Brasil e Argentina assinaram um memorando de entendimento para viabilizar a exportação de gás natural, principalmente da formação de Vaca Muerta. As medidas incluem um estudo sobre a viabilidade econômica das rotas logísticas, levando em consideração a expansão da infraestrutura dos países, por meio da qual estima-se que 2 Mm³/d (milhões de metros cúbicos por dia) possam ser movidos no início de 2025, aumentando nos próximos três anos para 10 Mm³/d e atingindo 30 Mm³/d em 2030.
Associações do setor local disseram à BNamericas que permitir que o combustível argentino chegue ao Brasil facilitará a concorrência e beneficiará os consumidores. Quatro opções estão sendo consideradas: reverter a direção do gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol), construir um gasoduto na região do Chaco, no Paraguai, implantação de uma conexão no município de Uruguaiana, no estado do Rio Grande do Sul, e importação de gás natural liquefeito (GNL). O custo do gás de Vaca Muerta na fonte, nas províncias de Neuquén e Rio Negro, é estimado em US$ 2/MMBT. As empresas envolvidas nas negociações entre os governos brasileiro e argentino são a Total Energy, a Plus Petrol e a Pan American.
De acordo com os últimos dados fornecidos pelo MME, o Brasil consumiu 56,6 Mm³/d em junho. A produção doméstica foi de 43 mm³ / d, enquanto as importações totalizaram 15,8 Mm³/d (13,1 Mm³/d via Gasbol e 2,64 Mm³/d através de terminais de GNL). A esperada diminuição da oferta de gás boliviano nos próximos anos levou o Brasil a iniciar negociações com a Argentina e usar sua infraestrutura de gasodutos para importações. Mas a Bolívia também quer continuar sendo fornecedora, mantendo o controle do gás, e está em negociações com a Petrobras para investir na exploração de seu território. Apesar do crescimento projetado da oferta nacional de gás, com a recente entrada em operação do gasoduto Rota 3, o desenvolvimento de projetos o#shore como o da Petrobras SEAP I e II e Raia da Equinor, e a inauguração de terminais de GNL, o futuro fornecimento argentino é visto como importante em um país com altos preços do gás.
“Quando você abre o mercado, o objetivo é atrair o máximo de oferta possível para criar concorrência. Isso reduzirá os preços ao nível mais baixo possível e estimular a produção industrial”, disse Rogério Manso, CEO da Associação Brasileira de Transporte de Gás Natural Canalizado (ATGás), à BNamericas. Ele acredita que as rotas Boliviana e Uruguaiana são as mais viáveis, considerando capex e acessibilidade ao mercado. Marcelo Mendonça, diretor técnico comercial da Abegás, disse que, além de aumentar a concorrência no mercado de distribuição de gás canalizado. O setor de gás doméstico e potencialmente gerando um novo nível de preços, a entrada do gás argentino também abre caminho para o desenvolvimento de demanda. “Pode ajudar a viabilizar novas aplicações de gás natural e substituir combustíveis mais poluentes em veículos pesados e na geração de eletricidade, contribuindo para o ambiental, que é o tema do debate do G20”, disse ele à BNamericas.
Mendonça disse que o acordo para trazer gás de xisto de Vaca Muerta deve levar os brasileiros a questionarem por que não estão aproveitando o seu próprio potencial de gás não convencional. “Se o Brasil pode consumir gás de xisto, também pode produzir gás de xisto. É uma agenda que precisa ser revisitada para que possamos desenvolver todo o potencial do Brasil”, afirma. Em 2013, em sua 12ª rodada de concessão, a ANP investiu blocos exploratórios com potencial de hidrocarbonetos não convencionais no Paraná, Sergipe, bacias de Alagoas, Parnaíba e Recôncavo, mas ações judiciais impediram o fracking nas áreas. Enquanto isso, estados como o Paraná aprovaram leis anti-fracking.
Fonte: BN Americas
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