A perspectiva de aumento da produção de gás natural pela Argentina nos próximos anos pode destravar o projeto de um gasoduto de quase 600 quilômetros não concluído no Rio Grande do Sul. A construção da chamada Fase 2 do Gasoduto Uruguaiana-Porto Alegre (Gasup) voltou a ganhar força no planejamento do governo. A EPE incluiu o empreendimento em um plano de expansão da malha nacional de gasodutos. Seria uma alternativa para atender eventual alta na demanda por gás natural pela indústria via importação das reservas de gás de xisto (“shale gas”) de Vaca Muerta, na região argentina da Patagônia. O projeto do gasoduto entre Uruguaiana e Porto Alegre foi revisto pela EPE, que propõe a implantação de 593 quilômetros, passando por 12 municípios. Para tirar o trecho não concluído do papel, a EPE estima investimento de R$ 6,83 bilhões. O montante é próximo do valor em dólares do projeto quando foi concebido, no começo dos anos 2000, de US$ 1,2 bilhão (R$ 6,9 bilhões pela cotação atual). Walter Farioli, presidente da Transportadora Sulbrasileira de Gás (TSB), dona do Gasup, diz que, na época, 30% do total seriam bancados por capital próprio e 70% viriam de fontes de financiamento que incluiriam o BNDES.
O modelo de financiamento seria de “project finance”, no qual o empreendimento é usado como garantia da operação. Para o presidente da TSB – consórcio entre, Ipiranga, Repsol e TotalEnergies, cada uma com 25% de participação -, a retomada do gasoduto poderia contar com formato semelhante, “certamente” com o BNDES, e uso de instrumentos como debêntures de infraestrutura. O Gasup foi um dos oito projetos listados na edição mais recente do Plano de Indicativo de Gasodutos de Transporte (PIG), anunciado em fevereiro. Os oito dutos têm investimentos totais estimados em R$ 29,3 bilhões para implantar 2.333 mil quilômetros de extensão. Hoje a malha de gasodutos de transporte totaliza 9.244 quilômetros de extensão. Concebido na década de 1990, o Gasup teve o traçado dividido em três partes, mas apenas dois trechos com apenas 50 km de extensão foram concluídos em 2000, em cada extremo do gasoduto. Um trecho de 25 km conecta a termelétrica Uruguaiana à fronteira com a Argentina.
O outro trecho de 25 km se conecta com o Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol) em Porto Alegre. O diâmetro do duto é de 24 polegadas, com capacidade de transportar 15 milhões de metros cúbicos por dia (m³/dia). O trecho incompleto do Gasup tem autorização pela ANP desde 2000 e vai de Uruguaiana ao Polo Petroquímico de Triunfo, na região metropolitana de Porto Alegre. O projeto não foi concluído à época pelo declínio da produção de gás na Argentina. Também pesou a falta de investimentos em exploração e produção, diz a EPE no estudo. “A Argentina admitiu [na época] que não tinha condições de bancar os compromissos que teria firmado”, diz Farioli. O executivo participa do projeto desde o início.
Segundo Farioli, a Fase 2 do Gasup pode ser viabilizada com demanda de gás natural de 5 milhões de m³/dia, um terço do total. Farioli diz que o Gasup contava com licença ambiental e direito de passagem firmado com 900 propriedades quando o projeto foi suspenso. A TSB estava em vias de assinar contrato de engenharia, construção e montagem, conhecido como EPC, que incluía o fornecimento dos tubos e a construção do trecho com um consórcio. Embora seja considerado importante, o Gasup não seria o único caminho para escoar o gás de Vaca Muerta, segundo a EPE. Em novembro de 2024, Brasil e Argentina firmaram memorando para estudar rotas alternativas de aumento da oferta do insumo. Há opções como o aproveitamento de infraestruturas existentes do Gasbol. Essa alternativa considera a reversão do fluxo para levar o gás da Argentina até a Bolívia e dali ao Brasil. Outra saída seria a construção de um novo duto entre Brasil e Argentina, passando pelo Paraguai.
A EPE diz que todas as opções serão avaliadas considerando não apenas os custos, mas aspectos como prazos de execução, relações diplomáticas, atração de investimentos e garantias de suprimento, entre outras questões. “O avanço nas explorações da reserva de Vaca Muerta tende a transformar a Argentina em um exportador líquido de gás natural”, disse a EPE. A EPE diz ainda que há desafios como a travessia de cursos d’água e riscos de inundação, como as enchentes que ocorreram no ano passado no Estado, o que deve exigir adequação de técnicas construtivas. Também há aspectos ambientais a serem considerados, como interferências em atividades minerárias e agrícolas, entre outros pontos, segundo a estatal. Farioli, da TSB, diz que o processo de licenciamento ambiental teria que ser reiniciado, com a realização de audiências públicas, além da atualização do projeto, entre outros aspectos. Mas isso não seria um impasse, considerando que as outras alternativas envolvem o início de um projeto “do zero”. “Nesse aspecto, ficamos tranquilos sobre a execução de uma obra dessa envergadura”, afirmou Farioli. Concedida a licença de instalação, o executivo estima uma duração de dois anos para a conclusão do trecho e o início da operação comercial do duto.
Fonte: Valor Econômico
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