leilão de 2021 e no leilão associado à lei da Eletrobras, em 2022. Já no Parnaíba, as reservas ganharam mais 4,5 bilhões de m³ de gás, totalizando 33 bilhões de m³.
No atual ritmo de produção, as reservas alimentariam os negócios da Eneva por pouco mais de 26 anos. A ideia, porém, é ampliar as atividades e, com elas, o consumo de gás.
Oportunidade
O planejamento da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) para 2023 indica necessidade de contratação em leilão de capacidade da ordem de 8 GW entre 2023 e 2024, observa Cançado. A demanda se deve a termelétricas cujos contratos vencem em 2027 e 2028, cenário de oportunidade para a Eneva.
“Parte desses leilões vai ser preenchida com a renovação dos contratos, mas outra parcela da demanda é hoje atendida por termelétricas a óleo ou com custo fixo muito alto, atrelado ao transporte e armazenamento do gás, o que as torna ineficientes. Algumas (usinas) não vão ser recontratadas porque não são mais competitivas. Esse espaço pode ser preenchido por novos negócios da Eneva”, diz o executivo. Sobre a recontratação de usinas já existentes, a própria Eneva tem duas unidades na fila: a Parnaíba I e III, cujos contratos vencem em 2027. Parte do gás recém-certificado da Eneva será reservado a essas unidades. Mas, a depender do grau de despacho deste ano, a companhia planeja lançar novos projetos de termelétricas.
Cançado afirma que a exigência locacional foi uma exclusividade do leilão de térmicas associado à lei de privatização da Eletrobras, e que isso não deve ser mais um limitador à frente, o que vai permitir instalar unidades com a maior eficiência possível, uma vez que basta enviar a energia ao sistema integrado. A Eneva se especializou na modalidade R2W, sigla para “reserve to wire”, cuja premissa é instalar as unidades geradoras de forma anexa às reservas, eliminando custos de transporte.
GNL
Entre as ambições da atual direção da Eneva está catapultar os projetos de GNL. “Podemos entregar energia elétrica, instalar uma planta de geração em local de interesse do cliente, ou só vender o gás liquefeito (GNL)”, diz Cançado, no melhor estilo “à moda do cliente”. A ideia é abocanhar o mercado nascente de small scale energy para regiões carentes de gasoduto, negócio que cresce na mira de grandes players do setor.
“Desenvolvemos o negócio ‘in house’, com (a usina) Jaguatirica. Agora que criamos competência, podemos replicar para grandes clientes com a credibilidade de quem já faz. Não é apresentar ‘power point’, é experiência de fato”, diz Cançado.
As difundidas metas de descarbonização do mercado e a possibilidade de alcançar regiões isoladas são os vetores do negócio, que deve crescer no portfólio da Eneva. Para tanto, será preciso aumentar a capacidade de liquefação de gás, sobretudo no Amazonas, onde a operação está 100% “vendida”. No caso, a unidade consumidora é a termelétrica Jaguatirica, da própria Eneva, que gera energia para o estado de Roraima.
“No Amazonas existem outras oportunidades. Esperamos poder anunciar novos contratos (de fornecimento de GNL) na região, mas para isso teríamos de ampliar a planta, o que está em estudo”, diz o presidente da Eneva.
Já no Parnaíba, detalha Cançado, a capacidade de liquefação da unidade será de 600 mil m³ de gás por dia, o que vai gerar 1 mil m³ de GNL a partir de 2024. Esse volume não será totalmente consumido pela Vale e Suzano. Ainda cabe, ao menos, mais um contrato do mesmo porte. “Já temos conversas com clientes na região e ainda podemos ampliar a planta (de GNL)”, diz. O investimento no negócio, entre planta e caminhões criogênicos, foi de R$ 1 bilhão.
Fonte: Broadcast / Ag.Estado