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A indústria de óleo e gás no Brasil em 2022

Em artigo publicado no Valor, a ex-diretora de Refino e Gás Natural da Petrobras, é membro do Conselho do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás, Aneleise Lara, afirma que não precisamos de bola de cristal para prever que 2022 será um ano difícil. O vírus da covid-19 ainda está no ar, matando cada vez menos pessoas, graças ao aumento do número de vacinados, mas continuando a estressar o sistema de saúde do país, atingindo especialmente a população mais pobre e impactando os empregos e a recuperação da economia. Será o primeiro ano em que uma fatia relevante da capacidade de refino brasileiro será operado por empresa privada O ano de 2022 é um ano eleitoral, com tudo o que isso representa. A disputa entre os presidenciáveis promete ser ferrenha, com muita fake news e muitas discussões acaloradas. A indústria de O&G, parte relevante do PIB nacional, certamente estará no centro dessas discussões. Regime de partilha x concessão? Mercado mais aberto e competitivo ou maior interferência estatal? Regras de mercado ou controle de preços de derivados? A Petrobras deve atuar como um braço do governo na execução de políticas públicas ou ter uma gestão independente, agregando valor a todos os públicos de interesse, de forma eficiente e otimizada? Essas questões serão bastante debatidas nos próximos meses.

Mas o que a indústria de O&G pode esperar em 2022? Não é fácil fazer previsões, principalmente num cenário com tantas incertezas, mas vou ressaltar alguns pontos que, a meu ver, estarão na agenda deste ano. Os preços de óleo e gás nos mercados internacional e nacional devem se manter elevados em 2022. Pelo lado da demanda, a maior liquidez financeira tende a manter aquecida a economia mundial. Pelo lado da oferta, não se espera superavit nos volumes produzidos, em função da redução dos investimentos das majors no segmento de O&G nos últimos anos, mesmo com este aumento previsto na produção da OPEP+. A OPEP+ deve seguir aumentando sua produção em cerca de 400 mil bbl/dia, a cada mês, até abril de 2022, conforme aprovado pelos países  membros em outubro de 2021. Até abril de 2022, prevê-se que a produção mundial de petróleo alcance os níveis de 2019, na fase da pré-pandemia. Um potencial incremento mais significativo na produção mundial de petróleo poderá vir dos Estados Unidos. Antes da pandemia, em 2019, o país chegou a produzir 12,3 milhões de bbl/dia, retirando dos países da OPEP+ parte do controle de preços dessa commodity.

No último ano e meio, os países da OPEP+ comandaram o show, mas os EUA estão de volta e isso pode contribuir para maior volatilidade nos preços em 2022. A projeção de produção de petróleo para os EUA é de 12 milhões de bbl/dia, em 2022, cerca de 800 milhões de bbl acima da produção de 2021. Interessante observar que a política do governo Biden não prevê estímulos para a produção de combustíveis fósseis. Pelo contrário, o projeto é intensificar o uso de fontes renováveis para cumprir as metas do Acordo de Paris, em termos de redução da emissão de gases de efeito estufa. Mas com preços na faixa de 75-85 US$/bbl, os produtores não precisam de estímulos para financiar seus projetos. Outro ponto a se considerar é que um preço de petróleo muito alto (na faixa de US$ 100/bbl) não deve ocorrer, a menos que haja uma turbulência geopolítica relevante. Uma potencial invasão da Rússia na Ucrânia poderia desestabilizar o mercado com impacto significativo nos preços. Preços muito altos de petróleo podem contribuir para a implantação mais acelerada de energia renováveis, gerando uma redução mais rápida na demanda por combustíveis fósseis.

E o fato é que ainda precisamos da indústria de O&G para garantir a segurança energética que o mundo precisará nesta fase de transição. Este contexto econômico-ambiental tende a elevar a volatilidade dos preços de óleo e gás para os próximos anos. É esperada uma redução na demanda de despacho das térmicas aqui no Brasil, em função do aumento das chuvas nestes primeiros meses do ano, com consequente recuperação do nível dos reservatórios. Outra consequência importante da recuperação dos reservatórios das hidrelétricas será uma redução na importação de GNL, em comparação ao volume importado em 2021. O GNL é, atualmente, o produto mais caro da cesta de gás natural do Brasil. Os outros dois produtos são o gás nacional, em que a maior parte provém dos campos do pré-sal e o gás importado da Bolívia. Além da provável redução na importação da GNL devido à redução do despacho térmico, podemos esperar um aumento na oferta comercial de gás nacional, em função da entrada em operação da Unidade de Processamento de Gás (UPGN) de Itaboraí, prevista para ocorrer ao longo de 2022. Quando a unidade estiver operando na sua capacidade total, a oferta de gás nacional poderá ser acrescida de até 21 milhões de m3 /dia. Associado ao aumento na oferta de gás natural, prevê-se também um aumento da produção doméstica de GLP, a partir da entrada em operação da UPGN de Itaboraí, com consequente redução do volume de importação do gás de cozinha.

Mas o Brasil continuará tendo um balanço importador para o GLP, pelo menos nos próximos três anos. O preço de importação do gás de cozinha também leva em consideração o custo do frete marítimo, que é bastante elevado para este tipo de produto. As atividades operacionais das médias e pequenas operadoras de petróleo, que adquiriram ativos da Petrobras nos últimos anos, devem aumentar ao longo do ano. O preço de petróleo na faixa de US$ 70-80/bbl certamente estimula mais investimentos na recuperação dos campos maduros. Isso deve contribuir para o aquecimento da economia, principalmente na região nordeste do país. Vamos ter o início, de fato, da abertura do mercado de gás no país, com a entrada de novos carregadores e ocupação de parte da capacidade ociosa nos gasodutos atuais. E será o primeiro ano em que um percentual relevante da capacidade de refino brasileiro será operado por uma empresa privada. A Acelen, nova gestora da Refinaria de Mataripe, está operando cerca de 15% da capacidade de refino nacional. O mercado de importação de combustíveis tende a ficar menos pulverizado. As grandes distribuidoras continuarão tendo maior robustez e flexibilidade para lidar com uma arbitragem pequena na curva de preços dos derivados no país. Podemos esperar também a conclusão de mais desinvestimentos da Petrobras, já assinados e aguardando apenas o fechamento. Acredito que os projetos ainda em fase inicial só deverão ser concluídos após o processo eleitoral. E, por fim, a recuperação da saúde financeira da Petrobras deve seguir seu rumo ao longo deste ano, conforme planejado. Podemos esperar resultados equivalentes aos dos grandes players internacionais, contribuindo para o aumento de investimentos da empresa, além de uma geração elevada de dividendos ao longo dos próximos trimestres.

Leia mais ou Valor_artigo_27_01_22.pdf (anexado)

https://valor.globo.com/opiniao/coluna/a-industria-de-oleo-e-gas-no-brasil-em-2022.ghtml

 

Fonte: Valor Econômico

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COMBUSTÍVEIS

Valor Online – 26/01/22

Governadores decidem estender por 60 dias congelamento do ICMS de combustíveis

Os governadores decidiram ampliar em 60 dias o congelamento do ICMS sobre os combustíveis. Ao todo, 21 chefes de Executivos estaduais firmaram uma nota em que defendem a prorrogação da medida, que está em vigor desde 1º de novembro e expira em 31 de janeiro.

Pressionados pela ideia do presidente Jair Bolsonaro de incluir o tributo estadual na PEC dos Combustíveis, – que abrirá a possibilidade de baixar tributos sobre ativos energéticos sem necessidade de compensação de receita – eles cobram do governo “a urgente necessidade de revisão da política de paridade internacional de preços dos combustíveis, que tem levado a frequentes reajustes, muito acima da inflação e do poder de compra da sociedade”.

“Diante do novo cenário que se descortina, com o fim da observação do consenso e a concomitante atualização da base de cálculo dos preços dos combustíveis, atualmente lastreada no valor internacional do barril de petróleo, consideram imprescindível a prorrogação do referido congelamento pelos próximos 60 dias, até que soluções estruturais para a estabilização dos preços desses insumos sejam estabelecidas”, diz o documento.

 

Fonte: Valor Online

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