Com um dos maiores preços de gás natural do mundo, inclusive na América do Sul, o Brasil deve trabalhar para aumentar a oferta da commodity. Mais do que ajustes na regulação, o país precisa fomentar a competição para derrubar os preços do gás, defende Alvaro Rios, sócio diretor da consultoria Gas Energy Latin America e ex-ministro de Hidrocarburos da Bolívia (entre 2003 e 2004).
A chamada pública aberta pela Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG) é importante nesse contexto. A ANP publicou, no início do mês, a minuta do edital da chama pública para contratação de 18 milhões de metros cúbicos diários de capacidade do gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol), cujo contrato atual, com a Petrobras, vence em dezembro.
Será uma oportunidade para a entrada de novos carregadores de gás natural. “A única forma de se reduzir custos é com aumento da competição, aumento da oferta de gás. Agora, o Cone Sul está mudando de um ‘sellers market’ para um ‘buyers market’, e o Brasil precisa aproveitar a oportunidade e abrir seus dutos”, diz Rios, em entrevista concedida ao Valor. O especialista esteve em São Paulo para discutir o mercado de gás natural a convite da Associação dos Grandes Consumidores de Energia e Consumidores Livres (Abrace).
Segundo levantamento da Abrace, o preço médio do gás natural para a indústria no primeiro semestre de 2018 no Brasil foi de US$ 10,85 por milhão de BTU. O patamar está muito acima do pago na Bolívia, de US$ 2,13 por milhão de BTU, e também superior ao México (US$ 5,16 por milhão de BTU) e Argentina (US$ 4,49 por milhão de BTU).
Segundo Rios, um dos principais motivos que leva ao descolamento entre o custo no Brasil e no restante da América do Sul é o monopólio exercido pela Petrobras.
Com a iminência do fim do contrato com a estatal, a chamada pública da TBG é um primeiro passo para que o gás da Bolívia seja contratado diretamente por investidores, como operadores, geradores termelétricos e empresas privadas. É o caso da Shell, que assinou um memorando de entendimento com a estatal boliviana YPFB no fim do ano passado, a fim de estabelecer no futuro um contrato de importação de gás natural no Brasil. Além do gás da Bolívia, o Brasil deve aproveitar a oferta de gás extraído do pré-sal e também manter importações de gás natural liquefeito (GNL).
“A única forma de acabar com os preços altos é a introdução da competição. A Petrobras pode competir, mas não deveria ser a única interessada”, diz Rios, se referindo à participação da estatal na chamada pública da TBG. Para ele, quando há apenas uma empresa dominando o mercado, o regulador precisa ser forte. “Nesse caso, é preciso reduzir um pouco a regulação e deixar o mercado funcionar com mais vendedores privados”, afirma.
Podem demonstrar interesse na chamada pública operadoras de termelétricas, outras petroleiras (como o caso da Shell) e até mesmo consórcios de grandes consumidores, segundo o especialista. “O Brasil está tentando tomar a direção da competição.” Ao mesmo tempo em que o país precisa de mais oferta para fomentar a competição e reduzir os preços, a Bolívia precisa acomodar sua produção, o que contribui para o fechamento desses acordos.
Fonte: Valor Econômico
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