O número de indústrias presentes no mercado livre de gás natural mais que dobrou em 2024. Ao menos nove consumidores industriais estrearam no ambiente livre este ano, de acordo com levantamento da agência eixos. Entre os casos mais recentes estão o da Suzano, no Espírito Santo, e o da CSN, no Rio de Janeiro. A fabricante de papel e celulose assinou contrato com a Shell, enquanto a siderúrgica fechou com um pool de fornecedores (Petrobras, Shell e Galp) para compra de mais de 1 milhão de m3/dia, para abastecimento da Usina Presidente Vargas, em Volta Redonda. Outra importante estreia deste ano é o da refinaria de alumina da Hydro Alunorte, que passou a consumir gás importado pela New Fortress Energy no terminal de gás natural liquefeito (GNL) de Barcarena. Enquanto o mercado livre de energia elétrica já é uma realidade consolidada, a abertura da indústria do gás ainda dá seus primeiros passos.
Embora o primeiro contrato do mercado livre de gás remonte ao fim dos anos 2000, entre a Petrobras e Furnas, foi só em 2021 que as primeiras indústrias se aventuraram a entrar no ambiente livre, na esteira da abertura do setor de gás natural. Na ocasião, a Proquigel (empresa do grupo Unigel que opera as fábricas de fertilizantes de Sergipe e Bahia), Gerdau e a Refinaria de Mataripe se lançaram no mercado livre. Três anos depois, o universo de clientes livres no setor industrial ainda é restrito a um pequeno clube de empresas – algumas delas ainda são consumidores parcialmente livres e fazem testes por meio de contratos de curto prazo. As empresas, em geral, têm aproveitado oportunidades de economizar com a aquisição de molécula – a migração, porém, não tem representado ainda um acesso a gás barato. Veja a lista dos 17 clientes industriais presentes no mercado livre de gás do Brasil:
Proquigel: entrou em 2021 no mercado livre e desde então fechou contratos com Petrobras, PetroReconcavo, Shell, Galp, Origem Energia e CH4 Energia;
Gerdau: estreou em 2021 e já assinou contratos com Petrobras e Shell
Refinaria de Mataripe: entrou em 2021 e desde então já assinou contratos com Galp, Petrobras e Shell;
Refinaria de Manaus: fechou seu 1º contrato com a Petrobras em 2022;
ArcelorMittal: entrou em 2023, em contrato com a Galp,
Vale: estreou em 2023 e desde então já fechou contratos com,Gas Bridge, Galp, Shell e Eneva;
Samarco: entrou em 2023 e já fechou contratos com Galp e Vibra;
Refinaria de Mucuripe: estreou em 2023, com Petrobras;
Alunorte: passou a consumir em 2024 gás da NFE;
Biancogres: passou a comprar gás em 2024 da Shell;
Delta Cerâmica: estreou em 2024, com gás da Edge;
CSN: entrou em 2024, com contratos com Petrobras, Shell e Galp;
Carmelo Fior: assinou em 2024 seu 1º contrato com a Edge;;
Lef Cerâmica: estreou em 2024, com gás da Edge;
Suzano: passou a comprar gás da Shell em 2024
Cesada: assinou em 2024 seu 1º contrato com a Edge;
Incopisos: estreou este ano, com a Edge.
A lista inclui empresas que em algum momento já fecharam contratos para aquisição de gás diretamente com supridores, estando esses contratos ativos ou não.
O crescimento do mercado livre em 2024 ocorre num momento em que novos supridores privados começam a operar – em especial as comercializadoras independentes. A Edge, braço de comercialização da Compass, por exemplo, já tem 500 mil m3/dia contratados no mercado livre com empresas da indústria de cerâmica. A chegada de competidores fez a Petrobras se mexer. A estatal começou a perder fatia de mercado e lançou este ano uma nova política de preços que passou a oferecer produtos mais customizados – e competitivos – no mercado livre. Só no segundo trimestre, a petroleira assinou novos contratos de venda de gás natural, da ordem de 940 mil m3/dia, com clientes livres – Gerdau e CSN entre eles. A migração de indústrias para o mercado livre tem levado a ajustes no mercado cativo e exigido das distribuidoras soluções mais flexíveis. Concessionárias como CEG (RJ), Comgás (SP) e ES Gás (ES) já acionaram as cláusulas de redução da quantidade diária contratada com a Petrobras. Em geral, os contratos de suprimento da estatal permitem, via aditivos, a redução dos volumes contratados pelas concessionárias estaduais em casos de perda de clientes para o mercado livre.
Os primeiros contratos do mercado livre de gás se deram em praças como Sergipe e Bahia, onde estão as fafens operadas pela Proquigel, além de Minas Gerais e Espírito Santo. O ano de 2024 marca, no entanto, o início do mercado livre dos dois principais centros consumidores da molécula no país: São Paulo e Rio de Janeiro. No mercado paulista, o principal driver tem sido a entrada em operação do Terminal de Regaseificação de São Paulo (TRSP) e início das atividades da Edge. Já no Rio, a abertura reflete um conjunto de fatores, como a aprovação do novo modelo de CUSD – o contrato assinado entre usuários livres e a concessionária estadual de gás canalizado pelo uso da rede. E a própria relação de competitividade do gás no estado. A migração para o mercado livre depende, ao fim, da estratégia (e apetite ao risco) de cada indústria e da realidade local. Em estados como o Rio de Janeiro, onde o custo de aquisição de gás da Naturgy é menos competitivo que a média nacional, no entanto, a migração pode fazer mais sentido.
Fonte: Eixos
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