O mercado de gás natural no Brasil pode sofrer uma mudança significativa em 2025, com o crescimento expressivo das transações no mercado spot (mercado de curto prazo) — que já desponta como uma alternativa estratégica às modalidades tradicionais de fornecimento. A constatação é do relatório “Mercado spot de gás no Brasil: a próxima grande mudança?”, da consultoria Wood Mackenzie. Segundo o documento, até 3,5 milhões de MMm³/dia de volumes contratados pelas distribuidoras locais (LDCs) podem ser redirecionados para o mercado spot ao longo do ano. A movimentação ocorre, principalmente, a partir do uso estratégico das cláusulas chamadas take-or-pay, que obrigam o comprador a pagar por uma quantidade mínima de gás, mesmo que não a consuma integralmente. Essa flexibilidade contratual permite que as distribuidoras complementem seu suprimento com volumes adquiridos fora dos contratos firmes, aproveitando os preços mais baixos praticados no mercado spot — entre US$ 5,90 e US$ 10,50 por milhão de BTU. “O mercado spot deixou de ser apenas uma alternativa oportunista. Agora, é uma opção viável para as operações diárias”, afirma Javier Toro, gerente-sênior de pesquisa da Wood Mackenzie.
Em 2024, o mercado spot já havia dado sinais de consolidação: foram mais de 60 contratos assinados, com 40 milhões de metros cúbicos comercializados, principalmente, no Nordeste. A maior parte das transações ocorreu na última semana de cada mês, representando 41% das vendas totais. Distribuidoras como Copergás, CEGÁS, Bahiagás e SCGÁS lideraram esse movimento, sendo responsáveis por mais de 95% do volume contratado no mercado spot. A entrada de novos agentes no mercado e a diversificação da oferta colocam em xeque o domínio da Petrobras, que ainda responde por cerca de 70% do fornecimento às distribuidoras. A estatal vem ajustando sua política de preços, reduzindo a proporção do Brent usada como base — de 11,7% para até 10% nos volumes acima do ToP —, numa tentativa de se manter competitiva frente aos preços do mercado spot. “Se as dinâmicas atuais persistirem, 2025 pode marcar o início de uma mudança estrutural na forma como as LDCs brasileiras gerenciam seus portfólios”, afirma Toro. Esse tipo de flexibilização dos contratos, aliada ao amadurecimento do mercado e à entrada de novas plataformas de negociação, pode abrir espaço para um novo modelo comercial no setor de gás no Brasil.
Fonte: Valor Online
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