Quando os caminhões carregados de resíduos atravessam os portões da Orizon, a expressão “o lixo de uns é o tesouro de outros” é elevada a outro patamar – o das centenas de milhões de reais em receita. A empresa de valorização de resíduos está se transformando. Além de reciclagem e aterramento, a Orizon produz fertilizantes e gera energia elétrica a partir do lixo. A companhia ainda se prepara para vender créditos de carbono no mercado voluntário neste ano e biometano no próximo. O objetivo é multiplicar o valor de cada tonelada de lixo, aterrando cada vez menos. Em 2023, a companhia recebeu um volume de resíduos 5% menor do que no ano anterior. Mesmo assim, elevou a receita em 24%, para R$ 776 milhões. O prejuízo de R$ 143 mi de 2022 deu lugar a um lucro líquido de R$ 50 mi. “As nossas plantas serão ‘hubs’ industriais”, disse o CEO da Orizon, Milton Pilão, em entrevista ao Reset. “Estamos estudando diversas tecnologias que devem ser implementadas ao longo dos próximos dez anos”.
Embaixo do guarda-chuva da holding Orizon VR, a subsidiária Orizon Meio Ambiente é dona de 16 aterros em 11 Estados, que recebem o lixo de 40 milhões de brasileiros. As quase 10 milhões de toneladas anuais tratadas pela empresa correspondem a cerca de 20% do lixo com destinação adequada no país. A visão de futuro da empresa se materializa na unidade de Paulínia, que fica a 120 km da capital paulista e atende a região metropolitana de Campinas. Lá estão as estruturas para todas as linhas de negócio que a empresa pretende explorar em suas outras plantas. A Orizon chama o modelo de ecoparque, e ele é de fato diferente de um lixão a céu aberto. O aterro onde são depositados os materiais não-aproveitados lembra um bolo de noiva gigante, com camadas formadas por terra e resíduos. Embaixo dessa pilha existe uma rede de 50 quilômetros de tubulações pela qual circula o biogás, uma mistura de metano e outros gases resultante da decomposição do material orgânico.
“O negócio é ser dono do biogás”, diz Pilão, “Quando você é dono da molécula, pode decidir para qual caminho ela deve seguir”. Além de representar uma peça fundamental na estratégia de crescimento, o biogás também é peça importante da transição energética e da luta contra a mudança climática. Hoje, seu uso mais frequente é na geração de eletricidade. Mas, depois de passar por um processo de purificação, o biogás se transforma em biometano, uma molécula equivalente ao gás natural de origem fóssil e é chamada de gás natural renovável. Essa matéria-prima também pode ser combinada com átomos de carbono, dando origem a combustíveis sintéticos líquidos para os dois tipos de transporte de mais difícil descarbonização: marítimo e aéreo. Negócios como o da Orizon, que administram resíduos urbanos e agrícolas e a reciclagem de plásticos, podem oferecer 20 milhões de barris por dia de biocombustível líquido até 2050, de acordo com estimativa da Wood Mackenzie. A Orizon quer surfar essa onda e se prepara para investir R$ 1,2 bilhão na produção de biometano em suas plantas nos próximos três anos por meio da BioE, seu braço de energia. “Em 2023, tivemos um Ebitda de R$ 313 milhões. Acreditamos que conseguimos multiplicar esse Ebitda entre quatro e cinco vezes nos próximos quatro anos, independentemente do crescimento inorgânico”, disse Pilão em teleconferência com analistas.
Uma pequena parte do total processado em Paulínia é de lodo orgânico, que vai diretamente para a área de fertilizantes. Ali, a Orizon já fatura a cada tonelada de resíduo, com pagamento por prefeituras e empresas para a destinação adequada. Cada caminhão de lixo comum que chega a um ecoparque da Orizon é pesado ao passar pela porteira. Caso o material venha de bairros de renda mais alta e, portanto, com mais conteúdo reciclável, o destino da carga é a triagem. O restante será aterrado. “O aterro é como se fosse a sacolinha de lixo orgânico que deixamos sobre a pia por dias demais: aquele líquido que escorre é o chorume e o cheiro ruim, o biogás”, diz Diogo Arantes, gerente regional das operações da Orizon em São Paulo. A Orizon e outras companhias que trabalham com o biogás têm a opção de queimá-lo em pequenas térmicas para abastecimento de eletricidade (e venda do excedente na rede), mas nem sempre a conta fecha.
Fonte: Reset / Uol